Mulher jornalista no ambiente esportivo imperatrizense

A jornalista Ananda Portilho relata sua passagem na assessoria de comunicação do time de futebol Cavalo de Aço (Sociedade Imperatriz Desportos) e os desafios que enfrentou durante esse período no clube.

Repórteres: Alicy Teixeira, Julia Lago, Kaylane Freire e Letícia Silva

Foto: Acervo pessoal

Ananda Portilho em imagem de 21 de maio de 2021.

 

Além dos obstáculos existentes à construção bem-sucedida de qualquer carreira, há o preconceito que muitas mulheres enfrentam. Essa realidade é claramente acentuada quando se trata do mundo esportivo. O futebol, esporte que ocupa a maior parte na imprensa brasileira, é um meio ainda muito dominado pelos homens. A prova disso é que em 2016 os cadastros da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE) mostram que de um total de 1.388 jornalistas: 1.343 são homens e somente 45 são mulheres.  Para tratar do papel da mulher no jornalismo esportivo, relatando um pouco da sua trajetória e seus desafios, a entrevistada é a jornalista Ananda Kaline Muniz Portilho. Formada pela Universidade Federal do Maranhão – Imperatriz, já foi assessora do Cavalo de Aço (Sociedade Imperatriz Despostos), âncora do programa, “A Grande Jogada”. Além disso, exerceu cargo de chefe de redação na Band Imperatriz em 2019 e atuou na CBN Tocantins por aproximadamente três anos. Na entrevista, além de comentar sobre os desafios e situações enfrentadas, ela relatou também sobre sua rotina e trajetória.

Imperatriz Notícias: Você trabalhou durante oito meses na assessoria de comunicação do time de futebol Cavalo de Aço (Sociedade Imperatriz Desportos), relate como era sua rotina.

Ananda Portilho: Então, acho que primeiro vale destacar que meu trabalho no Imperatriz foi um trabalho voluntário, nunca fui contratada pelo clube, eu prestava serviço de forma voluntária porque eu sou torcedora do Imperatriz, porque o time passou por um momento muito sensível e muito difícil do ano passado para cá e na época eu entendi que eu podia colaborar de algum modo atuando na comunicação. Como eu não era contratada, eu não tinha períodos definidos, não ia todos os dias para o treino, por exemplo, eu ia encaixando com minha rotina, “ah, hoje à tarde eu estou tranquila, então hoje eu vou dar um pulo no treino, vou ver como as coisas estão funcionando, vou ver se tem alguém da imprensa que está precisando de alguma coisa”. Eu me organizava dessa forma, além de mim, eu contava com a colaboração dos dois meninos do marketing, que continuam, e do fotógrafo também, todo mundo era voluntário, todo mundo fazia tudo que precisava ser feito. As minhas atividades dentro da assessoria de imprensa do Imperatriz, primeiro claro, é atendimento de imprensa, foi uma grande parte do trabalho, é receber as demandas ou então gerar uma demanda, no meu caso positivo obviamente, fazer a marcação das pautas, ter um contato direto com os jogadores, preparar esses jogadores para as entrevistas, acompanhar a diretoria, prepara-los também para entrevistas, e tentando plantar coisas positivas dentro da imprensa, tanto de Imperatriz como do Maranhão, de um todo, eu já tinha um bom relacionamento por causa de quando eu era setorista, então eu fui usando os caminhos que eu já tinha para tentar ajudar o time de alguma forma, porque já vinha de muita coisa negativa, então a gente queria plantar coisas positivas, até existe uma campanha em andamento de estruturação do time, e aí além de fazer esse atendimento de imprensa eu também fazia o acompanhamento de viagens por exemplo, o time ia jogar fora, eu ia junto, fazia o atendimento da imprensa local, preparava material da imprensa, material de apoio, e fazia prévio, que era produzir material e sonora, informações, levantamentos, dizer por exemplo, quem estava pendurado, quem estava contundido. Depois do jogo, eu enviava outro material com o pós, sonoras, e etc., materiais que pudessem abordar as questões depois do jogo. Então eu fazia todo esse trabalho de acompanhamento mesmo de imprensa, de treinamento de atletas e fazia a parte de gestão porque tinha uma crise muito grande de ser gerenciada, isso tomou uma parte muito grande do meu tempo. E aí basicamente era isso mesmo

IN: Você falou a respeito dos homens e não se referiu a nenhuma mulher. Quando você entrou para ser voluntária não tinha nenhuma outra mulher nesse ambiente?

