O amor em tempos acadêmicos

É necessário conciliar, de forma positiva, o relacionamento afetivo e os estudos na passagem pela universidade

Por Brenda Delmira S. de Andrade; Lícia Gomes Alves Feitosa; Regivany Neves de Gois; Thays Gabrielle C. de Abreu.

Ao sair do ensino médio, alguns pais sentem medo que o relacionamento afetivo possa atrapalhar a vida universitária de seus filhos. Mas esse receio não ficou somente entre os pais, já que os jovens também se preocupam se vão ou não conseguir gerenciar de maneira positiva a relação com o seu companheiro ou companheira, pois sabem que a vida acadêmica é uma longa caminhada que requer tempo e dedicação. Nessa reportagem, abordaremos como você pode conciliar seu vínculo afetivo e, ao mesmo tempo, ter uma boa vivência acadêmica.

A época da faculdade é para a pessoa se descobrir e redescobrir, é quando muitas novidades e novas experiências ou aprendizados vêm à tona, o que acaba, geralmente, impactando na vida dos estudantes que agora precisam saber lidar com os desafios e peculiaridades dessa nova fase da vida. Junto com os tantos compromissos, o ambiente também proporciona a convivência com pessoas diferentes e com afinidades semelhantes, que em alguns casos, resultam em namoro, como aconteceu com as estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) de Imperatriz, Alice Pereira e Ana Carolina Silva*, de 18 e 25 anos, respectivamente.

O casal se conheceu na universidade e estuda na mesma sala, através do convívio e afinidades, começaram a se relacionar afetivamente há cerca de quatro meses. Elas contam que sofrem para conciliar a vida amorosa com a acadêmica, já que falta tempo para poderem ficar juntas e ter seus momentos de descontração. “É complicado, porque além da universidade, tem muitas outras coisas. Depois que a gente é adulta e entra na universidade tem uma casa para cuidar, tem muita coisa. Aí para conciliar tudo isso e ainda a vida amorosa, dá um trabalho, porque tudo é um peso. Mas eu acredito que a gente consegue fazer bem, porque quase tudo o que a gente faz é juntas”, afirma Alice.

Manter um relacionamento enquanto se está na universidade é uma questão importante a ser observada. “As vantagens são as de uma ajudar a outra, de fazer as tarefas juntas. Quando eu não sei, ela me ajuda, quando ela não sabe eu ajudo e sempre a gente fica discutindo em todo lugar assuntos aqui da faculdade. A desvantagem, em minha opinião, é que às vezes a gente fica muito sobrecarregada e isso pode ser um pouco ruim para o relacionamento”, diz Ana Carolina.

Desafios e provas  – Conseguir lidar com os estudos e ao mesmo tempo ter um relacionamento saudável é um desafio, já que esse é um momento de iniciação da vida profissional e o início da vida adulta. Mas alguns casais conseguem conduzir bem, como o caso de Beatriz Lima de Sousa e Gabriel Galdino de Araújo, ambos de 22 anos. Beatriz estuda Pedagogia na Universidade Estadual do Maranhão (Uemasul) e Gabriel estuda Fisioterapia na Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão (Unisulma). Eles se conheceram na igreja e namoram há quatro anos e dois meses.

Segundo o casal, quando os dois estudam é mais fácil. “Quando se passa por uma situação difícil, que muitas vezes acontece na vida acadêmica, você tem uma pessoa que te compreende porque passa pela mesma situação. Você tem com quem se apoiar ou até mesmo ajudar em um trabalho ou pesquisa, tudo voltado ao meio acadêmico”, conta Beatriz.

Gabriel e Beatriz: esforço para conciliar namoro e estudos

Mas também existem relacionamentos afetivos que terminam e dão lugar à amizade. Eduarda de Sousa Nascimento, 21, estudante de Direito na Facimp Wyden, conta que seu relacionamento durou 10 meses. “A gente se ajudava muito, em relação à vida acadêmica, em épocas de prova, estudávamos juntos, enfim, a gente conciliava bastante”. Eduarda explica que os motivos que levaram ao término partiram dela mesmo. “Não foi nada relacionado à vida acadêmica, foi algo pessoal mesmo”, conta.

