Mães solteiras, entre força, dilemas e alegrias

Em Imperatriz, mais de 18 mil mulheres enfrentam sozinhas as dificuldades da maternidade

 

MARIA FRANCINEIDE E CARLÚCIO BARBOSA

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística(IBGE), em 2010, mais de 18 mil lares em Imperatriz são chefiados por mulheres. O Maranhão se destaca com 46,58% de mães solteiras, números que vem crescendo a cada ano. Muitas mulheres são obrigadas a criarem sozinhas seus filhos por abandono do pai, divórcio, morte do pai, escolha da profissão dentre outros. Apesar de ser uma situação comum, ser mãe solo é um grande desafio.

Muitas mulheres com o objetivo de mudar a forma como são vistas pela sociedade, estão tomando, cada vez mais, as rédeas da situação, reivindicando respeito e mostrando sua importância na criação dos pequenos e na manutenção dos lares. Da alimentação ao comportamento, são elas que se ocupam e se preocupam para que os pequenos cresçam da melhor maneira possível. Ainda assim, o sentimento de culpa as persegue.

A maternidade transforma a vida de uma mulher, o que é praticamente impossível que a vida continue exatamente como era antes. O corpo, as prioridades, as preocupações, a rotina e o orçamento sofrem mudanças. Tornar-se mãe solteira não é um sonho da maioria das mulheres, mas é a realidade de muitas brasileiras. Segundo o IBGE, no Brasil mais 57 milhões vivenciam essa situação.

O abandono de seus parceiros, ao descobrirem que estão grávidas, e a falta de o apoio do pai da criança levam muitas mulheres a terem vergonha da condição de ser mãe solteira. Segundo o estudo realizado pelo Instituto Data Popular, as mães do século 21 são mais conservadoras e mais interessada que as do século 20. Entre as mães do século passado, 75% acreditava que uma pessoa só pode ser feliz se constituir família. O percentual de verdade dessa premissa prevalece em apenas 66% para as mães da nova geração. Para 58% das mães da geração anterior é uma dever da mulher cuidar das refeições. Enquanto esse pensamento prevalece em apenas 45% das progenitoras do século 21.

Dificuldades e sonhos

Para Lizandra Barbosa de Sousa de 43 anos,  cuja foto com a família abre a reportagem, é enfermeira e mãe de dois filhos. Quando descobriu que estava grávida pela primeira vez aos 20 anos. Como teve que assumir a maternidade tão jovem, alguns dos seus projetos foram adiados. Porém, com ajuda de seus familiares e apoio financeiro do pai de sua filha, possibilitou à criança uma boa educação e qualidade de vida. “Minha maior realização foi formar minha filha na mesma profissão que eu”, enfatizou.

Anos 30 anos, Joselha Gomes de Sá Sousa, operária e mãe de duas filhas, disse que na época que engravidou a primeira vez quando tinha 16 anos, era muito imatura e não sabia o que fazer. “O meu maior desafio foi passar por várias dificuldades junto com minhas filhas, sempre dando um jeito para não faltar nada”, concluiu.

Mariana Vieira da Silva de 49 anos, balconista e universitária, mãe de quatro filhos, conta que aos 19 anos a maternidade lhe surpreendeu e logo teve que sair de casa por conta de seus pais, que não aceitavam sua condição de mãe solteira. Ela, mesmo com muitas dificuldades em criar seus filhos, nunca deixou seu sonho de lado, em conquistar uma vaga na universidade. E hoje é acadêmica no curso de Licenciatura em Ciências Humanas (LCH), da Universidade Federal do Maranhão.

Joselha Gomes: esforço pelos filhos para nada faltar

Desafios e constrangimentos

 Para socióloga Carmem Barroso Ramos, as pesquisas indicam que os lares brasileiros são formados basicamente por mulheres, mães e vós, que criam seus filhos sozinhos sem a companhia do parceiro. “Em uma sociedade patriarcal em que o homem acha que ele tem o poder de tudo, inclusive de dominar sexualmente e de não participar da vida do filho da mulher, os filhos são os que mais sofrem na relação”. Muitas vezes o nome do pai não declarado na certidão, gera constrangimento à criança, que sofrem bullying (agressões repetitivas, sejam verbais ou físicas) na escola por não ter o nome do pai na certidão de nascimento.

Com as mudanças, o movimento de mulheres é bastante ativo na sociedade. Cada vez mais elas têm nível superior, pós-graduação e estão inseridas nos espaços políticos e instituições sociais, o que garante que a mulher tenha mais conhecimento sobre seus direitos. Mesmo que ela venha a criar um filho só, ela tem um amparo das leis em relação às pensões alimentícias, maternidade e paternidade compartilhada. Carmen Barroso analisa que há ainda desafios para as mulheres que mantém lares sozinhas.

 

 Vidas e sensibilidade

Várias mães solteiras estiveram suas histórias relatadas por um documentário idealizado pelo jornalista e cineasta Ulisses Rocha, um longa-metragem. O filme mostra as histórias de mulheres de diferentes gerações, que engravidaram, foram abandonadas por seus parceiros e decidiram levar adiante a gravidez. O projeto, que durou cinco anos, entre roteiro e finalização da edição, foi lançado na primeira quinzena de julho de 2014.

O longa foi produzido sem recursos públicos e contou com a colaboração de profissionais de vários segmentos. A obra é muito bem feita e demonstra o talento de Ulisses na direção e edição com rara sensibilidade.
Assista:

https://www.youtube.com/watch?time_continue=238&v=RreeREWgPm8

 

*Reportagem produzida para a disciplina Técnicas de Reportagem, da UFMA Imperatriz, semestre 2018.2