Texto: Gislei Moura e Rennan Oliveira
Fotos: Kaio Henrique
Nomear os lugares em que habita é uma prática antiga do ser humano. No começo, os nomes faziam referência a lugares próximos, “em frente à estrada”, “perto do rio”. Com o passar do tempo, houve a necessidade de organizar melhor os espaços, por isso, tornou-se de caráter legislativo o processo de dar nome às ruas de uma cidade. A Lei 6.454 de 24 de outubro de 1977 proíbe que se coloque o nome de pessoas vivas em ruas, obras de serviços e monumentos públicos. Entretanto, fica a cargo das leis municipais decidir o modo como os logradouros serão nomeados. Em Imperatriz, esse dever pertence aos vereadores, segundo o art. 13 da Lei Orgânica do Município. Mas os cidadãos podem participar do processo, dando sugestões que serão levadas ao plenário da Câmara dos Vereadores.
Assim como em outras cidades, as ruas aqui são nomeadas de formas variadas. Há tanto nome de pessoas (como a rua Antônio de Miranda), quanto datas importantes (a exemplo a rua Sete de Setembro), ou até mesmo nomes indígenas (rua Tupinambá) e de estados (como a rua Pará). Esse é um processo importante, que diz muito sobre a história local, como relata a professora de história, Lígia Maria Sousa. “No início da década de 70, a professora Idelvira Marques Bandeira, exercia uma função importante na Prefeitura. Ela conversou com os moradores da rua Lêoncio Pires Dourado, antiga Cumaru, para que deixassem uma máquina passar atrás das casas para abrir uma nova rua, a rua Pará. Segundo a professora Idelvira, os nomes foram dados de acordo com os moradores dessas ruas projetadas, por exemplo, se tinha uma grande quantidade de pessoas vindas do Pará, ou do Piauí, ou do Ceará”, explica.
Porém, mesmo que as ruas sejam partes importantes para a história da cidade, os cidadãos nem sempre sabem porque elas receberam tal nome. Principalmente quando se trata de personalidades, geralmente homenageadas por terem alguma influência local. Por isso, com base em conversas com moradores e na Enciclopédia de Imperatriz, foram selecionadas ruas que tivessem nome de pessoas, desde que não fossem militares da época da ditadura, com exceção de Getúlio Vargas.
Na lista abaixo, você pode conferir o nome de dez figuras que se tornaram ruas de Imperatriz e também a dica do que fazer ao visitar esses lugares.
Frei Manoel Procópio
Manoel Procópio do Coração de Maria foi o fundador de Imperatriz. Apesar de ser uma figura relevante, muito de sua história não foi documentada. Nasceu no ano de 1814, em Jaguaripe na Bahia e ingressou na Ordem Carmelita em 5 de março de 1837, aos 23 anos. Missionário, chegou ao local que daria origem a Imperatriz em 16 de julho de 1852, após realizar uma expedição pela província do Grão-Pará (atual Estado do Pará). Sua amizade com a imperatriz Teresa Cristina foi muito importante para o estabelecimento do povoado que se tornaria cidade, sendo essa a razão do nome Imperatriz. Morreu em 25 de setembro de 1886, aos 72 anos, em local desconhecido.
Conheça a rua: na Avenida Frei Manoel Procópio, no Centro, visite a Paróquia Santa Teresa D’Ávila, a primeira da cidade e que foi fundada pelo próprio Frei em sua chegada à região. O prédio atual foi inaugurado em 6 de outubro de 1937 e nele é possível encontrar a imagem de Santa Teresa, trazida pelo Frei Manoel em sua expedição. Há missas de terça-feira a domingo, em horários variados. Em caso de dúvidas, basta entrar em contato com a secretaria da Paróquia no número (99) 35241852.
Santa Tereza
Teresa de Cepeda e Ahumada, como era chamada, nasceu na cidade espanhola de Ávila, em 28 de março de 1515. Teve uma vida repleta de reviravoltas, como por exemplo, a sua fuga aos 20 anos para integrar o Mosteiro da Encarnação de Ávila. Contrariando as pessoas de sua época, ela criou em 24 de agosto de 1562 o Mosteiro de São José, porém, os superiores carmelitas reprovaram a iniciativa. Somente no final daquele ano é que a fundação foi aprovada por Roma. Depois disso, Teresa fundou outros 30 mosteiros. Ela morreu no dia 15 de outubro de 1582 na cidade de Alba Tormes, Espanha, e se tornou padroeira de Imperatriz por ser a santa de devoção de Frei Manoel Procópio.
