“A transição capilar não é moda, não é um estilo, é algo muito mais profundo”: Entrevista com a avaliadora do Espaço Viva Cacheada, Yanca Karolinny

Gustavo Viana e Maria Eduarda

 

Yanca Karolinny Sousa Araújo, imperatrizense de 22 anos, divide o seu tempo entre ser proprietária de uma loja virtual, especializada em óculos e acessórios, o curso superior de Enfermagem, e a função de recepcionista, avaliadora e orientadora no Espaço Viva Cacheada, salão de cabelereiro pioneiro em cuidados com cabelo crespo e cacheado.

Yanca Karolinny usa do seu conhecimento em cabelos para orientar homens e mulheres de qualquer idade no processo de transição capilar. A transição capilar é um procedimento no qual se abandona qualquer tipo de química no cabelo, como progressivas, relaxamento, alisamento, para dar lugar aos seus cabelos naturais, independentemente da curvatura.

Nos últimos anos, com o aumento de conteúdo feito nas redes sociais por pessoas que já passaram pelo processo, que buscam inspirar outras pessoas a assumirem seu cabelo natural, a busca por salões especializados se tornou ainda mais importante, já que o processo é longo, influencia totalmente na auto estima, e necessita de cuidados específicos para cada tipo de cabelo.

Segundo o Google Trends, o Maranhão é o quarto estado brasileiro que mais pesquisa sobre transição capilar. Pesquisas como “quanto tempo demora uma transição capilar” ou “cronograma para transição capilar”, e até fotos de famosos que passaram pelo processo, são diariamente pesquisadas na plataforma.

Na entrevista concedida por Yanka, ela conta como foi o seu processo de transição, fala sobre o dia a dia do espaço, e dá dicas para quem quer começar o processo de transição capilar.

 

Imperatriz Notícias: Você já passou pelo processo de transição? Como foi?

Yanca Karolinny Sousa Araújo – Sim, a última vez que eu fiz química no meu cabelo foi dois meses antes do meu aniversário de 15 anos, em 2014. Eu fazia um processo chamado relaxamento, meu cabelo não ficava totalmente liso, era feito com a minha tia, mas ela teve que se mudar para outra cidade e eu não confiava em ninguém para mexer no meu cabelo por medo de danificar. Então acabou sendo um processo de transição sem saber, pois não tinha conhecimento sobre o que era isso na época

I.N: Depois do processo, melhorou sua autoestima?

Y.K.S.A –O meu cabelo não era totalmente liso e isso é muito importante, pois a maior dificuldade na transição é o crescimento do cabelo. São essas duas texturas explicitas, a raiz alta e o cabelo liso e isso é um dos maiores motivos que as pessoas desistem da transição capilar. Mas como meu cabelo dava para perceber essa diferença, mas não era tão alarmante então foi bem mais fácil, e eu que fiz meu BC sem saber.

O BC é o que a gente chama de Big Chop, grande corte, específico para quem está passando pela transição, esse corte tira toda a parte lisa e deixa o cabelo só com a parte natural.

Melhorou, mas é complicado devido à idade, já faz tempo e eu não lembro de tudo. Mas eu decidi que não queria usar mais nada diferente no meu cabelo, queria usar ele natural. Hoje eu percebo como melhorou minha autoestima. É você saber mexer no seu próprio cabelo e entender como ele funciona é algo muito particular tanto da mulher como do homem dependendo da sua relação com o seu cabelo.

I.N: E sobre as pessoas que procuram o espaço, sabe dizer uma média de idade? Se são mais jovens?

Y.K.S.A – Hoje atendemos todas as idades possíveis, crianças de 3 anos até senhoras de 70 anos, homem, mulher, pessoas de fora da cidade, pessoas que trabalham fora e no tempo livre passar no salão, atendemos gente principalmente dessas cidades vizinhas como Açailândia, Governador Edson Lobão, João Lisboa e entre outras.

“algumas pessoas acham que passar pela transição é algum tipo de procedimento, você vai no salão passa por um procedimento e pronto seu cabelo volta a ficar cacheado natural. E não é assim”

I.N: Quantas clientes vocês atendem em média por dia?

