Sala de Recursos representa espaço de aprendizagem e acolhimento

Professora e mães atípicas atuam na evolução de crianças com deficiências

Anna Beatriz Silva

“Desde a graduação essa área me chamou muita atenção. Meu TCC foi sobre Educação Especial, desde então me identifiquei e sabia que era o que eu queria”. Nilmaria Vieira de Faria, 42 anos, é  pedagoga, tem pós em Atendimento Educacional Especializado (AEE), Libras, Educação Inclusiva, Neuropedagogia e trabalha na escola municipal Santa Maria, no bairro Nova Imperatriz, onde atende 25 alunos.

Ela é uma das profissionais em Imperatriz que proporcionam uma educação especializada para o desenvolvimento de crianças com deficiências como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Deficiência Auditiva. Nilmaria trabalha no turno matutino e vespertino e explica que “o ambiente educacional especializado é de suma importância e os profissionais precisam estar sempre estudando, buscando conhecer e respeitar as necessidades de cada indivíduo”. Sua função é apoiar e orientar os professores da sala regular.

A escola é composta por uma equipe de 18 docentes, sendo sete pela manhã e 11 à tarde. A quantidade de turmas abrange do Jardim 1 até o quinto ano do fundamental, organizadas conforme a faixa etária e o nível de ensino, sendo que o funcionamento da Sala de Recursos ocorre uma vez na semana, no contraturno.

“O AEE dá suporte às deficiências intelectuais, físicas e sensoriais. Atualmente na escola são atendidos principalmente os TEAs e deficiência intelectual. Temos uma criança com deficiência auditiva, mas o foco principal é a deficiência intelectual”, esclarece a pedagoga. Cada aluno tem seu estudo de caso a partir do plano de atendimento individualizado. Eles chegam até a professora com laudos médicos que descrevem, atestam e interpretam o estado de cada criança e a profissional utiliza técnicas como brinquedos pedagógicos e materiais estruturados. “Temos recursos para melhorar e atender as necessidades do seu filho”, descreve.

Pedagoga Nilmaria faz palestra sobre a importância da leitura e o desenvolvimento das crianças (foto: Ricardo Silva)

A Sala de Recursos garante a participação de forma mais efetiva das atividades na aula comum. Cícera Lopes, 41 anos, funcionária pública e agente comunitária de saúde é testemunha, pois é mãe de Arão Lopes, de 5 anos, com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com as aulas, ele obteve resultados positivos, como avanços em sua cognição e costumes. “Dá muito resultado ver meu filho se desenvolvendo, é uma vitória para mim”, afirma a mãe, emocionada.

Cícera detalha que Arão começou a andar e falar aos 11 meses. No entanto, aos 2 anos teve dificuldade em socializar e transmitir suas emoções. A mãe resolveu, então, buscar auxílio da pediatria no Sistema Único de Saúde (SUS), onde encontrou o Plano Educacional Individualizado (PEI), que garante que alunos com necessidades educacionais especiais tenham acesso a um currículo e métodos de ensino adequados às suas capacidades e dificuldades.

 A mãe relata que a escola Santa Maria, em parceria com a Sala de Recursos, desenvolve um ótimo trabalho e acolhimento com seu filho. “Eles incluem o Arão em todos os eventos, valorizam a criatividade e o desenvolvimento cognitivo. Antes, ele não tinha intimidade com ninguém a não ser com a família. Porém, com a Nilmaria, foi diferente. Ela tem o jeito de cativar os alunos, faz sua missão com êxito”.

Mãe participa de um dos eventos que a sala de recursos proporciona (foto: Rosilene Marinho)

Adriele da Cruz, 40 anos, é vendedora de cosméticos e mãe da Grazielle da Cruz, que sofre com deficiência auditiva desde os 2 anos de idade devido às sequelas de meningoencefalite viral. “Vivemos em uma luta solitária, onde é preciso ter forças para inspirar minha filha a prosseguir em busca de seus sonhos”, lamenta.

Ao descobrir a doença, ela e a filha ficaram isoladas no hospital, recebendo medicamentos, pois a situação de Grazielle era muito dolorosa, tendo passado por cinco cirurgias. “A primeira foi a mais difícil. Ver a minha filha chorando e ao mesmo tempo não entendendo o porquê estava passando por aquilo, doía em mim”.

Ela confessa que encontrar um otorrinolaringologista em Imperatriz foi cansativo. Ao receber alguns resultados não aceitava, pois eram “diagnósticos secos, só mandavam minha filha tomar medicamentos que não faziam efeito”. Por orientação de sua sobrinha, Isabella Cruz, assistente terapêutica, Adrielle conheceu a fonoaudióloga Tânia Belusso, que informou o verdadeiro caso que Grazielle estava enfrentando e indicou o hospital para fazer a cirurgia.

Grazielle precisou realizar um implante em sua cóclea, um aparelho que processa a voz com 12 eletrodos. A mãe possui o controle para reprogramação do aparelho quando necessário para ficar mais confortável. “Eu conheço uma menina que passou pela mesma cirurgia que minha filha e hoje ela está bem desenvolvida. Utiliza o aparelho e fala”. As cirurgias foram feitas no Hospital Flávio Santos de Teresina, e de seis em seis meses, é atendida pela fonoaudióloga Fabiana Ibiapina, que acompanha todos os avanços da criança.

Grazielle sendo consolada nos abraços de sua mãe, minutos antes da cirurgia (foto: Francisco Nunes)

Esperança

Atualmente, Grazielle participa da Sala de Recursos, onde recebe atenção, dinâmicas para melhorar sua cognição e organização. Ela consegue fazer números, letras, pois ao ver as outras crianças, se inspira e tenta produzir igual a elas. “Lembro que desde os 2 anos ela pede para ir à escola. Colo desenhos nas paredes informando o que deve ser feito e como escrever, números e gestos da Língua Brasileira de Sinais. Quando ela precisa de algo, sinaliza ou aponta para as figuras na parede”, narra a mãe.

No início, o estabelecimento de ensino não tinha auxiliadora da educação especial para o caso da Grazielle. A mãe procurou o Sistema Integrado de Avaliação de Desempenho Individual (Siadi), com o intuito de transferirem a cuidadora para a escola Santa Maria, onde Grazielle estuda.

No dia 2 de abril de 2024, o Siadi designou  Camila Alves para exercer sua função de cuidadora, analisando e suprindo necessidades como levar ao banheiro, dar o lanche no horário certo, ou seja, um cuidado cauteloso direcionado a Grazielle. Adriele fica feliz, pois a filha melhorou seu raciocínio lógico e desenvolveu os sentidos. Depois de frequentar as aulas na sala de recursos com a professora Nilmaria, obteve uma alimentação saudável e um sono de qualidade, além de se relacionar com outras pessoas, pilares fundamentais para o bem-estar da criança.

Grazielle aprendendo as cores em figuras geométricas com materiais visuais (foto: Nilmaria Vieira)

“Desejo o melhor para minha filha, um futuro brilhante. Quero acompanhar suas conquistas, sua independência, que ela consiga ser livre mesmo com sua deficiência. Nunca fui superprotetora dela, e não quero que a vejam como coitadinha, ela merece ser feliz e realizar seus sonhos”, desabafa a mãe.

Grazielle recebendo seu prêmio do sorteio entre os alunos da sala, com a mãe orgulhosa e grata pela filha (foto: Nilmaria Vieira)

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, desenvolvido em parceria com a disciplina Laboratório de Produção de Texto I (LPT), chamado “Meu canto tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.