UFMA supera média nacional com 52,6% de professores negros, mas interior cobra transparência

Elson Sampaio

Em 2024, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) registrou que 52,6% do seu corpo docente se autodeclara negro (pretos e pardos) — índice mais que o dobro da média nacional, de 21%, segundo dados do Censo da Educação Superior de 2022, disponíveis no portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).” O avanço é resultado das políticas de cotas e da mobilização do movimento negro, que vêm fortalecendo a representatividade na academia e incentivando a autoidentificação racial entre docentes.

Professor Domingos assumiu cargo na UFMA de Imperatriz, que não tem dados organizados sobre percentual de negros no seu quadro

Apesar do crescimento, a ausência de dados específicos por campus e a percepção de baixa presença de professores negros no interior, especialmente em Imperatriz, levantam o debate sobre a distribuição equitativa e a necessidade de diversificar os espaços universitários, ainda marcados por currículos e práticas de ensino predominantemente eurocêntricas.

Especialistas consideram o avanço uma “conquista”. No entanto, a falta de transparência nos dados por unidade  fora da capital indicam que o desafio da inclusão ainda persiste.

O percentual de 52,6% na UFMA representa um aumento significativo em relação ao início da série histórica da instituição. O dado é especialmente relevante no contexto maranhense, onde cerca de 79% da população se autodeclara negra, conforme o IBGE. Para fins de comparação, a média nacional de professores negros em universidades federais é de 21%.

Para o professor do curso de Jornalismo da UFMA em Imperatriz, Domingos Alves de Almeida, autodeclarado negro, o resultado é uma “conquista nossa”, fruto do processo gradativo e do efeito da Lei de Cotas (2012).“Esse número é importante porque a gente começa a ver dentro da instituição o reflexo do que é a sociedade lá fora. É olhar para o espaço de poder e ver alguém como ele [o aluno negro] ocupando aquele espaço, e perceber que ele também pode estar lá”, afirma o docente.

No entanto, a percepção de avanço não é unânime no interior. O acadêmico Ramon Santos Lopes, do nono semestre de Licenciatura em Ciências Humanas – Sociologia (LCH) e integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), aponta disparidades no campus. “Fico muito feliz em saber que mais da metade dos professores são autodeclarados negros, mas quando você analisa isso por partes, vê que o polo de Imperatriz é o segundo maior fora de São Luís, e a gente não vê essa quantidade de professores negros aqui. Dá para contar nos dedos”, relata o estudante.

A professora Herli Carvalho tem 29 anos de UFMA e questiona o percentual de 52,6% divulgado pela universidade

A professora Herli Carvalho, do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Formação Docente em Práticas Educativas da UFMA/Imperatriz, e ex-presidente do Centro de Cultura Negra – Negro Cosme (CCN-NC), corrobora o ponto de vista do estudante. Com 29 anos de UFMA, ela afirma que o percentual de 52,6% “ainda não reflete de forma justa a realidade do campus do interior”.

Ela destaca que as barreiras para a plena inclusão são institucionais, especialmente na inserção de conteúdos étnico-raciais no currículo. “Se a própria universidade não considerar essas discussões como pertinentes e necessárias, como é que nós vamos fazer?”, questiona a professora.

Os entrevistados também apontam a falta de transparência institucional como obstáculo. O professor Domingos reitera que a universidade “negligencia esses dados específicos por campus”, o que prejudica a articulação do movimento negro dentro da instituição.

Posicionamento da UFMA

Em resposta, o diretor do campus da UFMA em Imperatriz, professor Leonardo Hunaldo, informou, por telefone, que “a universidade não possui levantamento consolidado com o recorte racial por campus”, e que a gestão superior “confirmou a inexistência desse dado até o momento.” De acordo com o diretor, “a Pró-Reitoria orienta que solicitações formais de informações específicas sejam encaminhadas pelo portal Fala.BR”, sistema oficial do Governo Federal.

A UFMA, com 52,6%, acompanha outras instituições do Nordeste que se destacam na inclusão de professores negros. A Universidade Federal de Sergipe (UFS) lidera com 60,9%, seguida pelo Instituto Federal do Maranhão (IFMA) com 58,0% e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) com 54,0%. O Brasil tem 56,1% de sua população autodeclarada preta ou parda, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).