Encarando o desconhecido: empreender fora do seu país de origem

Senegalês Bili Boiam comercializa sapatos

Texto: João Paulo Camelo

A procura por melhores condições de vida e estabilidade financeira são os principais motivos que levam milhares de estrangeiros a deixarem seu país de origem. Muitos deles escolhem o Brasil como destino. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em 2011, foram concedidos 70.524 vistos para estrangeiros trabalharem em nosso país. Desses, 1.020 vieram destinados a abrir o próprio negócio.

Em Imperatriz, em meio à agitação do centro comercial, é possível encontrar estrangeiros conquistando o seu espaço. O senegalês Bili Boiam, de 23 anos, chegou ao Brasil há mais de um ano. Inicialmente, conta que deixou a família na cidade de Dakar, capital do Senegal, em busca de emprego e qualidade de vida. Ao chegar aqui, a falta de oportunidades no mercado de trabalho fez com que ele desse início ao próprio negócio. “Eu não tinha outra coisa para fazer. Não conseguia emprego”, relatou.

Antes de deixar o seu país de origem, Boiam trabalhava como taxista. Atualmente, ele comercializa sapatos de diversas marcas. O diferencial é que o trabalho dele é feito de maneira itinerante, o que permite que a venda da mercadoria seja realizada em pontos diferentes da cidade ou em municípios vizinhos.  A intenção é fugir dos padrões já existentes nas lojas.

Ele conta que veio para Imperatriz por indicação de um amigo, que garantiu que a cidade é um ótimo destino para quem deseja vender algo. Segundo Bili, o amigo estava certo. Mas, não deixa de reclamar que nos últimos dias as coisas não estão tão boas assim. “Aqui é muito bom para venda. Nos últimos dias mais ou menos. Tem uns que compram, outros só olham e bagunçam”, ressaltou, com um sorriso no rosto.

Outro setor que atrai estrangeiros na cidade é o alimentício. Muitos deles escolhem essa área para empreender em Imperatriz. Atualmente, em uma volta pela cidade é possível identificar vários estabelecimentos que são administrados por eles.

O sírio Nidal Boutros, de 30 anos, chegou em Imperatriz há três anos. No início, ele e o irmão eram proprietários de um armazém no bairro Mercadinho. Com o passar do tempo, surgiu a oportunidade de ter uma pizzaria e investir em um segmento até então desconhecido para eles. “Não tava pizzaria em minha cabeça não. Não ia mexer com essas coisas de comida não”.

Boutros acrescenta que o início da sua experiência com pizzaria não foi fácil. A situação não era uma das melhores, mas garante que, aos poucos, as coisas estão dando certo. “Estava meio quebrada [se referindo à situação financeira da pizzaria], mas agora tá dando certo”.

Ele e o irmão, atentos ao gosto do público, estão com um novo negócio na cidade. Ainda no mesmo segmento, eles decidiram abrir um bar. A expectativa é de bons resultados, pois segundo Nidal é um ramo que está em crescimento na região. “Essa é a época para ganhar dinheiro só com bebida e comida. Bebida é mais”, ressaltou.

O sírio garantiu que não possui o desejo de abrir um estabelecimento para comercializar comidas típicas do seu país de origem. Ele acredita que não teria aceitação do público em relação ao sabor, e pelo fato de não existirem na região alguns ingredientes necessários para preparar alguns pratos.

Em outros casos, há estrangeiros que vêm para a cidade destinados a abrir o próprio negócio, como aconteceu com o iraniano Kurosh Darakhshan, de 45 anos, também conhecido como “Iran”. Ele conta que já planejava abrir uma esfirraria na cidade. “Eu vim para fazer isso”.

Darakhshan ressalta que quando chegou em Imperatriz já existiam outras empresas que ofereciam este produto. Mas isso não foi motivo para ele desistisse dos planos que tinha. Os principais recursos que ele utilizou para se destacar foram a qualidade e o preço. “Começamos a vender barato, mas a mesma qualidade e o mesmo tempero trazemos aqui”, contou.

Ainda segundo o empresário, não foi necessário divulgar o produto por meio de propaganda. O público foi conquistado pelo sabor das esfirras, que foi o responsável pela divulgação. “A nossa propaganda foi isso, o máximo de pessoas experimentar.”

Imperatriz, de forma acolhedora, abraçou estrangeiros de várias partes do mundo. Aqui, eles encontram a possibilidade de trabalhar, empreender e até atingir a tão sonhada qualidade de vida. A cidade, que é conhecida nacionalmente como portal da Amazônia, também pode ser chamada de portal dos sonhos e recomeços.