“Sempre gostei de escrever, mas não conseguia imaginar quando iria fazer um livro”, diz Josélia Aguiar sobre sua primeira obra: “Jorge Amado-uma biografia”

Texto: Déborah Costa

Imagem: Divulgação

Apaixonada pelo jornalismo desde muito cedo, Josélia Bastos de Aguiar, graduada na área, mas mestre e doutora em história pela Universidade de São Paulo (USP), é autora da obra “Jorge Amado-uma biografia”. Em entrevista a Felipe Adam e Rennan Oliveira e ao professor coordenador do grupo Jornalismo de Fôlego da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), campus de Imperatriz, a escritora relata sua experiência de biografar um dos maiores escritores do Brasil. Formada em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Josélia já trabalhou para a Folha de S. Paulo e em outros jornais como free lancer. Josélia dirigiu a Biblioteca Mário de Andrade, a segunda maior do país, vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, atuando, ainda, como autora, curadora e editora.

Embora já tenha trabalhado com jornalismo internacional, atuando como correspondente em Londres, Josélia sempre foi interessada em literatura. “As passagens por essas editorias foram com bons salários, então eu não tinha como recuar, não tinha como dizer não até para me estabelecer em São Paulo”, explica. A jornalista destaca que em determinado momento, percebeu que o seu trabalho com jornalismo diário não a estava satisfazendo. Ela queria escrever mais e no jornal para o qual trabalhava havia um padrão determinado de tamanho de texto. Acabou pedindo demissão, mas logo foi chamada para trabalhar como editora assistente em uma revista especializada em livros, a “Entrelivros”. Josélia conta que somente em 2005 começou a considerar-se uma jornalista escritora de livros, condição que pretende manter, pois foi nesta área que teve a oportunidade de ler mais, entrevistar autores, falar sobre diversas obras e fazer reportagens sobre esse universo editorial. Por conta disto, hoje trabalha em uma biblioteca. “Sempre quis escrever, sempre gostei de escrever, mas não conseguiria imaginar quando iria fazer. Um dia eu vou fazer um livro, um dia eu quero fazer isso, um dia vou ter a oportunidade de fazer isso”, relata sobre a sua indecisão inicial.

Josélia considera que a sua formação em história a tornou mais desconfiada em termos de fontes. Ela ressalta que às vezes há uma empolgação do entrevistador, que ela chama de “supervalorização das fontes”, justamente quando alguém diz algo e você fica empolgado, mas logo percebe que não foi nada de tão importante. Josélia diz que aprendeu muita nas duas áreas que estudou, e que uma completa a outra.

Jornalista Josélia Aguiar narra a vida e obra do escritor Jorge Amado

 

Técnicas

A jornalista conta também que começou a organizar seu material biográfico a partir de capítulos, e que juntava todo material apurado. Ela entrevistava alguém e logo após transcrevia somente aquilo que achava necessário, e não por inteiro. “Eu tenho boa memória, isso me ajuda também. Então eu lembro das conversas”, relata. Para ela, transcrever o áudio de uma entrevista é um exercício de fixação, algo que prefere fazer sozinha. Segundo a escritora, durante o período da escrita da biografia de Jorge Amado, ela parava de fazer tudo para se dedicar ao trabalho. Ainda tentou, porém, manter-se como freela no jornal Valor Econômico, porém não deu muito certo. Josélia defende que o ideal é que o jornalista escritor tenha um trabalho que não exija tanto dela. “Você tem que ter um emprego mais tranquilo, mais seguro, uma coisa que tenha algumas horas por dia em que você se compromete, mas que não vai te tirar o coração, sabe? E então, essa coisa de ser freela me prejudicou um pouco”, confessa.
Outra questão levantada na entrevista, que faz parte da pesquisa Jornalismo de Fôlego Premiado, foi sobre a ajuda de colaboradores em arquivos e parcerias para realização do trabalho. Sobre essa questão, ela revela que fazia tanto as entrevistas, quanto as visitas aos acervos e que uma pessoa entrevistada a levava, no mínimo, a outras três personagens. “É basicamente isso, a coisa da pirâmide das fontes”, expôs. Josélia destaca que a partir dos entrevistados foi entendendo melhor sobre a vida e a obra de Jorge Amado. “À medida que vou contando a história dele, eu vou desfazendo alguns mitos ou confirmando”.

Sobre o livro em sua versão final, a escritora alega que tem medo de algum equívoco sair publicado, mas pondera que existem diferentes tipos de erros que podem ser corrigidos, como as datas, mas Josélia acredita que estes não alteram o entendimento do leitor. Na primeira edição da biografia ela chegou a errar a data de falecimento da esposa de Jorge Amado, Zélia Gattai, o que mesmo após a revisão, ninguém conseguiu notar. Após o livro ser lançado, os leitores observaram o erro, porém ele foi corrigido na segunda tiragem. “Acho que o maior medo que eu tinha era interpretar errado alguma coisa”, afirma a escritora. Sobre estas questões, a jornalista exprime que sentia um certo temor, mas que sempre checava todas as informações mesmo que demorasse. “Um tempo mais alongado é muito favorável para uma apuração mais precisa. Sem tempo, a apuração vai ter muito mais limitações”.

O perfil da escritora Josélia Aguiar, aqui em sua primeira versão, terá mais duas partes publicadas.