Mostra Afro 2025 movimenta Imperatriz e reafirma força da arte negra

A IX Mostra Afro de Artes Cênicas – MARCAS 2025 encerrou mais uma edição celebrando o talento, a diversidade e a força da produção teatral regional..

Por Bruno Gomes e Luiza Cruz

Foto: Luiza Cruz

Grupo Kizomba se apresenta com um conjunto de danças repletas de cultura e ancestralidade.

A IX Mostra Afro de Artes Cênicas – Marcas 2025 transformou Imperatriz em um ponto de encontro para manifestações artísticas afro-brasileiras entre os dias 13 e 16 de novembro. Com entrada gratuita e atividades distribuídas em diferentes horários, o evento reuniu grupos locais e regionais, fortalecendo o debate sobre identidade, diversidade cultural e democratização do acesso à arte. A programação ampla, com palestras, oficinas, espetáculos e apresentações especiais, atraiu moradores da cidade e de municípios vizinhos.

Para o coordenador da Mostra, Domingos de Almeida, o impacto cultural do evento é evidente não apenas na plateia, mas também no acesso democrático que ele promove. “Democratiza o acesso das pessoas que não podem pagar pra vir assistir, estimula as pessoas a virem frequentar o teatro, e mais do que isso, mostra a importância das políticas públicas de cultura. Porque esse evento é feito com dinheiro público, com o dinheiro da Lei Paulo Gustavo. Então eu acho que isso é o mais importante que eu tenho que frisar”, afirmou.

Ele também destacou que, ao longo dos três primeiros dias, cerca de 400 a 500 pessoas passaram pela Mostra, entre público, artistas e produção. “Até agora eu só tenho recebido palavras maravilhosas de apoio, de incentivo e pra que a gente continue. E graças a Deus eu estou feliz com isso”, completou.

Local, atividades e feedback

Realizada no Teatro Ferreira Gullar e em espaços da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a Mostra trouxe discussões centrais sobre democracia racial, representatividade e valorização das narrativas negras, abrindo espaço tanto para artistas experientes quanto para grupos estudantis e amadores. Um dos destaques da abertura foi a palestra “Movimento Negro e Democracia Racial”, ministrada pelo Prof. Dr. Domingos Alves de Almeida, que reforçou o compromisso do festival com a formação crítica do público.

Além dos debates, a programação ofereceu oficinas de dança afro e teatro, com participação do Grupo Afixirê (Açailândia) e da artista internacional Scarlett Arias, do La Palapa Teatro, do México. Ao longo dos quatro dias, dezenas de espetáculos circularam pelo palco, trazendo temáticas que vão da resistência e identidade negra até narrativas contemporâneas sobre comunidade, memória e ancestralidade.

Entre o público, a professora Gabriela Ferreira de Miranda, de Açailândia, que participou pela primeira vez da Mostra, destacou o encantamento com a qualidade das apresentações. “Estou maravilhada com as peças, com os espetáculos, com os talentos. Desde ontem a gente assistiu das crianças, adolescentes, e hoje também as peças amadoras. Então eu fiquei maravilhada com esse evento.”

Questionada sobre a importância de eventos gratuitos para a população, Gabriela destacou o impacto formativo: “Tinha ainda a ver que a sociedade está muito longe de consumir essa cultura. As pessoas precisam se envolver, porque isso proporciona o protagonismo dos nossos estudantes, das nossas crianças. Às vezes tem ali um talento amortecido. E quando eles vêm para esses eventos, aflora esse talento que pode ser explorado. Eu vejo essa importância nesse despertar do protagonismo.”

Companhias de diferentes cidades do Maranhão — como Imperatriz, Açailândia, Alto Alegre do Pindaré e Lajeado Novo — compuseram a grade, apresentando montagens como Aruanda – Lugar de Paz, O Reino dos Mal-Humorados, Enquanto Houver Sol na Pele, O Encontro Negro, Xica do Sertão de Terra e Puaca e Meninas à Deriva, entre outros. A curadoria apostou na diversidade estética e temática, valorizando produções que dialogam com a cultura afro-brasileira em múltiplas linguagens. Para a atriz Ana Cristina Mendes Santana, do espetáculo Xica do Sertão de Terra e Puaca – Ato II, eventos como a Mostra são fundamentais para fortalecer a presença da arte negra nos palcos. “Esses eventos são muito especiais, principalmente por serem gratuitos e abertos ao público, para pessoas que nunca tiveram contato com a arte estarem aqui. E também pra visibilidade negra, né, dessa pauta que a gente está abordando. É muito interessante. A gente pode conhecer novas pessoas e novos artistas.”

Ana Cristina também destacou o que espera entregar ao público com sua atuação: “Eu quero que ele leve uma mensagem, não só as mensagens que passamos nas peças, mas também que a vida pode ser mais leve. Se você tirar um momento do seu dia pra vir assistir uma peça no teatro, ou até mesmo se interessar em conhecer a arte, não só teatral, mas a arte em si.”

Vencedores da IX Mostra Afro de Artes Cênicas – Marcas 2025:

Fotos: Luiza Cruz

A Mostra finaliza a noite com a entrega das premiações na categoria estudantil e amadora.

No encerramento, realizado no domingo (16), o público acompanhou o espetáculo “Entre o Sertão e el Desierto”, da Companhia Afro de Teatro Reinvent’arte (CIARTE), seguido da aguardada cerimônia de premiação que reconheceu os destaques das categorias Estudantil, Amadora e os prêmios especiais da edição.

Categoria Estudantil — Dia 14

Melhor Espetáculo: O Menestrel — Alto Alegre do Pindaré

Melhor Direção: O Menestrel — Alto Alegre do Pindaré

Melhor Ator Coadjuvante: Cauã, por O Encontro de Júlia e Rodolfo — Alto Alegre do Pindaré

Melhor Atriz Coadjuvante: Maria Clara, por Meninas à Deriva — Alto Alegre do Pindaré

Melhor Ator: Renan Oliveira, por Enquanto Houver Sol na Pele — Grupo Resistir (Açailândia)

Melhor Atriz: Erika Raquel, por O Menestrel — Alto Alegre do Pindaré

Categoria Amadora — Dia 15

Melhor Direção: Xica do Sertão de Terra e Puaca – Ato II — Domingos de Almeida

Melhor Espetáculo: Xica do Sertão de Terra e Puaca – Ato II — Domingos de Almeida

Melhor Ator Coadjuvante: José Matos, por Xica do Sertão de Terra e Puaca – Ato II

Melhor Atriz Coadjuvante: Evelyn Cristina, por Escorregou, Foi na Calçada!

Melhor Ator: Igor Vasconcelos, por Xica do Sertão de Terra e Puaca – Ato II (El Diabo)

Melhor Atriz: Rosângela, por Xica do Sertão de Terra e Puaca – Ato II Prêmios Especiais

Premios especiais

Menção Honrosa: Doralice Mota

Melhor Atriz Internacional: Escarlate

O evento terminou com uma apresentação cultural do Grupo de Dança Kizomba, celebrando a potência da arte afro-brasileira e encerrando a mostra sob aplausos. Para Imperatriz, o evento reforçou o papel da cidade como polo cultural e ampliou o reconhecimento da produção artística negra na região.