O verdadeiro “mercado negro”: falta de oportunidades de emprego

Bruna Loba busca renda fixa a partir dos seus próprios quadros

Texto: João Victor dos Santos

Foto: Arquivo pessoal Bruna Loba

Uma realidade compartilhada por toda uma população que não sofre apenas com termos ofensivos, mas também com a falta de oportunidades no mercado de trabalho

Rodrigo Segóvia, 44 anos, hoje empregado e bem sucedido, conta as dificuldades para adentrar ao mercado de trabalho em sua juventude “Você ia fazer uma entrevista de emprego e o cara já te julgava, achava que era para a pior vaga”. Essa experiência vivida por Rodrigo há 20 anos se repete com os jovens negros que disputam uma vaga no mercado de trabalho atualmente.  Henrique Lima tem 27 anos e relata quais os empecilhos que ainda permanecem: “São inúmeras as dificuldades, desde o momento da entrevista até mesmo quando você já está no emprego. Trabalho em um seletivo da prefeitura e uma vez me perguntaram quem tinha me colocado lá, mas eu tinha fechado a prova, conquistei o meu espaço”.

Apesar do número total da força de trabalho no Brasil ter a sua maioria preta ou parda, cerca de 57,7 milhões, de acordo com a pesquisa desigualdades de raça ou cor no Brasil de 2019, realizada pelo IBGE, a taxa de subutilização é de 29% entre esta população. Isto mostra que muitos trabalhadores desenvolvem carga horária menor do que gostariam e, portanto, recebem menos. A população preta não apenas sofre com baixa remuneração, mas também lida diariamente com a tensão para se manter empregado. Henrique expõe a pressão sofrida: “O negro é colocado à prova o tempo inteiro, ele não pode cometer uma falha que isso já dá motivos para ser mandado embora”.

Henrique também comenta sobre os obstáculos que o jovem negro enfrenta para se capacitar: “Passei minha vida bem distante do ensino. Por mais que tenha sido um bom aluno, nunca vi representatividade de pessoas negras no meio acadêmico ou em outras profissões. Então estudava para passar na escola, mas sem perspectiva de alcançar algo com o ensino”. E sugere maneiras de preparar o jovem negro para o mercado de trabalho: “Eu queria muito que na região tivessem projetos visando a capacitação do jovem negro”.

Desempenhando jornada tripla e trabalhando 12 horas por dia em dois empregos, Henrique conta que ainda estuda para entrar no desejado curso de medicina. “Graças às cotas, já consegui algumas aprovações em outros cursos, o que me motiva a permanecer nessa luta, pois mostra que sou capaz”.

Rejeição no mercado  

O que fazer quando o mercado de trabalho não aceita pessoas pretas? Bruna Loba encontrou uma saída. Aos 26 anos, ela já não se via em um local que por muito tempo ignorou pessoas pretas como ela. “Eu não queria esconder o meu cabelo, na última entrevista foi que realmente percebi que não dá. Então não vou ficar me humilhando e tentar me enquadrar em uma coisa que não vou me sentir bem”. O que era uma forma de se descobrir se tornou em uma renda complementar, e a pintura ganhou outros contornos na vida de Bruna: “Descobri a pintura no meio da minha depressão. Depois que ganhei umas tintas, as cores simplesmente desabrocharam na minha vida”. Este é um exemplo entre tantos casos de mulheres que procuraram outras maneiras de se sustentar.

Segundo estima do IBGE de 2019, cerca de 47,8% das mulheres negras possuem uma ocupação informal, ou seja, o mercado de trabalho para mulheres negras é ainda mais escasso, mesmo se compararmos com o de mulheres brancas, que totalizam 34,7% em situação semelhante. Já no Maranhão, de acordo com o estudo de indicadores sociais publicado pelo IBGE em 2020, a população preta ou parda entre mulheres e homens é de 67,3% dentre aqueles que ocupam cargos informais.

Para Bruna, a pintura não é apenas um negócio, mas ela pretende conseguir ter uma renda fixa a partir dos seus quadros, que são vendidos via Instagram. “Esse é o grande problema. Você se encontra artisticamente e profissionalmente, mas não teria como sustentar minha casa”. O perfil @tinhaqueserpreta atualmente conta com 470 seguidores e com muitos quadros de ótima qualidade.