Pesquisa Jornalismo de Fôlego Premiado 4: conheça os vencedores no formato revista

Texto: Deborah Costa

Imagens: Divulgação

Bolsistas e voluntários do grupo de pesquisa Jornalismo de Fôlego da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, vêm realizando pesquisas sobre reportagens que receberam prêmios envolvendo temas sobre direitos humanos desde 2020. O objetivo do trabalho é entender o universo dessas reportagens, saber como são feitas, além de estudar as suas características. As premiadas são dos anos de 2018, 2019 e 2020 e os pesquisadores contam com um acervo total de 52 reportagens com temas variados. Para analisar o material, os pesquisadores se dividiram em seis diferentes mídias: jornal, revista, televisão, rádio, multimídia e livro-reportagem. Por meio de um relatório, a pesquisa terá o seu relatório final apresentado em maio de 2022.

 

Reportagem “Escravos do Século XXI” conta que 59% são resgatados pelas autoridades

 

Nesta matéria abordaremos nove reportagens produzidas por revistas que ganharam prêmios importantes para o jornalismo. Em 2018, a primeira produção, chamada “Escravos do século XXI”, conta sobre brasileiros que vivem em situação semelhante à escravidão, sendo submetidas a trabalho forçado, servidão por meio de dívidas, além de jornadas exaustivas e circunstâncias degradantes. A reportagem conta que 59% das pessoas que são resgatados pelas autoridades acabam retornando e voltam a trabalhar nessa mesma condição. A produção ganhou o 7ª Prêmio da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj), Patrícia Acioli de Direitos Humanos e foi produzida pela revista Veja, sendo publicada em 4 de maio de 2018. Para acessar a reportagem, clique em: https://veja.abril.com.br/revista-veja/escravos-no-seculo-xxi/.

A segunda premiada de 2018, intitulada A Síndrome do Preconceito”, ganhou o 40º Prêmio Jornalístico Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, em 1º de novembro de 2017. O trabalho fala sobre o estigma e preconceito de quem vive com aids e HIV, trazendo falas de personagens, gráfico e mostrando como a linguagem influencia na resposta à prevenção. Um dos personagens é o artista Gabriel Estrela, de 25 anos, que vive com o vírus e explica, por meio de um vídeo com a youtuber Jout Jout, que aids e HIV não são sinônimos. Gabriel diz, sem medo: “Fazer sexo com alguém que vive com HIV e faz o tratamento direitinho é mais seguro do que com alguém que não sabe sua sorologia”. A reportagem defende que expor outra pessoa a infecções sexualmente transmissíveis de forma intencional é crime previsto no Código Penal e pode dar até quatro anos de prisão. A produção jornalística foi feita pela revista Galileu, de São Paulo (SP) e está disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2017/11/hiv-apesar-de-avancos-da-medicina-preconceito-e-o-mesmo-dos-anos-80.html.

A terceira produção de 2018 ganhou o 1º Prêmio Jornalista de Impacto, com o título “30 negócios que fazem bem ao Brasil”, da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios. A revista fala sobre empreendedores que tomam para si a missão de resolver problemas do país, impactando milhares de pessoas na saúde, educação e moradia. A reportagem fala sobre estratégias dos fundadores e informa quem são os players que atuam nos bastidores. A empresa Agrosmart, em Campinas (SP), é uma delas e foi fundada pela empreendedora Mariana Vasconcelos, que criou soluções que permitem o monitoramento das lavouras, garantindo economia no consumo de energia e água e aumentando a produtividade em até 20%. A revista foi publicada em novembro de 2018 e fica disponível em: https://drive.google.com/drive/folders/1deY7vSBnQIpbS68sEBn6tDO-VaX4eWvW.

A primeira reportagem premiada de 2019 se chama “O meio ambiente como estorvo” e nos leva a entender a política ambiental do governo Jair Bolsonaro e de seu então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Foram entrevistadas 58 pessoas, entre elas, funcionários ou ex-funcionários do governo federal. A maioria preferiu não se identificar. A reportagem aborda os dados do Ministério do Meio Ambiente que foram excluídos do site sobre as áreas e as ações prioritárias para a conservação da biodiversidade no país. E revela o número de ações de fiscalização enviadas pela assessoria de comunicação do MMA. Trata, ainda, do número de multas aplicadas e explica como quem recebe uma multa ambiental costuma recorrer na justiça. A produção ganhou o 41º Prêmio Jornalístico Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e foi publicada pela revista Piauí em junho de 2019. Saiba mais detalhes em: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-meio-ambiente-como-estorvo/.