Conheça a rua: na avenida Santa Tereza, no Centro, visite a praça Mary de Pinho. Inaugurada em 2015, a praça tem um ambiente preparado para o lazer, com brinquedos para as crianças e uma academia ao ar livre. Além dessas atrações, há ainda a presença de vendedores ambulantes e lanchonetes nas proximidades.
Teresa Cristina
Teresa Cristina Maria de Bourbon nasceu em 14 de março de 1822, em Nápoles, capital do Reino das Duas Sicílias (atual Itália). Tornou-se imperatriz do Brasil após seu casamento com Dom Pedro II, em 20 de abril de 1842. Casados à distância, a imperatriz veio morar no país em 1843 e foi mãe de quatro filhos, incluindo a Princesa Isabel. Conhecida como “Imperatriz Arqueóloga” e “Mãe de Todos os Brasileiros”, Teresa Cristina era muito querida. Foi ela quem ajudou Frei Manoel de Procópio a estabelecer a povoação de Santa Teresa como sede da Vila Nova da Imperatriz. Seu apoio resultou no surgimento da cidade. Com a proclamação da República, Teresa mudou-se para Porto, em Portugal, onde faleceu no dia 28 de dezembro de 1889.
Conheça a rua: na rua Teresa Cristina, no Centro, visite o “Peixe Podi Bar Music”, um bar cultural que existe desde a década de 90. Além de oferecer comida e bebida, o local conta com um ambiente musical diferente, tocando estilos como flashback, folk e indie. Fechado apenas na terça-feira, o bar funciona durante a semana de 17 horas a 2 horas, aos sábados de 9 horas a 2 horas, e aos domingos de 9 horas à meia-noite.
Dorgival Pinheiro de Sousa
Dorgival Pinheiro de Sousa nasceu em 9 de novembro de 1939, na cidade de Canto do Buriti, no Piauí. Político, comerciante e maçom, Sousa foi vice-prefeito de Imperatriz, junto com Renato Moreira. Foi também presidente da Associação Comercial e Industrial de Imperatriz entre 1970 e 1971. Pai de quatro filhos, Sousa foi assassinado com um tiro em 12 de novembro de 1971, sendo impedido, assim, de concluir o seu mandato.
Conheça a rua: na avenida Dorgival Pinheiro de Sousa visite a Praça de Fátima, no centro. O local surgiu a partir de uma iniciativa do Frei Epifânio da Abadia, por meio de pedido feito ao então prefeito, Simplício Moreira, e foi inaugurado em 15 de agosto de 1953. No espaço funcionam várias barracas de lanche durante toda a semana, incluindo o “Régis”, lanchonete que vende x-tudo a R$5,00 e que funciona até de madrugada, sendo ponto de encontro para os jovens que retornam de festas e baladas.
Getúlio Vargas
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja, Rio Grande do Sul, no dia 19 de abril de 1882, mas, por motivos desconhecidos, a data foi mudada para o ano de 1883. Ele era político e advogado, e se tornou presidente do Brasil após liderar a Revolução de 1930. Depois de instalar o Estado Novo, governou o país por duas vezes, em 1930 (durante 15 anos) e em 1951. Conhecido por um governo ditatorial e populista, Getúlio foi quem sancionou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Morreu em 24 de agosto de 1954, após cometer suicídio no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
Conheça a rua: na avenida Getúlio Vargas, no centro da cidade, fica o famoso “Calçadão”, centro comercial da cidade que reúne lojas de todos os segmentos. Sempre movimentado, o local conta com lanchonetes, lojas de departamento, vendedores ambulantes, e também o centro de compras Getúlio Vargas, conhecido como GV. Funciona de segunda-feira à sexta-feira, em horário comercial, e aos sábados de 8 horas às 14 horas.
Bernardo Sayão
Bernardo Sayão Carvalho de Araújo nasceu em 18 de junho de 1901, no Rio de Janeiro. Era engenheiro, agrônomo e político. Foi diretor da Rodobrás, nomeado em 15 de maio de 1958, e supervisionou a construção da rodovia Belém-Brasília, indicado pelo presidente Juscelino Kubitscheck. Bastante popular na região, abriu estradas e trouxe recursos e tecnologia. Durante as obras, sua barraca foi atingida por uma árvore, e ele foi gravemente ferido. Levado para a cidade de Açailândia, não resistiu. Morreu no dia 15 de janeiro de 1959 em um lugar denominado Ligação, onde as frentes de construção de rodovias Maranhão-Pará se encontravam.