Y.K.S.A –Depende muito do dia, da agitação. Sábado e sexta são os dias que atendemos, fins de semanas, feriados, em média de 10 a 8 pessoas.

I.N: Quais as perguntas mais frequentes feitas pelos clientes?

Y.K.S.A –Depende, mas não é nem o que eles perguntam, digamos assim, é mais o que as pessoas querem. Sempre procuram por produtos que aumentem o crescimento do cabelo para assim diminuir o tempo da transição e algumas pessoas acham que passar pela transição é algum tipo de procedimento, você vai no salão passa por um procedimento e pronto seu cabelo volta a ficar cacheado natural.  E não é assim. Por exemplo, há pessoas que acham que trabalhamos com a permanente afro, mas o nosso salão não trabalha com química e nem recomendamos. A maioria das perguntas são essas, e principalmente sobre o crescimento do cabelo, que é uma coisa relativa de pessoa para pessoa e essas propagandas de crescimento em comerciais ou em rótulos de produtos é mais marketing do que crescimento de verdade.

I.N: Em geral, qual o Feedback que as pessoas que fizeram transição com a ajuda do espaço dão?

Y.K.S.A –Os melhores feedbacks possíveis. Que não se arrependeriam, se perguntam por que demoraram tanto e se sentem libertas.

I.N: Tem algum caso específico de alguma cliente que foi mais desafiador, ou que te deixou mais feliz com o resultado?

Y.K.S.A –Tiveram vários, mas tem alguns que me deixaram mais emocionada, principalmente as que choram no dia de fazer o BC. Teve uma menina em especifico que no dia foi a família dela inteira com ela, e ela estava muito insegura, ela não queria cortar o cabelo e tinha passado por um corte químico, então fazia 7 meses que ela não passava nada de química no cabelo, ou seja, ela já estava passando pela transição e é um momento muito delicado, então conversamos muito, ela chorou bastante e o pai dela foi muito importante na avaliação pois ele incentivou ela do começo ao fim. Hoje ela está mais linda e com o cabelo saudável.

I.N: Você indicaria a transição capilar para quem está a fim de mudar o estilo do cabelo?

Y.K.S.A –Não indicaria, pois a transição capilar não é moda. Não é um estilo, é um muito mais profundo do que simplesmente mudar de estilo. Pelo menos para muitas mulheres é. Muitas mulheres sofrem com isso, se sentem mal, então é bem complicado. Existem sim pessoas que tem o cabelo cacheado, crespo ou ondulado que querem alisar e sem problemas com isso, mas isso depende muita da genética de pessoa para pessoa. Tem pessoas desenvolvem problemas por causa da química do alisamento de diversas formas, tantos problemas de dermatite, como problemas de autoestima, porque é uma química, ela pode agredir o cabelo de em várias camadas, etapas e jeitos diferentes. E não, eu não indico para quem quer mudar de estilo e sim para quem quer aceitar seu cabelo natural, não importando se é um processo do liso para o cacho, do liso para o ondulado, do liso para o crespo, não tem nada a ver com isso e principalmente no lugar onde eu trabalho. Buscamos fazer nossas clientes aceitar seu cabelo natural, não é a ditadura do cabelo. É aprender cuidar do seu cabelo da melhor forma possível de maneira natural pois isso não é tão difundido na mídia.

“Existem sim pessoas que tem o cabelo cacheado, crespo ou ondulado que querem alisar e sem problemas com isso, mas isso depende muita da genética de pessoa para pessoa. Tem pessoas desenvolvem problemas por causa da química do alisamento de diversas formas”

I.N: E quais as dicas que você daria para quem quer começar a fazer?

Y.K.S.A –Não é do dia para a noite, tem que ter muita paciência, muita constância e se você não estiver disposta a isso nem tente. É um processo longo então você precisa está pronta para começar, se você não estiver, ok, continue alisando, continua pensando, pesquise sobre, procure inspiração, ouça história de pessoas que já passaram por isso ou que estejam passando, porque dói muito passar pela transição e ter um episódio de autoestima baixa, de tristeza, ansiedade. É muito mais complicado quando isso acontece.