Pauteiro: Jordano da Silva
Repórteres: Hérika de Almeida e Layana Karine
Fotógrafas: Layana Karine e Hérika de Almeida
As vendas de café da manhã nas ruas de Imperatriz têm favorecido o crescimento do comércio informal e atualmente são consideradas alternativas valiosas para pessoas que não dispensam a primeira refeição do dia. Por essa razão, em variados pontos da cidade, é comum observar a quantidade de vendedores ambulantes que transformaram essa atividade autônoma na sua principal fonte de renda. Em decorrência das poucas oportunidades de emprego, muitas pessoas buscam garantir o sustento da família recorrendo a este negócio.
Romilda Cardoso Campos está há quase 30 anos comercializando café da manhã no centro da cidade. Ela relata que desde os 9 anos já atuava nesse ramo, trabalhando com a mãe. “Sou enfermeira, mas entre as duas profissões escolhi essa. Prestei concurso em Goiânia, fui aprovada e trabalhei por um tempo como enfermeira. Quando tive meu filho, que nasceu com diabetes, tive que parar para cuidar dele, e por isso, continuei com a venda até hoje”, descreveu a autônoma.
Ela explica que juntamente com o esposo Jeovane Moura da Silva, acordam às 2 horas para iniciar a preparação dos alimentos. Porém, existem alguns que são produzidos ainda à noite, para que tenham tempo suficiente para esfriar. A vendedora oferece todos os dias um cardápio composto por 14 tipos de bolo, cuscuz, beiju, café e café com leite. “O que não é vendido, coloco na lanchonete do meu irmão”, acrescentou.
O atendimento inicia às 6h15 e encerra às 10 horas. Em média, 200 pessoas compram café da manhã na banca de Romilda. A vendedora destacou que atualmente possui mais de 50 clientes fixos, pois funcionários de várias lojas do calçadão se tornaram fregueses assíduos. “O gasto é muito alto, pois uso quatro botijões de gás por mês, além da compra dos ingredientes para fazer novamente os produtos para vender. Minha despesa é grande, mas costumo tirar de R$ 1.000 a R$ 2.500 por mês”, diz.
VANTAGENS
Funcionário de uma loja de eletrodomésticos, Johnny Carvalho, se tornou cliente fixo há três anos. Em virtude da correria do dia a dia, ele assume que gosta de tomar café na rua e costuma comer cuscuz de arroz, bolos fritos e café com leite. “Com tantos afazeres, a gente acaba esquecendo o principal que é a nossa saúde, então, a maneira mais prática que encontramos é essa”, explica.
O funcionário elogia o trabalho de dona Romilda, que apesar da crise econômica, tem mantido os preços e oferece um serviço de qualidade. “Durante esses três anos que trabalho na loja, me alimento só com ela. Geralmente onde consumo alimentos, observo a higienização do local, sempre tenho esse cuidado. Então, eu vejo que dona Romilda tem muito zelo. Além disso, tem a facilidade, pois as vezes peço pra anotar na caderneta. Quando não tenho dinheiro no momento, ela acaba me vendendo fiado”, declarou.
Mas apesar de fazer da prática uma rotina, Johnny relata que se tivesse possibilidades, prepararia seu café em casa. “Acho legal tomar café na rua, pois é uma forma de gerar o mercado. Afinal, os vendedores precisam do ganha pão deles, mas se eu tivesse um tempo maior, comeria em casa. Mas, tem a pressa, o tempo que a gente gasta para fazer um alimento, um cuscuz, ir à padaria, em um supermercado. Então, essas banquinhas se tornam mais práticas”, esclareceu o funcionário.
A vendedora de confecções, Vanuza, mora no povoado Coquelândia e é outra cliente fixa dos cafés da cidade. Todos os dias, ela vem a Imperatriz fazer compras dos produtos que revende e realizar outras tarefas. Ela reconhece que a falta de tempo contribui para que várias pessoas recorram à banca de cafés. “Muitos tomam café na rua porque não têm tempo de fazer em casa, pois saem muito cedo, que é o meu caso também”, explicou.
