“A cidade sem vias de acesso e não há nenhum planejamento para regular esse cenário”, analisa o professor Cesar Figueiredo sobre a mobilidade urbana em Imperatriz

Por Aylla Yohana e Vanessa Carvalho

Para o pesquisador Cesar Figueiredo, professor de Ciência Política no Curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal de Tocantins (UFT), a cidade de Imperatriz-MA não proporciona conforto nem para motoristas, nem pedestres.

Além disso, o professor comenta sobre a intensificação de obras em praças e espaços direcionados à população no período eleitoral. Conforme a análise, essa é uma maneira comum de atrair atenção para a gestão de candidatos que pretendem se reeleger, com objetivos de atrair votos. Na entrevista que segue, Cesar Figueiredo também aborda o crescimento da cidade, centrado em algumas atividades econômicas, como comércio e serviços.

Como o senhor avalia a mobilidade urbana de Imperatriz? Quais os grupos com a visibilidade e segmentos invisíveis nos espaços públicos?

Cesar Figueiredo – Consideramos mobilidade urbana todas as formas de transportes, tanto de veículos quanto de pedestre, assim sendo e nesse sentido, a cidade de Imperatriz está muito aquém em infraestrutura de transporte, sobretudo, pela falta de consciência pública visando a satisfação da população de maneira em geral.  A cidade não é olhada e pensada com vista a propiciar conforto à população, tão pouco para quem utiliza veículos para o seu transporte. Se fôssemos fazer um gradiente, obviamente, tornar-se mais contemplado com a mobilidade urbana quem possui veículos, de qualquer modo não possui lócus espacial para estacionar, quando chega ao centro e tampouco de trafegar em horários de picos: a cidade está estrangulada, sem vias de acesso e não há nenhum planejamento para regular esse cenário.

Como avalia as ações da gestão do prefeito Assis Ramos, reeleito recentemente, que priorizou também obras em praças públicas, espaços tradicionais de circulação de certas camadas sociais?

Cesar Figueiredo: As melhorias em vias públicas e praças são sempre muito bem vindas, desde que não sejam feitas apenas em período de campanha com vista a conquistar votos. As melhorias devem ser constantes e perenes, ou seja, não com vistas à maquiagem eleitoral. Pintar, colocar placas em obras e demais apetrechos em período eleitoral é crime. Em síntese, as obras devem possuir regularidades e, necessariamente, ir ao encontro das demandas de todas as camadas e segmentos da cidade, independente do período do ano e do calendário eleitoral. De acordo com a minha ênfase, não estou focando o atual prefeito eleito, mas todos os prefeitos e gestores (passado, presente e futuro) a fim de pensarem as obras como uma política pública permanente.

Um dos problemas da cidade é o calçamento irregular, que prejudica idosos, cadeirantes e outros segmentos. Qual o legado de uma cidade que segrega a circulação de moradores?

Cesar Figueiredo – A cidade não foi planejada para ter calçamento e podemos ver isso em todos os bairros de Imperatriz, com exceção dos bairros/condomínios fechados e planejados nas últimas décadas. Isso causa um impacto extremamente gravoso à cidade, pois quase toda a cidade se apresenta sem mobilidade e sem conforto ambiental. A cidade não é feita para cadeirantes e demais deficientes físicos que precisam de apoio para a sua locomoção, igualmente, não é feita para quem tem plenas capacidades físicas, vista a irregularidade das calçadas, das ruas, da falta de sinalização, da falta de segurança, como contrapartida, a malha urbana só não é um caos porque os próprios moradores tentam arrumar as vias, na medida do possível: atribuição que deveria ser feita pelos gestores públicos. Podemos ver os riscos que os moradores e a população sofrem na prática ao caminhar pelas ruas, sobretudo nos constantes acidentes vitimando a todos.

Por que as práticas esportivas ainda têm pouco espaço nas ruas da cidade, especialmente nos bairros mais distantes do Centro?

Cesar Figueiredo: Os bairros mais distantes não estão organizados para práticas desportivas, visto que somente locais do centro espacial dispõem de infraestrutura para esses recursos. Portanto, existe uma centralidade desportiva e um distanciamento desse segmento para toda a cidade e, consequentemente, da população. Os bairros distantes, onde via de regra estão os segmentos mais carentes, ficam aquém de qualquer prática desportiva e lazer, logo, podemos pensar que a cidade não foi feita para todos e apenas para grupos exclusivos que podem chegar ao centro para as suas práticas. Nesse cenário, podemos e devemos pensar que as práticas desportivas visam apenas uma única classe ou segmentos sociais, nesta perspectiva, infelizmente, a cidade fica discricionária e fragmentada: não é uma cidade que acolhe para os esportes, mas uma cidade que afasta.

A cidade tem um histórico de movimentação de seu espaço urbano a partir da vinda de alguns grupos, ligados a projetos econômicos. Um exemplo foi a Suzano. Que outras alternativas poderiam ser adotadas sem seguirem apenas a lógica do interesse econômico?

Cesar Figueiredo:  A lógica econômica não deve prevalecer sobre a lógica da urbanidade, melhor dito, o urbano não deve ser refém do capital. Isso pode ser utópico, contudo, a cidade deve ser pensada para todos e de maneira plural, logo, não visando apenas o benefício de determinados segmentos. Conforme verificamos, Imperatriz sofre os reflexos de fluxos econômicos desde a sua história primeva e, por conseguinte, todos a sua movimentação vai ao encontro desse fluxo econômico e histórico: rio Tocantins, BR Belém-Brasília e, atualmente, talvez, podemos pensar na Estrada do Arroz com uma via escoamento da produção. Contudo, reitero, que o fluxo econômico tem o seu mérito, mas a cidade deve ser pensada de maneira mais ampla, visto que o próprio capital consegue atrair as suas estratégias para escoamento da produção e não precisando tanto do aporte do poder público. Como estratégia, poderíamos pensar cenários com plenárias populares consultivas visando, exatamente, as demandas mais sentidas da população e não focando exclusivamente para fomentar o capital.

*Atividade da disciplina Técnicas de Reportagem (2020.1), do Curso de Jornalismo da UFMA Imperatriz. 

*Foto: acervo pessoal