O pai tá On: Sebastião Madeira fala sobre política, rede social e saúde na pandemia

Repórteres: Williana Costa e Tayron Silva

Fotos: Williana Costa

 

 

O vírus da Covid-19 chegou ao Brasil em fevereiro passado e vem se intensificando desde então, fazendo cada vez mais vítimas e causando medo e preocupação na população que anseia pela chegada da vacina a todos. E embora o número de óbitos no período de disputa das eleições de 2020 já tivesse batido a marca de aproximadamente 160 mil mortes, conforme dados das Secretarias Estaduais de Saúde, o cenário não comoveu o Superior Tribunal Eleitoral que determinou o cumprimento do calendário, não aceitando o pedido de adiamento feito pelo Senado Federal.

Imperatriz possui cerca de 170 mil eleitores, destes, mais de 30 mil não compareceram a votação, ou seja, 18,62% do eleitorado. A pandemia deu um novo formato às eleições, criando assim, um novo modelo de se fazer política.

A eleição para prefeito da cidade contou com um número histórico e bateu o recorde de candidatos, tendo um total dez concorrentes ao cargo. Dentre eles, estava o tucano Sebastião Madeira (72) que ganhou destaque por uma campanha “moderninha”, cheia de recursos de humor e forte apelo nas redes sociais. Com o bordão “o pai tá on” ele, que já é idoso, se reinventou e conquistou seguidores, inclusive, entre os que não votaram nele. Madeira não venceu a eleição, mas seu papel na campanha e o sucesso nas redes fizeram com que muita gente se perguntasse sobre onde anda ele, agora, depois de passado o pleito. Ainda mais porque já na reta final da campanha, acometido pelo vírus da Covid-19, foi internado em um hospital local, porém teve que ser transferido às pressas de Imperatriz para Brasília-DF em virtude do agravamento de seu quadro clínico.

Como ele é considerado do grupo de risco por conta da idade, desde então, muitos especulam o que aconteceu e o que faz atualmente o ex-candidato, uma vez que ele era bastante assíduo em suas redes sociais (Facebook e Instagram) que somam mais de 33 mil seguidores e quase não tem feito aparições públicas.

Natural de São Domingos do Maranhão, oriundo de uma família simples, com seis irmãos, é casado, pai de dois filhos, formado em medicina, atuando na área como urologista. Em 1994 disputou às eleições pela primeira vez para deputado federal no estado do Maranhão. Desde então, foi reeleito três vezes para o cargo, onde ficou até 2008, quando resolveu disputar para prefeito de Imperatriz, permanecendo como gestor da cidade por dois mandatos consecutivos (2008 a 2016). Buscava conquistar mais uma eleição pelo PSDB, seu único partido desde que iniciou na carreira política. Porém, Madeira terminou em terceiro lugar com 21.396 votos na disputa que reelegeu Assis Ramos (DEM), com 34.253 votos.

Há poucos dias para o final da corrida eleitoral, durante uma visita do presidente da república Jair Messias Bolsonaro à cidade de Imperatriz, Madeira foi empurrado por um dos seguranças do presidente e quase foi ao chão. O vídeo com menos de 15 segundos que mostra o episódio, viralizou nas redes sociais.  “Aquele empurrão me levou pra frente. A partir dali tive que me reinventar na forma de fazer política. As pessoas buscavam algo mais, algo diferente, foi aí que surgiu a música O pai tá on, que teve em uma semana mais de 4 milhões de interações no Instagram”.

Durante e após a campanha eleitoral Sebastião Madeira foi do declínio ao apogeu, e resolveu compartilhar os bastidores com o Imperatriz Notícias.

 

Imperatriz Notícias: No dia do resultado da eleição o senhor foi diagnosticado com Covid-19. Quando percebeu que não estava bem de saúde e qual foi sua reação diante da notícia?

Sebastião Madeira: Embora estivesse tomando todos os cuidados necessários, como o uso de máscara e álcool gel, não consegui escapar da doença. Durante as caminhadas pelos bairros da cidade, trocava de máscara com frequência, porque suava bastante. Contudo, até às 48 horas para a realização da eleição, eu estava totalmente assintomático. Somente durante a última carreata, que foi realizada durante a noite passei mal e fui para casa, onde recebi atendimento médico e fiquei de repouso, pois acreditava-se que fosse apenas esgotamento físico. No domingo, após votar, passei mal novamente, fui hospitalizado e recebi a informação que estava com 25% dos pulmões comprometidos. Acredito que por também ser médico não entrei em desespero, pois sempre tive além de fé, a confiança nos profissionais da saúde. Ao anoitecer meu quadro clínico foi se agravando e meu filho mais velho Alberto Madeira optou por me transferir para Brasília-DF em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) área.

IN: Como foi o tratamento?

SB: Ao chegar na capital, já estava com mais de 70% de comprometimento dos pulmões. Passei cinco dias na UTI do Hospital Sírio Libanês e depois fui transferido para um apartamento, onde permaneci por mais cinco dias, até receber alta médica.

