27 anos como feirante: o orgulho e a força de uma mulher em seu trabalho

Por: Nathalie da Costa

“Eu me sinto bem, porque é um trabalho digno”, diz Francinete, que trabalha há 27 anos na Feirinha do Bacuri, em Imperatriz.

Primeiro foi em uma barraca com lona cor vermelha, duas cadeiras para descansar, eram vendidas várias verduras, legumes, frutas, entre essas havia saquinhos de tomate, pé de alface e cebola.  Em 2020 tudo mudou, da barraca na rua, foi para a própria cozinha no quarteirão de restaurantes, na feirinha, para vender comida, dessa vez a lona vermelha é para fazer sombra na calçada do estabelecimento. Lugar forrado, cerâmica e paredes brancas com direito a ventilador, duas mesas e cadeiras para os clientes, caixotes com refrigerante, geladeira, fogão, armário e um balcão, com um ambiente mais aconchegante, a evolução é notória.

Francinete em seu novo ambiente de trabalho na Feirinha do Bacuri. Foto: Larissa Lima.

Foi em 1994, que Francinete Lima Ramos, 54, mais conhecida como França, começou a trabalhar vendendo verduras na Feirinha do Bacuri, em Imperatriz. Sem estudos, sem emprego fixo e com 28 anos, não se viu em outra saída e teve a ideia de trabalhar como autônoma na feira que havia perto de sua casa.

Foi ali que França encontrou o sustento, juntamente com seu falecido marido, João Evangelista e criaram 5 filhos, e hoje, ela está tendo o prazer de ver que todo o seu esforço gerou resultados, filhos criados, onze netos, e acompanhando a neta que criou e que chama de filha, se formar. “Cuido da minha família desde que comecei a trabalhar na feira. No começo eu temia que não daria certo, mas graças a Deus, deu certo até hoje”, é com essas palavras que a feirante descreve sua trajetória de trabalho que lhe rende mais que o sustento, mas várias vidas, a dela e de sua família.

França, fala que durante esses anos todos, desde quando ela começou a trabalhar como feirante (1994), até os dias de hoje (2021), “as coisas mudaram muito no mundo, tudo era bem mais fácil de conquistar, de vender, agora está mais difícil, mas eu consegui conquistar muitas coisas através do meu trabalho na feira”. Uma rotina puxada, de segunda à segunda, das 5 da manhã às 5 da tarde, mas que faz com amor, “eu me sinto bem, porque é um trabalho digno, é daqui que eu consigo o pão de cada dia para mim e minha família” revela.

Francinete não carregou todo o peso de prover o lar, dar amor e educação aos filhos e netos sozinha em todos esses anos. Além de companheiro no trabalho, Evangelista foi companheiro na vida, foram casados por 37 anos anos, e trabalharam juntos na feira. Infelizmente, o parceiro veio a falecer em 2016, deixando-a sozinha, tendo que  tomar de conta do coração, agora em pedaços, da família e do trabalho. Com o coração aberto, ela fala, “nunca se supera uma perda, é muito difícil, não tem ninguém para substituir, era meu parceiro, pai dos meus filhos, era o chefe da família, foi e está sendo difícil”. 3 anos se passaram, e em 2019, Francinete sofreu a perda de mais alguém especial, dessa vez uma filha. Mas mesmo assim ela se mantém confiante, “com a graça de Deus, eu estou vencendo e vou continuar a vencer, porque eu sou forte”.

Cliente e amizade

Muitos clientes e amizades, entre eles, tem Marina Costa, 45, que conheceu França na feira, e por coincidência, suas duas filhas, estudaram 6 anos juntas na escola e se tornaram amigas. “Eu sempre ia na feira, e minha filha já tinha me dito que a mãe da amiguinha dela de escola trabalhava lá, e por coincidência eu comprava na banca dela, até que um dia nos reconhecemos de verdade, desde então criei um carinho por ela e pela filha dela” fala Marina.

Francinete Ramos trabalhando com o que gosta e sentindo orgulho de si mesma. Foto: Larissa Lima.

Da banquinha de verdura no meio da rua, para a própria cozinha

São 27 anos trabalhando na Feirinha do Bacuri. Mas agora ela gosta mesmo é de cozinhar. Francinete começou a trabalhar vendendo comida em 2020 e deixou de trabalhar na banca de verduras e conta com a ajuda dos filhos no tempo livre em seu novo negócio, que ainda se encontra na Feirinha do Bacuri. No almoço feito e vendido por ela, tem galinha cozida, tem assado de panela, tem panelada, que é o principal prato de comida vendido nas bancas de comida em Imperatriz, não pode faltar. A estudante de pedagogia, Larissa Lima, 20, filha de França, conta que adora a comida da mãe, e que a família, atualmente constituída por 6 pessoas, sempre almoça na feira, “todos nós sempre almoçamos lá, a janta também vem de lá”.

Mesmo com a pandemia, a feirante não parou de trabalhar, pois é dali que vem a sua renda, mas ela conta que tomou os devidos cuidados para combater a Covid-19, “eu não parei de trabalhar na pandemia,  mas  mesmo assim as coisas ficaram muito difíceis, as vendas ficaram mais fracas, mas eu sempre me protejo e tomo cuidado com os alimentos”. Devido a pandemia, o cuidado com os familiares está redobrado, mas ela não perde a esperança, “eu espero que tudo passe e volte ao normal para todo mundo, para mim e minha família, meus filhos, eu desejo que tudo volte a ser bom”.

Nem só de trabalho vive França, em seu tempo livre ela gosta de relaxar, descansar, assistir vídeos no celular e aproveita para “ouvir hinos da igreja, visito meus familiares, meu filho, curto com meus netinhos, com meus animais” completa. Sua neta, Larissa, fala que a avó, em seu horário de descanso, “adora assistir vídeos no Tik Tok”.

Em diálogo, Francinete expressa a sua admiração pelas mulheres, que assim como ela, trabalham, são provedoras e cuidadoras do lar, “eu admiro as mulheres trabalhadeiras, até porque na feira são mais mulheres do que homens”, e expressa o desejo de que “a sociedade dê mais valor e reconhecimento às mulheres, porque muitos pensam que lugar de mulher é só atrás do fogão, mas não é, mulher tem que ser valorizada” finaliza.

Feirinha do Bacuri

A Feirinha do Bacuri se situa no bairro Bacuri, na Rua Leôncio Pires Dourado, na cidade de Imperatriz. Existe a cerca de 30 anos. Atende as necessidades dos moradores locais, há venda de verduras, frutas, legumes, possui açougues, lanches, restaurantes para almoço e outros. Funciona das 05h00 às 17h30, todos os dias da semana.