A segunda reportagem em revista a ganhar premiação em 2019 chama-se “À procura da felicidade” e levou o 8º Prêmio Estácio de Jornalismo. A matéria apresenta as disciplinas que ensinam felicidade e viraram moda nas universidades. Algumas instituições brasileiras oferecem matérias sobre o sentimento, no intuito de humanizar a formação dos alunos. A produção entrevista Matheus Figueiredo, de 22 anos, que após ingressar na faculdade, começou a sentir dores abdominais, indigestões e azia, bem como também desenvolveu uma crise de gastrite nervosa decorrente do nível de exigência do curso. O trabalho conta que, a pedido dos estudantes, pais e professores da Universidade de Brasília (UnB), foi criada uma Comissão de Saúde Mental para realizar acompanhamento psicopedagógico para os alunos. Além de fórmulas e cálculos, o campus passou a tratar a saúde mental como tema a ser abordado em sala de aula. O professor Wander Cleber Pereira conta que é preciso resgatar a felicidade na universidade. “Muitos têm vontade de desistir, por isso decidi criar essa disciplina”, diz ele. A reportagem também traz uma entrevista com o professor Tal Ben-Shahar, que se tornou referência no campo da psicologia positiva. A produção foi publicada em 27 de dezembro de 2018 pela revista Galileu. Para ler na íntegra, acesse: https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2018/12/disciplinas-que-ensinam-felicidade-viram-moda-nas-universidades.html.

Reportagem “Desaparecidos S.A.” trata do sequestro de 43 estudantes no México

 

A terceira agraciada de 2019 venceu o 3º Prêmio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) de Cobertura Humanitária Internacional e trata das pessoas desaparecidas no México: “Desaparecidos S.A.”. A matéria inicia falando sobre 43 estudantes de Ayotzinapa que foram sequestrados. Após esse caso, milhares de outras famílias denunciaram desaparecimentos e até hoje o episódio gera mais dúvida do que respostas. Na reportagem explica-se que o México bate recordes nacionais de homicídios, ano após ano, e que o Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade já identificou inúmeras denúncias de desaparecimento ao percorrer as praças do país. A reportagem também traz a história de uma mãe que lida com o desaparecimento do seu filho, um adolescente de 15 anos e vive com a dúvida de que ele esteja sendo obrigado a trabalhar para traficantes. Para conferir a reportagem por completo, clique em: https://epoca.globo.com/desaparecidos-sa-22969348.

 

“Fragmentos de vida e morte” aborda o drama das famílias que perderam parentes na lama de Brumadinho

 

Em 2020 a jornalista Amanda Rossi recebeu menção honrosa no 42º Prêmio Jornalístico Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos com a produção chamada “Fragmentos de Vida e Morte”, que aborda os 300 dias de luto e espera das famílias de pessoas engolidas pela lama em Brumadinho (MG). O texto inicia com o foco no dia 25 de janeiro de 2019, quando ocorreu a tragédia. O sondador Lieuzo dos Santos e seus colegas encerram o serviço ao meio-dia e estavam prontos para almoçar, mas infelizmente não deu tempo: a terra começou a se abrir aos pés dos cinco funcionários e Santos foi o único sobrevivente. A matéria traz vídeos do dia da ocorrência e relatos de sobreviventes e de familiares que até hoje tem esperança de encontrar algum fragmento do corpo dos seus entes. A produção destaca que a grande maioria das vítimas morreu por politraumatismo e teve os corpos fragmentados pela velocidade e pela força da lama. A reportagem também ressalta a posição da Vale com relação às buscas dos corpos soterrados. A produção foi publicada pela revista Piauí no dia 19 de novembro de 2019 e fica disponível para ler em: https://piaui.folha.uol.com.br/fragmentos-de-vida-e-morte/.

A segunda reportagem de 2020, disponível em https://oglobo.globo.com/epoca/rio/como-morre-um-inocente-no-rio-de-janeiro-1-24208427, é intitulada “Como morre um inocente no Rio de Janeiro”. Nela, foram analisadas todas as informações disponíveis sobre as 195 “mortes por intervenção de agentes do Estado” ocorridas em julho de 2019, o mês mais letal do Brasil em mais de duas décadas. Seis meses depois, nenhum policial foi denunciado à Justiça. O autor da reportagem explica que, a partir da Lei de Acesso à Informação (LAI), conseguiu obter os dados dos registros de ocorrência de homicídios decorrentes de intervenções policiais no Rio de Janeiro. Desde então, o jornalista se propôs a checar as investigações de cada um deles, em busca de indícios de execução ou de erro. A reportagem ganhou o 1º lugar no 37º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul (OAB-RS), na categoria Reportagem. A matéria foi publicada no dia 24 de janeiro de 2020 pela revista Época.

A terceira e última reportagem de 2020 tem como título: “Dados do SUS revelam vítima-padrão de Covid no Brasil”. O repórter Marcelo Soares evidencia as dificuldades de jornalistas para obter dados precisos sobre a pandemia. O trabalho investigativo de Marcelo rendeu, ainda, a criação de um detalhado banco de dados jornalísticos sobre a Covid-19 no Brasil. A reportagem traz um perfil dos brasileiros que perderam a vida em maior número por causa da pandemia. A pesquisa revela que, por razões socioeconômicas e sociodemográficas, a doença matou mais pobres e pardos, mais homens que mulheres e mais jovens do que em outros países. A reportagem ganhou o 6º Prêmio Synapsis (Federação Brasileira de Hospitais) e foi publicada pela revista Época, em 3 de julho de 2020. Para compreender melhor sobre a produção, clique em: https://oglobo.globo.com/epoca/sociedade/dados-do-sus-revelam-vitima-padrao-de-covid-19-no-brasil-homem-pobre-negro-24513414.