Mulheres dedicam seu tempo para cuidar do cemitério da Vila Independente

Com carinho, Francisca e Ilaide tentam manter o Jardim Betânia preservado

Jhulianny Belmiro

Durante quase todo o ano, os cemitérios de Imperatriz (MA) permanecem vazios. É apenas no Dia dos Finados, 2 de novembro, que esses espaços recebem cuidados e visitas. No Jardim Betânia, situado no bairro Vila Independente, a realidade não é diferente.

Em 2017, a prefeitura de Imperatriz realizou uma reforma para preparar o cemitério para a data: foram feitos serviços de calçamento, pintura e coloração de dois portões. A antiga cerca de arame liso foi substituída por um muro, com o objetivo de garantir a segurança dos moradores do entorno, incomodados com a presença de vândalos.

Mesmo após as reformas, o cemitério segue enfrentando abandono e vandalismo, enquanto a manutenção geral continua sendo esquecida pelo poder público. Ainda assim, apesar das dificuldades, duas moradoras da região dedicam seu tempo a preservar a memória ali enterrada e preparar o espaço para receber visitantes.

Na entrada do cemitério, uma pracinha com bancos acolhe os moradores que se reúnem para conversar e observar o movimento (foto: Jhullianny Belmiro).

Vínculo e resistência

“Tô fazendo meu serviço e, pra mim, é uma terapia.” É assim que Francisca Rocha, moradora do bairro Vila Fiquene desde 1987, descreve o seu ofício. Ela zela e limpa o cemitério para manter o espaço digno, nem sempre por obrigação, mas por gosto. “O que dá pra gente fazer, a gente faz”, afirma.

Mesmo sem responsáveis fixos pela manutenção do lugar, ela continua ali, presente.“Eu ameaço chamar até o Bandeira 2, pra ver se eles olham pra cá”, diz ela, em referência a um popular programa televisivo. Segundo Francisca, os responsáveis pela manutenção do local raramente aparecem.

Com a morte da mãe, há quatro anos, o vínculo com o cemitério tornou-se ainda mais afetivo. “Faço de tudo pra deixar a cova da minha mãe limpa.” Para ela, as histórias não terminam com a morte.

No balde, ferramentas essenciais: um pano para limpar as cerâmicas, a colher de pedreiro e, ao lado, o rastelo para juntar as folhas (foto: Jhullianny Belmiro).

É nesse mesmo espaço que também atua Ilaide Feitosa, moradora da Vila Independente há 38 anos. Ela passou a zelar por túmulos a pedido de conhecidos do bairro, há 25 anos. Alguns pagam, outros somem com o tempo, mas ela permanece. “Tem uns aí que já tem mais de ano, e assim mesmo eu ainda tô cuidando, tô esperando ver se aparece.”

Ilaide não está todos os dias no cemitério, mas quando é chamada, assume o trabalho com dedicação. Para regar as plantas, paga a nora. O resto faz com as próprias mãos. Varrer, capinar e até plantar mudas, se necessário. “Dá mais trabalho que no inverno”, explica, sobre os dias em que as folhas tomam conta do terreno. Usa o que tem: rastelo, vassoura e até uma colher de pedreiro, mas conta também que precisa de luvas, porque as mãos ficam machucadas.

Ilaide trabalha apenas pela manhã, utiliza blusa de mangas longas e chapéu para se proteger do sol e máscara por conta da poeira (foto: Jhullianny Belmiro).

Além das duas, outros moradores da região também colaboram com os cuidados do cemitério. São esforços contínuos, movidos pelo respeito e pelo carinho com quem já partiu, que fazem do Jardim Betânia um lugar de memória ativa.

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, desenvolvido em parceria com a disciplina Laboratório de Produção de Texto I (LPT), chamado “Meu canto tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.