Entrevista : Evellyn Lima
Fotos: arquivo pessoal do entrevistado
O comerciante Joseph Veloso, 26, casado e pai de duas filhas, também é um apaixonado por cachorros, especialmente por Pit Bulls. Amante da raça desde cedo, ele teve seu primeiro Pit Bull aos 18 anos. Mas para ele, ter um Pit Bull não foi suficiente. Ele também gosta da raça Bull Terrier, American Bully e Staffordshire. Hoje ele é dono de Toretto e Mary Jane, ambos da raça Staffordshire, e de Luna, uma Bull Terrier. E não para por aí. Ele fundou o Clube do Pit Bull Açailândia – MA há cerca de dois anos e meio. No Clube, as quatro raças citadas acima são bem-vindas, pois, o termo “Pit Bull”, acabou se tornando um termo genérico para a as quatro raças na região. Hoje, cerca de 130 pessoas amantes das raças fazem parte do clube.
Segundo Veloso, o clube tem feito ativismo pacífico para combater o preconceito contra esses animais. Os integrantes do clube vão até a praça com os cachorros, demonstrando que eles são tranquilos, brincalhões, que podem conviver harmoniosamente com adultos, crianças e idosos, assim como com cachorros de sua própria raça ou de outras. Tudo isso para que as pessoas vejam com seus próprios olhos que eles são animais dóceis e podem ser amáveis assim como cachorros de outras raças. Quando o clube se reúne na praça, os integrantes buscam sempre tirar as dúvidas da população sobre os cães. Essas reuniões na praça ocorrem semanalmente, no domingo, e os eventos maiores, com pessoas de cidades vizinhas, geralmente ocorrem de três em três meses.
Mas o clube também fez eventos solidários. No último Encontro de Pit Bulls feito pelo clube, o integrante do clube que participasse deveria levar dois quilos de alimento não perecível. Os alimentos foram doados para a Menina dos Olhos de Deus, uma casa de acolhimento de crianças. O clube recentemente ainda participou da 1ª Cãominhada, evento beneficente idealizado principalmente por petshops da cidade, onde cada participante deveria levar 20 reais e mais dois quilos de alimentos não perecíveis, e tudo isso também foi doado para a caridade. Veloso conta ainda que no decorrer do amadurecimento do clube, eles poderão fazer palestra de adestramento e workshops.
Ele aponta que desde a criação do clube, o preconceito em Açailândia sobre essas raças de cachorro se reduziu muito, e até os animais acabaram sendo mais valorizados. Se antes as pessoas se afastavam quando viam um dono caminhando com seu Pit Bull numa praça, hoje os desconhecidos já sentem coragem de estarem próximos, e muitos até pedem para fazer carinho ou brincar com o animal, esclarece Veloso.
Nesta entrevista, Joseph Veloso responde algumas questões sobre o cuidado com Pit Bulls, convivência social com esses animais, preconceitos, comparações com outras raças, perfis de criadores em Açailândia, entre outras.
Imperatriz Notícias: Na sua percepção, qual a diferença do Pit Bull para as outras raças que você criou?
Joseph Veloso: Eu gosto de cães que brinquem. Que sejam ativos. Eu gosto de cães que mostrem imponência. Eu criei Labrador, é um cão já ativo demais. E é um cão carente. É o cachorro que você é obrigado a pegar nele toda vez que passa perto dele. E o Pit Bull, não tem muito disso. Ele é brincalhão, bem ativo, só que ele te entende. Ele sabe o momento de brincar, sabe o momento de ficar na dele. Tem o Poodle, tem o Labrador, tem essas raças que são muito carentes, que mesmo você brincando com ele o dia inteiro ele vai querer todo o tempo ficar brincando com você, sem parar. E o Pit Bull não tem disso. Ele é mais independente, um cão que precisa de ti pra fazer exercício, pra brincar, mas ele não precisa de ti 24 horas dando atenção. E assim, tem a questão do físico, do visual. É hipocrisia não dizer, a aparência do Pit Bull me agrada muito.
IN: Quais os principais cuidados ao ter um Pit Bull?
JV: O Pit Bull é um cão bastante forte e muito enérgico. Sempre que você for adquirir um Pit Bull, precisa ter tempo pra cuidar dele. Pessoas que trabalham muito, que estudam muito, que não têm tempo pra brincar e pra exercitar o cachorro, não é recomendável. Tem cães que não precisam disso. O Pit Bull precisa de exercício diário. Outra coisa, Pit Bull tem muito problema de pele. Acho que metade dos Pit Bulls que eu conheço, têm problema de pele. Pessoas que acham que porque têm o quintal grande podem ter Pit Bull, não, têm muitos cães que não podem deitar em areia, que não podem deitar em lugares úmidos, grama… e precisam tomar vários remédios pra tentar prevenir esse problema de pele deles. Então esse é um problema que quem for pensar em criar essa raça, já pode ficar sabendo que provavelmente terá algum tipo de dermatite, infecções na pele. Fora isso aí, é um cão comum, não precisa de tantos cuidados específicos.
IN: O Pit Bull geralmente pode ser criado junto com outras raças?
JV: Pode, pode. Algumas vezes ocorre de os cães não se darem bem um com o outro. Já ocorreu comigo, ter que separar os cães por conta de território. São cães fortes, são cães que se chegarem a brigar, podem ter problemas sérios. Mas, é o seguinte: meus cães hoje convivem bem, mesmo quando são de outra raça. A Labrador que eu tive foi doação, ela chegou adulta. Eu tive problemas dela com eles, mas eles nunca chegaram a atacar, nunca chegaram a morder. Qualquer raça que for na minha casa… esses dias tive que pegar um Husky Siberiano de um colega meu, que passou uma semana lá em casa, um macho adulto. Nos primeiros dias ficaram meio assim estranhos, mas depois ficaram todos juntos e de boa. Não tem problema.