O despachante Silas, confessou que tem o hábito de tomar café na rua para evitar atrasos no trabalho. Contudo, se fosse possível, preferiria se alimentar em casa. “O café da vó é mais gostoso”, brincou.
COMÉRCIO INFORMAL
Em vários pontos da cidade é fácil observar a presença desses trabalhadores informais que transformaram a venda de produtos alimentícios na sua única fonte de renda. Ainda no setor comercial de Imperatriz, encontramos os sócios Adálio Mendes Ribeiro, Maria Helena Nunes Ribeiro e Maristela Mendes Ribeiro, que atuam há mais de dez anos vendendo café da manhã no mesmo local. Os produtos comercializados por eles constituem os elementos essenciais para a primeira refeição do dia, como o café puro ou com leite, alguns tipos de bolos, cuscuz e beiju.
Adálio descreve que todos os dias, iniciam o atendimento às 7 horas e encerram às 11 horas. E ao final do expediente, quando há sobras de alguns itens, retornam com eles para consumo da própria família. “Por serem produtos perecíveis, levamos pra casa e também dividimos com os vizinhos. Eles gostam”, informou o vendedor.
Conforme conta Maria Helena, o fluxo de consumidores que passam pela sua banca é grande. “Em média, 50 pessoas ou mais frequentam aqui. A maioria é de lojas próximas. Mas, tem gente de outros bairros que conhece o nosso trabalho e vem atrás desse meu café”, relatou a proprietária da venda. Em relação ao faturamento mensal, ela não sabe apontar um valor fixo, mas destaca que não há muito retorno financeiro. “O lucro varia, mas dá pra viver. A despesa é grande, maior que o lucro. Atualmente, as minhas vendas caíram”, explicou.
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
De acordo com o secretário municipal de Planejamento Urbano, Fidelis Uchôa, existe um acompanhamento destes profissionais por meio do Setor de Postura, departamento que integra a Secretaria de Planejamento Urbano – (Seplu). “Quando nós assumimos a gestão, fizemos um relatório e acompanhamento em relação a esses profissionais ambulantes. Encontramos muitas categorias, diversas funções em que eles trabalham. Tem vendedor de pipoca, de batata, vendedor de café”, relatou o secretário.
Além disso, Uchôa destacou que por enquanto, Imperatriz ainda não dispõe de um local adequado para os trabalhadores autônomos realizarem suas vendas, a exemplo das grandes cidades, mas informou que existe um projeto para concentrá-los em um ponto comercial, de modo a desobstruir as vias públicas. “Nós estamos em parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco, e temos um grande projeto, a criação do Shopping Popular. O objetivo é remanejar os vendedores ambulantes para lá”, esclareceu.
Conforme o relatório elaborado pela Seplu, em média, 350 a 400 profissionais serão direcionados para o novo local, que será construído nas dependências do antigo camelódromo, oferecendo maior organização, segurança e comodidade para os vendedores. “Atualmente esses trabalhadores desenvolvem suas atividades em cima de um passeio público, de uma calçada, desrespeitando o direito do pedestre e daqueles que necessitam de acessibilidade, como o cadeirante e o idoso. Além disso, precisamos considerar a situação do profissional, que é pai de família e necessita ganhar o seu dinheiro”, acrescentou o secretário.
Em relação à quantidade específica de vendedores ambulantes em Imperatriz, Uchôa declarou que não é possível obter essa informação com clareza, pois constantemente novos trabalhadores surgem nas ruas da cidade. “Diariamente, nós temos um relatório. Por exemplo, nós fechamos o levantamento em um dia com 15 ou 20 vendedores, mas no outro dia, já aparecem mais três ou quatro. Isso acontece provavelmente por conta do desemprego”, afirmou.
A respeito da autorização para este tipo de atividade informal, o secretário informou que a Seplu não pode conceder autorização para explorar o que é público, em atendimento ao Código de Postura do município. “Para solucionar o impasse, partimos para o diálogo, porque eu sei que nesse momento em Imperatriz se encontram muitos ambulantes na rua, mas só podemos fazer esse remanejamento se houver um local apropriado para o deslocamento desses profissionais”, assegurou.