Primeira Corrida da Consciência Negra reúne 300 participantes e marca novo capítulo na agenda antirracista da cidade

Evento promovido pelo Centro de Cultura Negra Negro Cosme celebra o 20 de novembro com esporte, mobilização social e homenagem à memória de Zumbi dos Palmares.

Por: Rita Maria Sousa

A primeira Corrida da Consciência Negra, realizada nesta quinta-feira (20) em Imperatriz (MA), reuniu cerca de 300 participantes e se consolidou como uma das ações mais significativas do município voltadas à valorização da identidade afro-brasileira. Promovido pelo Centro de Cultura Negra Negro Cosme (CCN-NC), o evento carregou forte simbolismo político e cultural ao reafirmar a resistência da população negra e ampliar a visibilidade das lutas contemporâneas contra o racismo.

Participantes concentrados na Praça da Cultura, antes da largada.

A corrida integrou a programação oficial do Dia da Consciência Negra, celebrado nacionalmente em 20 de novembro. Para a presidenta do CCN-NC, Francisca Parente, a iniciativa reforça o sentido histórico da data. “É um momento de lembrar Zumbi dos Palmares e, ao mesmo tempo, fortalecer ações permanentes de combate ao racismo e promoção da igualdade racial”, afirmou. Segundo Parente, a realização da prova representa uma conquista inédita para o movimento negro da cidade. “Essa corrida é muito importante para o povo negro. É mais do que um evento: é uma conquista. Estamos há 23 anos no Centro de Cultura Negra e esta é a primeira grande corrida de nossa história”, destacou.

A organização avalia incluir a atividade no calendário anual do CCN-NC, com expectativas de ampliar a participação popular e fortalecer o debate sobre cultura, identidade e valorização da população negra em Imperatriz nos próximos anos.

Percurso e participação diversa

A largada foi dada às 6h, na Praça da Cultura. Antes do início do percurso de 5 km realizado, pelas principais vias do centro da cidade, os atletas participaram de um momento de alongamento coletivo. O evento contou com apoio da Guarda Municipal de Imperatriz (GMI) e da Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SETRAN), responsáveis pela segurança e organização viária. Participaram integrantes do movimento negro, autoridades, apoiadores do CCN-NC, atletas profissionais, corredores amadores e famílias que decidiram aderir à programação. A diversidade de perfis reforçou o caráter inclusivo da corrida, marcada pela presença de diferentes faixas etárias. Todos receberam medalhas como gesto simbólico de reconhecimento e reafirmação do compromisso com o combate ao racismo.

Depoimentos e desafios dos atletas

O segundo colocado, Adriano Rodrigues Barros, 33 anos, morador da aldeia indígena São José, do povo Krikati, em Montes Altos (MA), relatou as dificuldades enfrentadas para participar, como a falta de condições financeiras para custear a inscrição e o deslocamento. “Às vezes não tenho dinheiro para pagar a inscrição, ninguém me patrocina, mas tenho a força de vontade que Deus me dá”, disse. Ele avaliou o percurso como leve, sem ladeiras, o que favoreceu seu desempenho.

Primeiro e segundo colocado da 1º edição da Corrida da Consciência Negra.

O vencedor da prova, Alexandre Wilker Borba, também de 33 anos, do Tocantins, destacou o significado da competição e lamentou a falta de incentivo ao esporte. “Muita felicidade. Nós que chegamos entre os três sabemos o quanto é difícil correr sem patrocínio. Tudo é caro. Um tênis de qualidade é caro. É pela força e pela vontade. A honra e a glória são de Deus”, declarou.

Autoridades destacam combate ao racismo

A corrida contou ainda com a presença de autoridades municipais e federais, entre elas o prefeito de Imperatriz, Rildo Oliveira Amaral (Progressistas), e o deputado federal Josevaldo dos Santos Melo (PSD–MA). Rildo ressaltou a importância do apoio do poder público às ações de enfrentamento ao racismo e defendeu que a Corrida da Consciência Negra passe a integrar o calendário oficial do município. “Quando chamamos atenção para o combate ao racismo e à discriminação, mostramos que Imperatriz precisa se preparar cada vez mais para ser uma cidade de todos nós”, afirmou.

O prefeito anunciou que pretende mobilizar a Fundação Cultural de Imperatriz (FCI) e a Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (SEDEL) em novas ações de conscientização. “É um momento único, em que precisamos preservar nossa cultura negra e nossa cultura de acolhimento. Com certeza vamos condenar qualquer tipo de discriminação”, completou. O deputado Josevaldo, que é negro e reside em Imperatriz, participou de todo o percurso e destacou a relevância histórica e social da corrida. “É gratificante ver tantas pessoas participando. As famílias estão presentes. Somos um só povo e vamos continuar juntos”, afirmou.