Sentimentos e comunicação – É necessário manter um bom relacionamento durante a vida acadêmica, pois se não estiver bem, às vezes isso pode acarretar complicações para os estudos e até mesmo para a vida pessoal, o que é relativo para cada casal. “Alguns desentendimentos geralmente afetam a autoestima da pessoa, por apresentarem críticas negativas, causando no outro insegurança, medo e sentimentos de negatividade, refletindo no desenvolvimento acadêmico. O indivíduo pode se delongar em suas atividades por estar experimentando esses diversos sentimentos que poderão afetar diretamente seu desempenho acadêmico”, ressalta a psicóloga Sara Gonçalves.

Sara Gonçalves: desentendimentos podem prejudicar desempenho

No entanto, a relação também pode ser positiva, desde que os indivíduos saibam gerenciar a sua relação com o outro. “Nós somos seres sociais, ou seja, estamos em constante relação seja na faculdade, no trabalho, na família, e quando se trata de relacionamento amoroso e vida acadêmica é como se estivéssemos em uma clássica dicotomia entre razão e emoção e uma influência a outra”, destaca Sara.

Nesse outro caso, em que apenas um dos dois estuda, Lia Oliveira Marques, 23, que faz o curso de Biomedicina na universidade Uniceuma e namora há um ano, diz que não se sente prejudicada nos estudos por causa do relacionamento, pois sempre colocou os estudos como prioridade. Mas, às vezes, ocorrem desentendimentos que a deixam dispersa. “Brigas que sempre acontecem me deixam ansiosa e preocupada ao ponto de eu não prestar a atenção devida à aula”, relata Lia.

 Uma boa comunicação faz com que o casal concilie suas responsabilidades, além de evitar desentendimentos por pequenas coisas, que só trazem complicações para a vida amorosa e acadêmica, pois uma torna-se reflexo da outra. No entanto, às vezes é necessário evitar alguns encontros quando se tem muitos compromissos. “Quando estamos acumulados de trabalhos, evitamos ficar juntos”, diz o estudante Gabriel.

                                 Lia Oliveira: relacionamento não traz dificuldades  

Tempo e parceria – Nem sempre vai ser possível se encontrar com o seu parceiro ou parceira. “Muitas vezes, há um desencontro no relacionamento, por falta de tempo, estresse e outras coisas desse tipo”, conta a estudante Beatriz. Por isso, é necessário organizar o tempo de todas as atividades para que haja um horário livre de ambos, assim, poderão se encontrar e ficar juntos.

Rafaela Pinheiro da Silva, 22, também estudante de Jornalismo na UFMA, diz que seu companheiro a ajudava muito. “No início da faculdade, eu sentia dificuldade, por causa do relacionamento, aí ele me ajudou bastante, me motivou, a partir disso, minhas notas aumentaram. Ele dizia que acreditava em mim, que eu tinha um grande potencial e isso me ajudou”, explica ela.

Devido às várias atividades que ocupam o tempo dos estudantes, é preciso ter cuidado para que seu relacionamento não se torne abusivo. Em termos gerais, uma relação pode ser considerada abusiva quando um dos pares perde a sua liberdade e espontaneidade por imposição do outro. Confira, abaixo, algumas dicas para evitar que isso aconteça.

*Foram usados nomes fictícios para o primeiro casal citado na reportagem, Alice e Ana Carolina, devido a não aceitação do relacionamento por parte dos pais de uma delas.

 

Fotos: arquivos pessoais – Edição: Roseane Arcanjo Pinheiro
 Reportagem produzida para a disciplina Técnicas de Reportagem do Curso de Jornalismo/UFMA Imperatriz (2019.1)