Ex-frequentadores relembram histórias de um bar clássico da Vilinha, em Imperatriz
Luana Fernandes
Para aqueles que testemunharam os tempos áureos do Coco Verde, localizado no bairro Vilinha, em Imperatriz, Maranhão, que teve seu auge nas décadas de 1970 e 1980, o lugar representava muito mais do que um simples ponto de encontro. Era um símbolo de lembranças inesquecíveis, um espaço no qual amizades foram construídas, amores floresceram e momentos marcantes ficaram gravados na memória de quem viveu aquela época.
Ex-frequentadores contam histórias e momentos notáveis do tempo em que o espaço era um dos centros das atenções da cidade, reunindo pessoas de diferentes gerações em um ambiente vibrante e acolhedor. Elas tratam de encontros inesperados, festas inesquecíveis e risadas compartilhadas e fazem parte do legado do espaço, que ainda hoje desperta nostalgia em muitos que o conheceram.
“Aquele lugar aconteceu muita história… Nunca me esqueci do que vivi ali”, conta Maria Morais, de 71 anos, moradora da região que frequentava o Coco Verde em sua juventude. Segundo ela, cada canto do espaço guarda lembranças especiais, desde as conversas animadas até a cidade virar a noite em claro. Para muitos, o local não era apenas um endereço na cidade, mas um refúgio de boas recordações, um espaço onde as pessoas se encontravam para curtir a vida, criar laços e compartilhar experiências que jamais serão apagadas pelo tempo.
A área condizia com grande parte do quarteirão, entre a rua Alvorada e a rua São Luís. O local é descrito, segundo a memória dos moradores como bem arrumado e receptivo. Atualmente, por falta de coordenação e investimento, o ponto que antigamente era o Coco Verde está abandonado. Cercado por muros altos, está fechado há anos, totalmente desprovido de serviços de limpeza. Moradores da região que frequentavam o lugar contam que era um terreno aconchegante e bem-visto e, hoje, se tornou uma área invisível para quem passa, sendo totalmente ignorada.

Memórias
Dona Maria descreve a aparência do local: “Tinha aquelas casinhas de palha ao redor, com aquelas mesinhas e a gente sentava ali… Ah mas era bom demais! Aí também tinha aquela ‘salona’ de dança, era ali que a gente ia curtir a vida!”. Ela acrescenta também que o ambiente abrigava muitos coqueiros espalhados pelo terreno, junto com várias cabanas de praia. Havia um grande bar onde se vendia diversos tipos de bebidas enquanto o salão de dança ficava sempre lotado. Pessoas dançavam conforme as batidas das músicas estralavam em seus peitos. O Coco Verde abria espaço para vários estilos, que variavam entre forró e música eletrônicas, carimbós e hits internacionais.
“Falavam ‘Bora pro Coco Verde!’, e todo mundo já sabia onde era, na Vilinha!…Era festa por riba de festa, o dia todin”, relembra Dona Maria, entusiasmada com as lembranças. Ela às vezes, deixava seus filhos com parentes e ia curtir com os amigos a diversão do local quando era jovem. “Quando eu não morava aqui perto, eu já ouvia falar, era muito famoso! Mesmo sendo um pouco longe, eu ia mesmo assim”, complementa. Entre os vários shows de bandas e músicos famosos, ela destaca Pinduca e Raimundo Paulino. Algumas vezes havia apresentações de danças, como de quadrilhas juninas da região, em época de São João. Foram várias ocasiões que marcaram uma geração e que ainda geram quentes lembranças da época.
Outra moradora do bairro, que não quis se identificar, relata que o espaço ficava aberto todos os dias, em todos os turnos, menos nas segundas-feiras. “Curtia demais essa época. Teve vezes que saía de casa escondida e me dava mal depois…”, conta, entre risadas. Quando havia shows, era realmente o dia em que lotava de pessoas, no salão, no bar e nas cabanas.

Decadência
De acordo com fontes da região, o lugar foi criado por volta da década de 1960, pelo casal conhecido apenas pelo primeiro nome, Heloísa e Osvaldo. Na década de 1990, a frequência de consumidores reduziu bastante, por conta do aumento da criminalidade na região e o surgimento brigas de gangues entre os bairros próximos, o que tornou o lugar perigoso. Uma pequena parte do terreno foi vendida e o que sobrou da área foi se fechando aos poucos, a partir das construção de muros altos com um portão enorme. Chegou um momento que os proprietários decidiram encerrar as atividades, e assim passaram o terreno para o primogênito do casal.
O restante do terreno foi objeto de um acordo. Foi doado à Igreja Paróquia Sagrada Família, para ser utilizado como estacionamento, já que a instituição enfrentava uma grande necessidade desse tipo de espaço na época. Esta se tornou uma solução importante, atendendo à crescente demanda por vagas e proporcionando mais comodidade para aqueles que frequentavam o local.
A doação pareceu ser um ato de colaboração, com a promessa de que o terreno seria utilizado de forma prática e vantajosa para todos os envolvidos. Porém, com o passar do tempo, surgiram problemas não relacionados com o assunto. A Igreja, que inicialmente havia se beneficiado do espaço para estacionamento, se desvinculou dessa função, gerando incertezas sobre o destino do empreendimento.
Até hoje, a posse do terreno continua envolta em mistério. De acordo com relatos da secretaria da Paróquia Sagrada Família, não se sabe ao certo quem detém o direito sobre a área neste momento. Essa falta de definição sobre a propriedade legítima tem gerado um desconforto para alguns moradores da região, que se veem diante de uma espaço territorial sem qualquer tipo de manutenção ou planejamento para o futuro. A ausência de informações claras sobre o status legal do local só aumenta a sensação de incerteza e desinteresse por parte das autoridades responsáveis.

Moradores que residem nas proximidades do ponto reclamam do lixo que tem sido constantemente descartado no terreno por parte da população, às vezes até animais mortos. Esse acúmulo de resíduos não apenas agrava o aspecto visual do local, mas também tem gerado sérios problemas de saúde pública. A presença de sujeira atrai moscas e outros insetos, criando um ambiente insalubre e desconfortável para quem mora nas redondezas.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.