“A presença física e o contato escolar são muito importantes para o desenvolvimento social”: Entrevista com a psicopedagoga Samara Macedo

Repórteres: Elda Carvalho e Nayra Moraes

Fotos: Acervo pessoal

As aulas a distância foram implementadas no início da pandemia e desde então foram surgindo muitas dificuldades, tanto para os alunos como professores. Com o resultado do isolamento social as crianças mudaram suas rotinas completamente, e essa mudança trouxe um uso excessivo dos dispositivos eletrônicos que são indispensáveis para as aulas online, trazendo problemas como falta de concentração, sedentarismo e gerando obesidade e outros distúrbios como ansiedade e depressão.

Dentro deste mesmo cenário temos crianças que enfrentam dificuldades na aprendizagem, pois é nessa fase que elas aprendem por meio das brincadeiras, e justamente por esse motivo as aulas precisam ser dinâmicas e criativas. Crianças de até seis anos possuem uma atenção mínima de 30 min, o que faz ser necessário o uso de conteúdos que exploram a imaginação e gere movimentação do corpo, aproveitando ao máximo esse tempo para desenvolver suas habilidades cognitivas e despertando a criatividade delas.

Segundo a Pedagoga Samara Macedo da Silva Siqueira, 35 anos, formada na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), com especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional na (Uninter), as famílias são importantes para um melhor desenvolvimento das crianças na educação infantil, sem o apoio da família o aprendizado pode sofrer lacunas e gerar inclusive problemas no futuro. Entre essas dificuldades estão o envolvimento das famílias durante a ministração das aulas e um suporte para realização das atividades.

Samara já trabalhou três anos como professora da educação infantil e cinco anos como assessora pedagógica na Secretaria Municipal de Educação (SEMED), e hoje atua como Psicopedagoga na Clínica Llumina. Ela afirma que várias escolas já declararam estar com dificuldades na alfabetização dessas crianças e que se tudo não voltar as conformidades teremos muitos outros problemas pela frente.

Em entrevista ao Imperatriz Notícias, Samara comenta sobre a importância das famílias nas aulas online, menciona os pontos positivos e negativos que o ensino emergencial traz e ainda pode trazer futuramente, e fala sobre a importância da socialização e as consequências que a falta disso pode causar.

Imperatriz Notícia – A pandemia mudou vários cenários, inclusive o da educação infantil, que é o primeiro contato da criança com a escola. Qual pode ser um ponto negativo das aulas serem restritas ao uso da internet, celulares ou computadores?

Samara Macedo da Silva Siqueira – Um fato negativo que posso citar é o fato das crianças que já ficavam muito tempo expostos as telas, pois era algo comum do cotidiano os pais usarem celulares ou computadores para meios de entretenimento dos filhos. Com a pandemia essas crianças começaram a usar também o celular como forma de ferramenta pedagógica, fazendo assim com que esse tempo de uso aumente e cause distúrbios no sono e gere irritabilidade.

I.N – Para evitar a disseminação do vírus foram adotadas medidas que não prejudicasse o acesso à educação, que é direito de toda criança. Quais afirmações positivas podem ser declaradas em relação a esse novo formato de aula a distância?

S.M.S.S – Um ponto positivo foi que as crianças ficaram em casa se protegendo do vírus, pois é ingênuo acreditar que crianças irão seguir determinadas normas como orienta a OMS. Um segundo ponto foi o estreitamento de laços entre pais e filhos, que trouxe também para as famílias a importância do momento de brincadeiras em casa.

I.N – A garantia do direito ao acesso à educação não é uma afirmação de que essas crianças irão ter um aproveitamento das aulas e conteúdos propostos. Quais suas considerações a respeito da eficácia das aulas online na educação básica infantil?

S.M.S.S – A educação infantil necessita de atividades de contato físico porque trabalha o corpo e trabalha a questão das regras também. Só é possível exercitar isso de forma eficaz se tivermos um adulto educador, que pode ser o pai, a mãe, tios e avós que possam fazer esse acompanhamento com a criança nas atividades direcionadas que são propostas pelos professores, sem esse adulto não é possível ter grandes porcentagens de aproveitamento e o mínimo que essas aulas irão proporcionar para os alunos será preencher um momento ocioso.

I.N – A família sempre foi importante para o desenvolvimento nos estudos, desde o acompanhamento em casa como o contato com a escola. Na sua opinião, uma criança que é devidamente amparada pela família nas aulas online pode ter um desenvolvimento maior em relação a outras crianças que não possuem este devido acolhimento familiar?

S.M.S.S – Com certeza, a criança que tem uma família acolhedora e que ajuda na realização das atividades vai ter um aproveitamento 100% em comparação com famílias que não fazem esse tipo de trabalho. A alfabetização é um processo, não podemos dizer que em um ano a criança irá aprender a ler, mas nas escolas particulares é uma exigência que isso ocorra, que até o primeiro ano a criança aprenda a ler. Em relatos de algumas famílias seus filhos não conseguiram ser alfabetizados nesse prazo.

I.N – Nessa fase inicial dos estudos o desenvolvimento por meio de brincadeiras e jogos é uma estratégia orientada pela LDB 9394/96(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Como proceder nas aulas online para que essa forma de ensino continue colaborando com o aprendizado das crianças?

S.M.S.S – O brincar na infância é um dos eixos norteadores da educação infantil, é através do brincar que a criança aprende, mas existem muitas famílias que enfrentam essa dificuldade. Na escola elas eram estimuladas a se mover, brincando e aprendendo, mas em casa os pais costumam entregar o celular como forma de distração. Por isso as atividades direcionadas e a colaboração do adulto educador é tão importante, pois é nessa fase que elas irão desenvolver sua coordenação motora e poderão ter evoluções significativas no desenvolvimento escolar.

I.N – A socialização também faz parte do ensino, onde a criança aprende a compartilhar, fazer amigos e viver na sociedade. Quais consequências emocionais e ou psicológicas podem surgir por conta dessa falta de convivência no ambiente escolar?

S.M.S.S – A presença física e o contato escolar são muito importantes para o desenvolvimento social, elas precisam dessa convivência umas com as outras pois aprendem a negociar os pontos de vista, já que é uma linguagem de igual para igual, aprendem também a respeitar e apresentar argumentos. Podem surgir problemas psicológicos como transtorno de ansiedade e resultar na obesidade, e caso não tratado pode evoluir para uma depressão.

“Com certeza, a criança que tem uma família acolhedora e que ajuda na realização das atividades vai ter um aproveitamento 100% em comparação com famílias que não fazem esse tipo de trabalho”

I.N – Após um ano de pandemia é possível dizer quais os prejuízos que a falta do ensino presencial pode trazer ao desenvolvimento infantil em longo prazo?

S.M.S.S – Com essa falta de aulas presenciais pode haver uma queima de etapas, gerando futuramente vários problemas, desde psicológicos, emocionais, na socialização e até no aprendizado. Cada ano é importante para o desenvolvimento de uma criança, e em longo prazo podemos ter adultos que não vão saber fazer escolhas, não vão saber respeitar diferenças e nem regras.

I.N – Em um tempo futuro onde as aulas presencias poderão ser retomadas normalmente, na sua opinião será necessário a realização de um plano com uso de estratégias para reforçar aprendizados obtidos de forma online?

S.M.S.S – Sim, as escolas precisarão elaborar um plano para tentar preencher algumas lacunas que ficarão por conta das aulas online, já fomos procurados por algumas escolas sobre a dificuldade das crianças na alfabetização. Não sabemos quando será esse retorno, mas dependendo do tempo, teremos muitos prejuízos que talvez não conseguiremos repor.