IN: Interessante que você contou o caso que o problema foi com a Labrador, que tem a fama de ser mais dócil.
JV: Isso. Eu recebi essa Labrador de doação, já era uma adulta de 5 anos, e tive que devolver por temer acidentes. Porque ela chegou a morder uma pessoa lá em casa, sorte que pegou só na calça e eu consegui intervir na hora. Uma sobrinha minha chegou na minha casa, ela (a Labrador) quis atacar também, uma criança de 3 anos. E ela de vez em quando queria brigar com meus Pit Bulls. Sorte que nunca teve nada pior porque eles não revidavam a agressividade dela. Mas pra evitar coisas futuras, como eu não a criei desde pequena e não tive como ensinar, como educar do jeito que costumo fazer com meus cães, o rapaz que me doou ela a aceitou de volta.
IN: Isso mostra que os estereótipos que a gente tem não condizem com a realidade, não é?
JV: É, porque assim, se assiste na televisão só ataque de Pit Bull. Muitas vezes nem Pit Bull são e sim mestiços. Sempre se vê em filmes, que Labrador é o cão da família, o cão que adora todo mundo… e na minha experiência como criador de Labrador, e pelo que eu vi também no grupo que eu participava, que tinha umas 40 pessoas criadoras de Labrador, isso não é verdade. São cães que servem para guarda, são cães agressivos, não dizendo que todo Labrador é agressivo, lógico que tem uns que são tranquilos, mas a maioria deles são bem hiperativos e não se dão bem com outros cães de modo geral. Eu tive esse problema na minha casa. A Labrador não se adaptou aos meus cães, ao meu ambiente, e por isso decidi devolver. Eu fiz a minha parte, tentei, cuidei dela cerca de oito meses a um ano, ela foi bem cuidada, bem tratada, só que pra evitar acidentes eu não pude ficar mais com ela. E com Pit Bull sempre foi tranquilo, nunca tive nem uma sombra de medo, alguma coisa assim de acontecer algum acidente com Pit Bull meu dentro da minha casa. Se a pessoa estranha chegar, lógico que ele vai latir e poderá morder porque ele é cão de guarda, só que as minhas filhas convivem com ele dentro do canil e eu não tive medo nenhum. Já com a Labrador eu tinha medo de uma filha minha estar junto com ela e ela morder por nada.
IN: O preconceito contra Pit Bulls em Açailândia diminuiu?
JV: Rapaz, é o seguinte, gente falar assim de dados, ter uma pesquisa feita, é complicado, mas o que eu percebi, do tempo que eu crio Pit Bull até hoje, há muito preconceito. Tem pessoas que são mais idosas, às vezes, pessoas que não têm muito conhecimento, e tem o preconceito, aquela barreira. Mas eu creio que diminuiu muito. Quando eu passeava no meu bairro antigamente, ouvia muita crítica, chamavam meu cachorro de assassino, um cachorro que nunca fez nada pra ninguém. Hoje as pessoas já chegam, já passam a mão, já perguntam se podem brincar, coisas desse tipo. Dizer com estatísticas eu não sei, mas o que eu percebi, na minha convivência em sociedade com meus cães, que diminuiu. É mais confortável sair com eles na rua.
IN: Qual o perfil de quem cria Pit Bull em Açailândia?
JV: Geralmente o pessoal do clube mesmo tem entre 18 e 35 anos. Pessoas acima de 35 anos quase não têm, que eu conheça pelo menos, não. No nosso clube, são maioria jovens homens. Acho que nem dez por cento é mulher. Pessoas que praticam gostam muito de Pit Bull por conta de poder praticar os esportes com o cachorro. Esse é mais ou menos o perfil das pessoas que criam essa raça, de modo geral. Os caras da academia de jiu-jítsu acho que todos eles têm Pit Bull.
IN: Quais os benefícios um dono de Pit Bull tem ao entrar no Clube do Pitt Bull?
JV: Nos últimos meses, tem entrado bastante membros novos. Tem bastante gente com filhote. Então, pessoas que nunca criaram a raça, ou nunca criaram cães de qualquer espécie, quando entram no grupo, eles têm total apoio dos membros. Eu mesmo já dei muita dica pro pessoal. “Ah, meu cachorro tá com as fezes moles, está com vermes, tá chorando muito lá fora…” Eu falo, olha, pega uma camisa sua, que você usou, pra ele deitar em cima, com o seu cheiro ele vai se acalmar mais. Então a gente dá muita dica pra quem tá entrando agora, pra quem tem filhote novo, as pessoas ajudam muito. Já aconteceu também de alguém estar com o cachorro doente, não ter como custear o tratamento, um ou outro membro vai lá e ajuda. Então tudo que a gente puder fazer pelo outro amigo, pelo membro do grupo, que estiver ao nosso alcance, a gente faz.Ou então “ah, vou viajar, preciso que alguém fique com meu cachorro”, ou então “vou viajar e preciso que alguém vá lá em casa botar comida pro meu cachorro”, eu já fiz isso várias vezes, alguns outros membros também. Então assim, a gente tenta fazer o máximo possível com informações ou com ajuda. Como se fosse uma família. Não todos os membros, porque a gente não pode falar assim de 130 pessoas, mas bastante gente tem a vontade de ajudar o próximo, a vontade de ajudar a raça, então tem esses benefícios no clube. Tem uns que a gente tem amizade bem próxima, chama até de família mesmo.