IN: Muitos questionaram o porquê da decisão de seu tratamento ter sido realizado fora de Imperatriz, uma vez que haviam hospitais para cuidar da doença no município. Qual sua opinião sobre essa questão?

SB: Se o indivíduo possui condições e tem opções de ir em busca do melhor tratamento para sua necessidade, não vejo mal algum. Possuo plano de saúde e o utilizo sempre que necessário. Foi o que aconteceu. Considero demagogos e hipócritas todos aqueles que têm condições financeiras irem até a UPA, Hospital macrorregional ou Hospital de campanha em busca de tratamento, retirando assim a vaga de quem realmente necessita e acaba padecendo por falta de leito.

“Fui recebendo muitas mensagens de apoio e incentivo por parte de familiares, amigos e dos seguidores, logo consegui me reestabelecer”

 

IN: O senhor considera que as eleições deveriam ter sido adiadas?

SB: Do ponto de vista de hoje, considero que sim. Pois jamais se imaginava que a doença se tornaria tão avassaladora.

IN: O senhor considera que o não das eleições adiamento lhe prejudicou?

SB: Na verdade, com o não adiamento o mais prejudicado foi a população de Imperatriz.

IN: Qual foi o momento mais difícil de sua campanha?

SB: Enfrentar as máquinas dos governos do Estado e município, além da inflação do número de candidatos. E ver ao final da apuração que embora a população estivesse insatisfeita com o atual gestor, o mesmo ganhou em virtude da pulverização dos votos, que foram diluídos entre 8 candidatos. Fiz o melhor que pude! E lamento profundamente que as crianças de Imperatriz passem mais um ano fora da sala de aula por conta da pandemia. Uma geração inteira que sentirá as consequências da falta de conhecimento quando forem se deparar com a concorrência para ingressar numa faculdade ou no mercado de trabalho.

“aos incríveis 4 milhões de interações semanais no Instagram. Cheguei a receber convites para ministrar palestras”

IN: Qual sua avaliação sobre a atual situação da saúde em Imperatriz?

SB: A Covid-19 é uma névoa. O pavor da população hoje é tão grande, que as pessoas que buscam tratar de outras coisas não estão conseguindo. Contudo, seria exigir muito que tivesse funcionando tudo perfeitamente. Entretanto, a administração do prefeito reeleito, nem mesmo em seu primeiro mandato, onde não existia Coronavírus se notabilizou por uma saúde se quer razoável, e agora está difícil para a população cobrar.

IN: Como o senhor recebeu a notícia da alta? Em algum momento temeu pela vida?

SB: Me perguntaram se eu tive medo de morrer, então respondi que não. A dor maior que sentia era na alma, cheguei a ficar depressivo. Mas com o passar dos dias, fui recebendo muitas mensagens de apoio e incentivo por parte de familiares, amigos e dos seguidores, logo consegui me reestabelecer.

IN: Sua campanha tomou fôlego através do hit O pai tá on. Afastado para tratamento de saúde,  o senhor sentiu falta das redes sociais?

SB: Essa foi uma campanha diferente de todas, onde eu praticamente não tinha tempo de TV, eram apenas 40 segundos. Foi graças aos jovens e as redes sociais que nos tornamos um viral com a música O pai tá on. Chegamos aos incríveis 4 milhões de interações semanais no Instagram. Cheguei a receber convites para ministrar palestras.

Retomarei as atividades aos poucos nas redes sociais. A resiliência é tão grande, que os 25 mil seguidores permanecem firmes em minha página. Saio pelas ruas da cidade e sou recebido com carinho pelas pessoas que dizem O pai tá on!

IN: Por onde anda e o que tem feito Sebastião Madeira?

SB: Cem por cento recuperado, estou num trabalho em Brasília-DF como assessor no gabinete do senador Roberto Rocha (sem partido). E nas horas vagas leio bastante. Recentemente terminei de ler o livro “Estas Verdades” da historiadora americana Jill Lepore, baseado na constituição dos Estados Unidos, cujo foco principal é mostrar que todas as pessoas têm direito à liberdade, à vida e à felicidade.

Além disso, acompanho bastante as notícias. Sou amante da democracia. Pois ela nos permite corrigir erros. Um bom exemplo são os EUA, que haviam elegido Donald Trump para presidente, mas logo perceberam que aquela não havia sido a melhor escolha e quando tiveram a oportunidade de mudar escolheram Joe Biden, um estadista que assumiu a presidência com o vírus da Covid-19 matando cerca de 3000 mil pessoas por dia e adotou medidas de apoio ás pessoas socialmente mais vulneráveis aprovando o maior projeto de ajuda daquele país e hoje estão vacinando mais de 2000 milhões de cidadão americanos por dia. Um exemplo a ser seguido.

IN: O senhor aprovou o candidato eleito?  E como está avaliando seu desempenho?

SB: Quem tem que aprovar ou não é o povo. A resposta foi dada nas urnas, de forma democrática. Só me resta respeitar a decisão da população, que obviamente o avaliou e considerou seu desempenho.

IN: Pretende se candidatar novamente a algum cargo político?

SB: Neste momento tenho outras prioridades, mas jamais direi: Desta água não beberei!