AP: Tinha duas figuras femininas no time de time do Imperatriz na gestão passada, faziam parte da diretoria e elas são filhas do ex-presidente, então elas colaboravam com o time. Mas, quando eu entrei elas já estavam afastadas, então só tinha eu de figura feminina dentro do time. É até engraçado, porque nas viagens, o pessoal sempre dividia quarto e eu tinha o quarto só para mim porque eu era mulher e eu ficava sozinha, pessoal no hotel brincava assim “nossa você está aí de bendito ao fruto”, porque era realmente uma delegação de 30 homens e só eu de mulher.

IN: No jornalismo esportivo atuam poucas mulheres. Qual seu ponto de vista em relação a isso? A mulher tem menos chances de trabalhar no jornalismo esportivo?

AP: A mulher tem menos chance de trabalhar no jornalismo esportivo e a mulher ela é muito desacreditada. Então, para você provar o seu valor, você tem que ser muito melhor que qualquer homem mediano. Você não basta ser boa, você tem que ser excelente, tem que trazer um diferencial ao ponto das pessoas, não vou dizer não questionarem, porque eles sempre vão questionar, mas ao ponto de as pessoas pensarem duas vezes antes de questionar tua atuação, porque você é tão boa naquilo que as pessoas ficam um pouco sem argumento. Mas sim, falta muito oportunidade para as mulheres dentro do jornalismo esportivo e eu falo assim em todos os âmbitos, não só dentro dos clubes, mas também fora na parte de cobertura, de acompanhamento.

IN: Como era a sua relação com os jogadores? Você em algum momento, pelo fato de ser mulher, sentiu preconceito partindo deles?

AP: Então, preconceito eu nunca senti. Eu vou ser muito sincera, a aceitação deles era muito boa porque eu sou bonita do ponto de vista padrão, então acaba que facilitava esse contato, a gente sabe que homem é terrível, jogador então… misericórdia. Então facilitava sim esse contato, o fato de eu ser uma mulher bonita. Só que eu precisava transpor essa barreira, eu precisava impor o limite do respeito e precisava mostrar que eu não era só bonita, que eu estava ali desenvolvendo um trabalho e eu sempre consegui fazer isso, tenho uma relação maravilhosa com todo mundo. Eu lembro que as vezes eu chegava para conversar com algum para entrevista, aí eu brincava com eles e eles falavam assim “nossa, eu jurei que tu era brava”, e eu falei assim: “eu sou brava, estou aqui sorrindo só porque eu preciso de você”. Mas eu sempre consegui impor os limites que eram necessários ser impostos, sem deixar a relação pesada e dificultosa no trabalho, em alguns casos eu tive que ter muito jogo de cintura para conseguir me sair das investidas sem criar essa barreira que prejudicasse meu trabalho.

IN: Durante esse período que você trabalhou no Cavalo de Aço, você era feliz ou almejava um clube maior?

AP: Eu era muito feliz, eu sinto muita falta do time. Eu saí por conta própria, eu decidi sair, eu entendi que meu tempo de voluntariada ele tinha passado, que eu tinha colaborado com o time da forma como eu podia ter colaborado naquela época. É claro que eu sempre desejei mais, mas os meus sonhos por mais sempre passaram pelo Cavalo de Aço porque eu sou torcedora. Óbvio que se um Sampaio Corrêa da vida me chamar para assessorar eles na série B eu também vou, se um time lá do Sul me chamar para assessorar eles eu vou, vou porque eu gosto da assessoria de comunicação esportiva. Mas o Imperatriz sempre vai estar no meu coração, vai ser minha prioridade. Fui muito feliz, aprendi demais, tive muitos momentos ruins com o time por causa de tudo que aconteceu, tive muitas alegrias, tive muitas lembranças boas, fiz amigos para vida inteira, então foi uma experiência incrível.

IN: Para concluir, queríamos um conselho. O que você diria para a mulher que quer seguir a carreira de jornalista hoje, qual conselho você daria?

AP: Se dediquem, sejam muito boas, porque infelizmente a gente só consegue ocupar esses espaços se a gente estiver muito acima de homens que também são bons. Então se dediquem, estudem, se preparem e principalmente, tenham na consciência quem vocês são, o tanto que vocês passaram para chegar onde chegaram, porque vocês vão acumular uma carga de experiências muito grande, quando isso acontecer, que vocês estiverem em um desses espaços que vocês olharem para trás, vocês vão lembrar de tudo que vocês passaram e vocês vão saber que tudo aquilo foi necessário para que vocês chegassem onde vocês estão e para que vocês soubessem aguentar e lidar com tudo aquilo que vocês vão precisar lidar para continuar dentro desse ramo esportivo.

 

Entrevista produzida para a disciplina Técnicas de Entrevista e Reportagem (2020.2), ministrada pela professora Nayane Brito.