Conheça a rua: na avenida Bernardo Sayão, no Centro, conheça o ponto turístico “Quatro Bocas”, famoso pelo prato conhecido como panelada. Esse local já é figura carimbada, muito frequentado depois de baladas.
Simplício Moreira
Simplício Alves Moreira nasceu na cidade de Grajaú em 2 de março de 1897, no Maranhão. Foi um político e comerciante. Extrativista da castanha do Pará, foi duas vezes prefeito de Imperatriz, de 1948 a 1951 e 1953 a 1956, além de vereador de 1928 a 1930. Em seu primeiro governo construiu o Grupo Escolar Governador, a primeira escola da rede de ensino de Imperatriz, e concluiu a construção do prédio da Prefeitura Municipal (atual sede da Academia Imperatrizense de Letras). Morreu em Belém, no Pará, em 20 de junho de 1967.
Conheça a rua: na rua Simplício Moreira, no Centro, estão localizados alguns lugares para conhecer, dentre eles está o principal e único teatro da cidade, chamado Ferreira Gullar inaugurado na década de 70, palco de apresentações cinematográficas e teatrais. A companhia de Teatro Okazajo se apresenta há alguns anos. Desde 2008 o projeto “Cinema no Teatro” leva debates e filmes de diversos gêneros, sendo assim um ponto de encontro entre artistas e universitários.
João Lisboa
João Francisco Lisboa foi um jornalista, crítico, historiador e político. Nasceu em Pirapemas, no Maranhão, em 22 de março de 1812. Estudou as primeiras letras em São Luís. Em 1832 fundou O Brasileiro, o seu primeiro jornal diário. Reviveu o jornal O Farol assumindo a direção por dois anos. Em 1838 assumiu a direção do jornal Crônica Maranhense em sua melhor fase como escritor. Em 25 de junho de 1852 saiu o primeiro número do Jornal de Timon inteiramente redigido por João Francisco Lisboa. Faleceu em 26 de abril de 1863, aos 51 anos, em Lisboa, Portugal.
Conheça a rua: na rua João Lisboa, o principal e mais conhecido ponto turístico é o Shopping Tocantins, localizado no Centro de Imperatriz. Aberto de segunda-feira a sábado de 10 horas às 22 horas, e aos domingos de 12 horas às 22 horas, o espaço conta com cinema, espaço recreativo para crianças, praça de alimentação, além de lojas e academia.
Coriolano Milhomem
Coriolano de Sousa Milhomem foi um político, intendente de Imperatriz, de 1° de janeiro de 1913 a 16 de junho de 1914. Foi vereador por dois mandatos (posses em 1° de janeiro de 1910 e em 1° de janeiro de 1923). Exerceu o cargo de vereador quando se elegeu intendente. Seu segundo mandato de vereador coincidiu com o exercício do mandato de seu filho, Gumercindo Milhomem, que foi o primeiro prefeito com a elevação de Imperatriz à categoria cidade. Morreu em Marabá (PA), onde estava tratando de sua saúde.
Conheça a rua: O estádio Frei Epifânio fica localizado no centro da cidade na rua Coriolano Milhomem e foi inaugurado em 30 de janeiro de 1966. O estádio é a principal sede de jogos e atrações anuais, como Corpus Christi e jogos escolares. Em frente ao Frei Epifânio está a Praça Mané Garrincha, única praça com pistas voltada a esportes radicais como skate e patins.
Leôncio Pires Dourado
Nascido no Ceará em 13 de janeiro de 1921, Leôncio Pires Dourado chegou a Imperatriz em 1960. Foi um líder maçônico, político e vereador em Imperatriz, eleito duas vezes consecutivas. Foi presidente da Câmara, tomou posse em 1967 e 1971. Comprou a rádio Imperatriz de Raimundo Nogueira Neto, fechada em 1970 pelo exército, por ser clandestina. Ele integrou a comissão que escolheu o hino da bandeira e o brasão da cidade, titulada em 1972 pelo prefeito Renato Cortez Moreira. Fundou ainda o primeiro centro espírita da cidade, o Centro Espírita Gastão Pereira, em 1963. Ele faleceu em 4 de outubro de 1975, após um acidente de carro.
Conheça a rua: na avenida Leôncio Pires Dourado, localizada no centro da cidade, encontra-se umas das praças mais antigas da cidade, a Praça da Bíblia. Foi inaugurada a revitalização em 2 de março de 2018, com melhorias e mais espaço para diversão e atividades desportivas, conta ainda com uma concha para apresentações artísticas.