Artista de rua quebra a monotonia do trânsito de Imperatriz

Kleiton também é chamado para apresentações

Texto: Laís Sousa

Foto: Daniel Sena

Assim como o sol tem sua presença garantida em Imperatriz, o artista de rua Kleiton Viana de Almeida, de 31 anos, pode ser encontrado na esquina da Ceará com a avenida Dorgival Pinheiro de Sousa, sempre por volta das 16 horas. O malabarista, com seis anos de profissão, tem como instrumento principal o diabolô. Segundo Kleiton, esse instrumento lhe encantou. “O diabolô é um dos meus instrumentos principais”.

O diabolô, também admirado por aqueles que o veem controlando como se fosse uma brincadeira, resiste ao tempo e às mudanças históricas. Tem simplesmente mais de quatro mil anos de criação. Segundo historiadores, o primeiro foi inventado na China e era feito de bambu.

Além disso, a manipulação do instrumento era praticada por todas as classes sociais no século XX, e até a corte de Napoleão o apreciava. Os olhares são muitos, mas os mais curiosos são os das crianças que estão dentro dos carros ou ônibus e até mesmo passando a pé por ali. Algumas vezes o malabarista chega a receber aplausos da criançada, mas isso não significa que são apenas esses que se encantam. Aliás, para Julia Maria Oliveira, que trabalha próximo onde Kleiton realiza a sua apresentação, todo dia é de espetáculo. “Ele deixa nosso trabalho mais alegre”.

Sinal vermelho

É quando o sinal fica vermelho que o espetáculo acontece e o que antes era uma simples faixa de pedestres se torna um palco. Palco de sonhos, imaginação e muito treino. Aliás, explica Kleiton, para realizar tais movimentos é importante que o artista esteja sempre se aperfeiçoando. “As viagens em busca de conhecer novidades são de extrema importância”, ponderou.  O sinal fica vermelho por apenas segundos, mas são suficientes para causar admiração naqueles que estão por volta. Por vezes, dá até um “friozinho na barriga” com medo dele não conseguir segurar o instrumento quando é arremessado ao ar. O diabolô ou até mesmo as claves, quando são jogadas para cima, levam junto consigo os olhares da plateia, que, sem dúvida, é enorme. Por aquela esquina passam milhares de pessoas durante a semana.

Além disso, os instrumentos, que são variados, também possuem diferentes movimentos. As manobras que o malabarista faz com o diabolô são as mais diversificadas possíveis. Backside é um movimento em que Almeida joga o diabolô para cima e pega no alto, dando uma volta de 180 graus. Depois arremessa e pega normalmente. Já com suas claves, os movimentos são outros, mas não menos admiráveis.

Sinal verde

Quando o sinal fica verde é hora de uma pausa no show, mas o espetáculo, que dura apenas alguns segundos, quando chega ao fim rende ao artista algumas recompensas. Alguns olhares ali são, sim, de preconceito, porém, em sua grande maioria são olhares de encantamento e admiração. Como é o caso do ambulante Edinaldo da Silva Costa, que afirma se surpreender todos os dias com tais movimentos. “É fantástico o que eles conseguem realizar. Aliás, seria interessante se isso que esse rapaz faz fosse levado às escolas e comunidades para mostra aos nossos jovens que temos muito mais que o futebol.”

Mais nem sempre Almeida teve tais admiradores. O jovem só descobriu as artes de rua depois de uma apresentação do grupo Ocuparte, movimento que liderou a ocupação de prédios públicos abandonados para a utilização de artistas na promoção de programações culturais em Imperatriz, o que fez com que ele sentisse interesse no assunto. Durante a infância ele não teve nenhum tipo de influência para tal profissão. “Quando iniciei nessa carreira eu já estava bem grande, foi por meio de uma apresentação do grupo Ocuparte que descobri esse mundo. Minha infância foi comum como a da maioria.”

Além disso, Kleiton não contou com o apoio da família no início de sua carreira, pois tal profissão gera certa insegurança econômica, além do fato de ser um ofício desvalorizado pela sociedade. Porém, de acordo com o artista, quando a sua família começou a perceber que isso o fazia bem e gerava um retorno econômico satisfatório, a situação se tornou mais agradável.

Por um lado, hoje em dia o artista recebe apoio de familiares, amigos e simpatizantes das artes, que o incentivam a permanência na profissão, pois dali Kleiton consegue se sustentar e fazer novas amizades. “Meu trabalho é tudo pra mim, é onde eu faço novas amizades e me sustento”. Por outro, o artista tem que conviver diariamente com os olhares preconceituosos.

Segundo Costa, falta mais incentivo público para banir preconceitos a respeito desses artistas. “Muitas pessoas não entendem que o que esse jovem faz é arte, e arte deve ser respeitada e aplaudida. Falta incentivo por parte dos poderes públicos, mas também por parte da população, que insiste em acreditar que isso não seja um trabalho”.

Para o ator Paulo Autran, “todo preconceito é fruto da burrice, da ignorância, e qualquer atividade cultural contra preconceitos é válida”. E pensando dessa forma, o artista Kleiton considera que a arte de rua pode ser uma “válvula de escape” para muitos jovens que estão se perdendo. O malabarista sonha alto, tão alto como o seu diabolô quando é arremessado ao ar. “Daqui a dez anos eu pretendo estar com um espetáculo formado, com um circo-escola ajudando outras pessoas a conhecerem a arte de rua e a saírem da monotonia. Essa arte não é qualquer artista que tem coragem de encarar.”