Moradores do Colina Park ainda reivindicam melhorias após enchentes históricas

Habitantes falam sobre a experiência de viver no loteamento e as consequências das inundações

Amanda Guimarães

Entre 2020 e 2022, o conjunto de lotes Colina Park, em Imperatriz – MA, enfrentou inundações graves. O caso mais severo ocorreu em 15 de janeiro de 2022, quando cerca de 57% das 64 quadras, cerca de 14, ficaram submersas durante 20 dias. Por volta de 200 moradores tiveram que deixar suas casas. Em resposta, a decisão judicial proferida pela juíza Ana Lucrécia Bezerra determinou a proibição de vendas e construções no local no dia 31 de janeiro de 2022.

A Defesa Civil declarou, em laudo técnico, que metade do loteamento não tinha condições para moradia, por causa dos grandes riscos de alagamentos. Em média, 340 casas foram atingidas na época.

Foto aérea mostra a situação das quadras do conjunto Colina Park após o alagamento de 2022. (Reprodução/Enquanto Isso Maranhão)

Francisca Pereira da Silva, de 70 anos, revela que mora no bairro há 11 anos. Ela se mudou para o residencial em 2013 e construiu a planta da própria casa. A moradora descreve que gosta muito de viver no local e que, depois de ter se aposentado, estava decidida a procurar uma área menor para morar e o escolhido foi o Colina Park. “Eu vim pra cá porque foi um plano de Deus”.

Residente há mais de sete anos no bairro, o contador Edmilson Guimarães Nascimento, 40 anos, considera o residencial bom e tranquilo de se morar. “Não acontecem tantos assaltos, a única parte ruim é ser um pouco afastado do centro da cidade, e com duplicação da BR ficou difícil o acesso”, pondera.

Relembrar

Morador da quadra 28, Edmilson conta que os alagamentos ocorrem no bairro desde a sua fundação, em 2013. Ele conferiu essa informação por meio de amigos, só depois de já ter se mudado e construído sua casa. “O maior alagamento foi de 2022, alagou nossa rua e quase metade do bairro. Moro no lote 40, a água nunca tinha chegado a esse nível e esta última foi uma das maiores. Nos anos anteriores, as últimas quadras sempre sofriam com isso”, explica Edmilson.

A água não chegou a entrar na casa do morador, pois Edmilson construiu uma calçada alta. Mas ele revela que foi muito difícil conciliar os gastos e até mesmo os sacrifícios para garantir uma boa moradia para os filhos e a esposa; “Vendo uma situação dessas a gente fica aflito, porque já é difícil manter o investimento e se desfazer também fica complicado”, afirma.

Imagem mostra nível da água na calçada do morador no lote 40. (foto: Edmilson Guimarães)

Edmilson teve que se mudar para uma casa alugada durante 30 dias com a família e só conseguiu levar alguns utensílios de casa, com ajuda de uma canoa emprestada do vizinho. Resolveu sair do Colina Park, no período da enchente de 2022, por conta da dificuldade de locomoção e pela Defesa Civil ter cortado a energia do bairro. “Tivemos a ajuda da Defesa Civil do Corpo de Bombeiros, que estavam fazendo o que era ao alcance, mas a principal força foram as dos próprios moradores”.

Em 2022, Francisca conseguiu se mudar antes mesmo do nível da água aumentar, mas ainda assim, se sentiu espantada com tudo que estava acontecendo. “Eu nunca tinha visto aquilo, eu fiquei apavorada. Eu fiquei tão desnorteada que eu não voltei aqui para ver se a casa tinha entrado água. Aí meu filho disse: ‘Mãe, a sua casa não entrou água não, coloquei até o cachorro lá dentro’”, descreve.

Frente da casa de Dona Francisca, nos primeiros indícios da enchente. (foto: Francisca Pereira)

Francisca diz que gosta muito da casa em que mora, mas quando teve que sair se sentiu apavorada, porque nunca tinha enfrentado uma enchente. Passou cerca de 20 dias fora, em um quitinete na Nova Imperatriz, e acreditava que não iria conseguir voltar mais. “Mas eu vim quando a água secou. Lavei e arrumei a casa toda. Lá eu não conseguia dormir. Me deitei na rede daqui de casa à tarde e dormi. Foi um grande alívio para mim e eu gosto daqui. O Colina Park, se não fosse esse problema da enchente, estava tudo feito aqui, tinha tudo para ficar bom”, garante.

