Por: Gabriel Jordan
Quando era mais novo, nunca imaginei que voltaria à minha antiga escola como um estudante de jornalismo, coletando entrevistas e imagens para um trabalho. Desde os quatro anos de idade, estudei na Escola Santa Teresinha, onde pude ter uma ampla visão das profissões que eu poderia seguir como carreira. As mais comentadas e prestigiadas eram medicina, odontologia, direito e engenharias, mas o jornalismo e as comunicações sociais nunca foram muito visados. Então, desde os sete anos, minha mentalidade era: “vou fazer medicina”. Eu acreditava nisso e tinha como verdade que nasci para essa profissão. Falava sobre isso com minha família, amigos, conhecidos e até familiares distantes, com muita empolgação, convicto de que esse seria meu futuro.
Ao final do ensino médio, no entanto, passei um ano e meio sem muita direção. Vi muitas oportunidades de emprego e cursos, mas também enfrentei várias aflições, já que nenhuma delas estava na área que eu tanto desejava. Isso me trouxe frustrações; eu não sabia para onde ir ou o que fazer a partir daquele momento. Naquela época, eu estudava muito sobre áreas da saúde, fiz cursos específicos em ciências biológicas e exatas, visando me preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). No entanto, com o tempo, comecei a me sentir exausto com aquele formato e percebi que aquilo não era para mim. Até que, em certo momento de reflexão, resgatei uma memória distante e um antigo desejo de entender mais sobre o universo da comunicação. Mergulhei nas ciências humanas e percebi que eu tinha muito prazer nesse campo.
A partir desse momento, muitas portas começaram a se abrir. Iniciei minha jornada nas comunicações pelo marketing, na Facimp, por meio de uma bolsa quase integral através do ENEM. Já no segundo período da faculdade, consegui um estágio na Associação Comercial de Imperatriz para apoiar no desenvolvimento da vigésima Fecoimp, onde comecei a realizar algumas funções na assessoria de comunicação. Foi ali que conheci e me apaixonei pelo jornalismo, pelo simples fato de perceber que era uma profissão de escuta ativa, ouvir pessoas, histórias e relatá-las. Passei a enxergar essa carreira como uma oportunidade, pois eu naturalmente eu já gostava de ouvir o outro, até mais do que eu falar. No trabalho, comecei atuando apenas no marketing, mas, com o tempo, fui acompanhando solenidades e eventos, reuniões de classes empresariais, entrevistando personalidades do estado e da região, e entendendo mais sobre o funcionamento da assessoria de comunicação. Concluí o tecnólogo em marketing, mas senti a necessidade de fazer uma graduação. Então, decidi fazer o ENEM pela quarta vez, e, diferente das outras vezes, sem me dedicar muito, mas acreditando que conseguiria fazer jornalismo. E foi assim que, pela segunda chamada, ingressei na Universidade Federal do Maranhão, o que foi um divisor de águas na minha vida: um ambiente novo, novas perspectivas, novos colegas de sala, e trabalhos dinâmicos que eu nunca imaginei realizar.
Entre esses trabalhos, ainda no segundo período, meus amigos Thalisson, Camyle, Luana e eu decidimos abordar, para uma avaliação, o tema sobre a visão e o papel das freiras de Imperatriz para a sociedade do futuro, na disciplina de Sociologia da Comunicação, com o professor Claudino. Ao mapearmos as igrejas e entidades missionárias da cidade, lembrei da Escola Santa Teresinha, de seu legado e da visão de futuro que as freiras pregavam quando eu estudava lá. Decidimos visitar algumas congregações missionárias da cidade e, depois, a escola. Ao chegar lá, muitas memórias vieram até mim, os detalhes dos corredores, os professores e funcionários que ainda lembravam de mim e de algumas vivências que compartilhamos. Durante esse momento, todos me perguntavam qual curso eu estava fazendo na faculdade e o que me levou até lá. Eu respondia que estava cursando jornalismo e que estávamos lá para uma entrevista acadêmica. Assim que mencionei isso, fomos tratados como imprensa e o atendimento mudou completamente. Fomos levados a uma sala exclusiva da diretoria, mas a irmã Claudete, que hoje é a diretora, não pôde nos atender naquele momento. Então, o coordenador de esportes e um dos funcionários mais antigos da escola, Paulo Mota, fez questão de nos atender e conceder uma entrevista.
Fomos levados a uma sala que, em mais de dez anos estudando lá, eu nunca havia visto ou ouvido falar. Nela, estavam todos os troféus, medalhas e indicações de jogos escolares que a escola havia ganhado em quase cem anos de existência, cuidadosamente guardados. Sentamos e conversamos por quase uma hora e meia, e ele nos relatou todas as histórias passadas, a dinâmica do convento/escola no passado e o papel das freiras na educação e evangelização. No entanto, devido à longa conversa (que foi muito útil para nossa entrevista), já estava tarde e não conseguimos o principal: uma entrevista com as irmãs. Precisávamos que uma delas falasse em vídeo, pois nosso objetivo era entregar o trabalho em formato documental, focando na visão delas sobre o futuro. Então, agendamos uma nova data com a diretora geral da escola. No entanto, quando voltamos na data marcada, ela novamente não pôde nos atender mais uma vez. Estávamos com o tempo muito curto para realizar a entrevista, editar e entregar o material. Foi então que pensei em usar minha antiga ligação com a escola a nosso favor e sugeri entrevistar uma das freiras mais antigas.
Era intervalo do ensino fundamental, e geralmente, nesse momento, as irmãs não costumavam circular pelo pátio. Perguntei a um funcionário sobre a irmã Angelita que era
uma destas irmãs mais antigas, mas ele relatou que ela havia sido transferida para outra cidade. Naquele momento, senti que tudo estava arruinado e comecei a me questionar quem poderia ser nossa fonte. Enquanto circulamos pela escola, desanimados, já decididos a ir embora, e foi aí que encontrei uma irmã que havia ingressado na instituição no mesmo ano em que eu saí da escola. Ela era bem jovem, mas sempre pareceu muito dedicada à causa missionária, e pensei que ela poderia ser nossa “salvação” naquele momento.
Conversamos com ela e fomos ao auditório da escola e começamos a conversar com ela, explicando que precisávamos de seu depoimento em vídeo. Ela disse que não gostava de gravações desse tipo, mas, após convencê-la de que seria apenas um bate-papo gravado e que ela nem precisava olhar diretamente para a câmera, ela aceitou e mesmo muito tímida, respondeu muito bem a todas as perguntas e apesar de jovem, conhecia profundamente a história da escola e da atuação das Irmãs Missionárias Capuchinhas desde o início de Imperatriz. Ao ser questionada sobre sua visão de futuro, especialmente em uma geração tão diferente, ela respondeu que a missão nunca deixaria de existir, pois sempre haveria pessoas com o dom de servir. Sua resposta me marcou profundamente, pois, quando eu era aluno, já ouvia esses ensinamentos das irmãs durante os encontros de oração. Aquilo que ela havia dito me fez refletir sobre o poder transformador da educação na vida de jovens e crianças.
Assim, concluímos aquela parte da avaliação. No final de tudo obtivemos a nota máxima na disciplina, e após refletir comigo mesmo, saí com sentimento de gratidão por ter analisado e por ter tido uma base educacional interessante, e que eu estava naquele momento colhendo frutos de um empenho que começou ainda naqueles corredores da escola anos atrás.