Dados do IBGE indicam que a população com 60 anos ou mais aumentou 56%, atingindo 15,6% da população brasileira.
Por Stephany Apolinario
Entre lojas, ambulantes e compradores, há um público que chama atenção pela experiência de vida: os idosos que continuam trabalhando. Para eles, o trabalho não é apenas uma forma de sustento, mas também de manter a saúde, a rotina e o convívio social.
O Brasil está vivenciando um processo acelerado de envelhecimento populacional. Dados do IBGE indicam que, entre 2010 e 2022, a população com 65 anos ou mais cresceu 57,4%, passando de 14,1 milhões para 22,2 milhões de pessoas, representando 10,9% da população total. Além disso, a população com 60 anos ou mais aumentou 56%, atingindo 15,6% da população brasileira.
Esse fenômeno reflete-se também em Imperatriz, cidade com uma população estimada de 273.110 habitantes em 2022. O aumento da longevidade tem levado muitos idosos a permanecer no mercado de trabalho, seja por necessidade financeira, seja pelo desejo de manter-se ativos e engajados socialmente.
“Trabalhar é sinônimo de vida”

Francisco do ouro é considerado o ambulante mais antigo do Calçadão. Foto: Bruno Gomes
No Calçadão de Imperatriz, é possível encontrar exemplos inspiradores de idosos que continuam trabalhando e contribuindo para a economia local. Francisco do Ouro, 76 anos, relojoeiro e comerciante com mais de 40 anos de experiência, afirma: “Se eu parar, eu fico ruim. Trabalhando eu me sinto bem, ativo. Graças a Deus tenho saúde e amigos. Trabalho me dá vida.”
Apesar da pressão da família para descansar, Francisco garante que não pretende parar no momento e costuma responder: “Se eu não trabalho, fico só sentado. O trabalho é manso.”
Sua trajetória começou cedo, aos oito anos, acompanhando o pai nas ruas do interior do Maranhão. Depois de experiências na roça e na venda de gado e ouro, Francisco se estabeleceu no comércio de Imperatriz, onde já são 48 anos de trabalho no Bazar Ipanema. Pai de cinco filhos e avô, ele mora atualmente com a filha caçula, mas mantém a família unida e próxima.
Dificuldade e Motivação

Ilson Dias, ambulante, está 23 anos no Calçadão. Foto: Stephany Apolinario
O trabalho diário no Calçadão não é fácil, e o cansaço físico é uma realidade para muitos idosos. Ilson Dias, 66 anos, ambulante há 23 anos, reconhece que sente o desgaste do trabalho contínuo, mas não pensa em parar. “Tem dias que o corpo pede descanso, mas eu gosto de trabalhar. Ganho meu dinheiro, converso com a sociedade e me sinto útil. Para mim, parar agora não é opção.”
Apesar da rotina intensa e da exposição ao Sol e ao movimento do Calçadão, Ilson mantém a motivação e ressalta que o trabalho é uma fonte de dignidade e socialização. Sua experiência mostra que, para muitos idosos, a perseverança é tão importante quanto o próprio descanso.
Mais novo entre eles, Francisco Tibúrcio, 61 anos, começou a trabalhar no Calçadão em 2016. Para ele, o prazer vai além do dinheiro. “ Eu gosto de vir pra cá todo dia. Aqui eu tenho amizade, aqui eu encontro alegria. É o meu lazer, meu sustento e minha motivação“ conta.
“Mesmo quando a pessoa não compra, trato todo mundo bem. Isso me faz feliz.”
Francisco destaca que, mesmo em dias difíceis, a relação com os clientes é o que mais lhe dá satisfação. “Mesmo quando a pessoa não compra, trato todo mundo bem. Isso me faz feliz.”

Francisco Tibúrcio, encontra no Calçadão alegria no contato com os clientes. Foto: Stephany Apolinario
Trabalho, identidade e envelhecimento
Estudos mostram que muitos idosos optam por permanecer no mercado de trabalho não apenas por necessidade financeira, mas também pelo prazer de se manterem ativos. Pesquisas do IBGE e da FGV indicam que o número de trabalhadores com 60 anos ou mais tem crescido rapidamente no Brasil, e que manter-se ocupado traz benefícios como saúde mental, socialização, autonomia e sensação de propósito.
As histórias de Francisco, Ilson e Tibúrcio mostram que envelhecer não significa parar. Mesmo que alguns precisem trabalhar para se manter, muitos têm motivações próprias para estar no Calçadão. Pelo contrário: para eles, o trabalho é uma forma de se reinventar, preservar a autonomia e fortalecer os vínculos com a comunidade. No Calçadão de Imperatriz, a experiência e a dedicação desses idosos comprovam que a idade não limita a força de vontade nem a participação ativa no mercado de trabalho.