Os dois moradores relatam que nem durante e nem depois da enchente perceberam um suporte maior das autoridades; A ação mais contundente foi a dos residentes locais em ajudar, e de forma individual, para fazer as mudanças e também no retorno. “A única ajuda que tive foi que eles secaram a fossa, essa foi a única”, conta Francisca. Os proprietários de algumas casas onde o alagamento foi de severidade maior também chegaram a ser indenizados.

Mudanças

Comparando com a situação atual, Edmilson expõe que relacionado à estrutura do bairro, não aconteceu nada de diferente do normal para solucionar os problemas da enchente. Ele percebe que houve uma grande perda nos valores dos lotes. “ Não pago mais a mensalidade do lote. Depois do alagamento entrei com ação judicial, por causa dos danos e até hoje não houve desfecho sobre a situação que irá ficar o bairro. Teve uma audiência, mas nada foi decidido”.

Já Francisca menciona que não entrou na justiça e continua pagando as parcelas do lote, que a cada ano, aumenta o valor. “Só o que eles fazem muito é cobrar as parcelas pagas. Você paga e as vezes eles ficam dizendo: ‘Eu não estou vendo que tá pago’. Eles estão muito rígidos em receber, só pensam em receber”.

Chegou a ser acordado que a prioridade seria dada às resoluções para os proprietários de casas afetadas que entraram na justiça e somente depois às outras. “Eles chegaram a fazer um trabalho para não encher de água em alguns pontos que alagam. Eles não fazem é falar porque estão seguros do que eles fizeram”, argumentou Francisca.

Depois desses anos, o alagamento na visão dos moradores, foi um assunto totalmente esquecido pelas autoridades. A quantidade de moradores diminuiu consideravelmente e  a reportagem presenciou um grande número de imóveis abandonados e demolidos no final do loteamento.

Loteamentos nas últimas quadras foram abandonados e as casas demolidas por moradores. (fotos: Amanda Guimarães)

“O bairro se tornou desvalorizado depois das enchentes. O valor dos imóveis, alguns deles caíram mais de 50%. Tem casas aqui que antes eram R$ 400 mil ou R$ 500 mil e o pessoal estava vendendo até por metade do preço, E mesmo assim, ainda não conseguiram ser comprados”, detalha Edmilson. Além do valor que já foi investido por moradores, há somente duas opções: ou negociam barato para conseguir o financiamento, ou continuam morando na casa.

Até o momento, o empreendimento do Colina não se prontificou a agir. Os atingidos pelas enchentes estão buscando na justiça como será resolvido o desfecho da situação.  As vendas de lotes foram liberadas, mas ainda assim, persiste um marco negativo no loteamento. “Teve uma senhora aqui do lado que ia fazer uma área comercial e disse que não vai mais fazer. Não fez uma clínica de estética, colocou a placa de venda. Foi um caso que pesou muito aqui para o Colina”, comenta Francisca.

Os moradores esperam pela contribuição e melhorias da gestão do prefeito Rildo Amaral sobre o que consideram um grande descaso com o bairro. Relatam que, a depender dos responsáveis pelo próprio empreendimento do Colina Park, nada será resolvido. Temor e preocupação são sentimentos que permanecem sobre ocorrer um novo alagamento. “A gente sempre tem medo, porque como é algo natural, um fenômeno da natureza, independente do nosso querer isso pode acontecer novamente, o bairro não foi projetado para essas situações”, menciona Edmilson.

Situação atual das quadras e dos últimos lotes após quadro de abandono. (fotos: Luis Felipe)

A visão de Dona Francisca é marcada por medo e trauma de acordar algum dia e ver que tem água no chão de sua casa. “Eu durmo toda noite com medo de acontecer a mesma coisa”, compartilha. Residentes destacam que se não fosse o problema da enchente, o Colina Park seria um local ainda melhor de morar e viver, e aguardam serem visados pela nova gestão, para de fato não ser em vão a espera na justiça e ser dado um desfecho final sobre a situação jurídica do loteamento.

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.