Moradores da Vila Nova lembram, com saudades, das festas do passado

Texto e fotos: Emily Silva

A Vila Nova é só mais um dos bairros populosos que existem em Imperatriz-MA, porém, antigamente as coisas não eram tão corriqueiras assim. Os moradores não deixavam passar as datas comemorativas. As festas juninas, por exemplo, eram uma das mais aguardadas do ano. “Era muito bom, um fazia chá de burro, outro a pamonha e o outro ia acender a fogueira. Juntava os casais e todo mundo ia dançar”, relatou a aposentada Maria Rosa de Souza, de 74 anos, com uma expressão de felicidade ao relembrar aqueles momentos únicos.

Sentado na porta, o marceneiro Genilson de Carvalho, de 43 anos, conta com entusiasmo o que acontecia naquelas ruas, que hoje registram o  movimento  de crianças brincando. “Todo mundo se reunia, ajudava e fazia a festa junina na rua mesmo”. Para ele, além desta festividade, outra data bastante  significativa era o Carnaval, já que era nesses momentos que Genilson via toda a animação e a cooperação do moradores tentando promover uma diversão coletiva. “O pessoal do bairro se reunia e fazia um desfile”.

Na Vila Nova ainda são comuns as cenas de crianças brincando nas ruas e moradores sentados nas portas

Os sentimentos repassados pelos mais velhos são sempre de saudade e nostalgia. A aposentada Zuila Lima, de 72 anos, além de descrever os momentos bons das festas,  diz que queria ver os mais jovens promovendo brincadeiras como aquelas. “Era tão bom, todo mundo brincava, comia e namorava. Agora não acontece mais nada, parece que os jovens de hoje não gostam dessas coisas”, acredita Zuila.

Genilson diz que foram dois os motivos que fizeram com que as comemorações fossem interrompidas. Um deles é a internet, que distancia as pessoas e dificulta a interação. O outro fator seriam os perigos encontrados durante a noite, já que tudo mudou e a cada dia é mais complicado poder ficar até tarde na rua sem segurança e correndo risco.

Para ele, seria bom se pudesse voltar a um tempo mais seguro, com as pessoas sentadas nas portas, conversando e fofocando sobre de tudo. Além disso, Genilson, acredita que as crianças deveriam brincar mais, já que o uso excessivo de celular, além de distância, pode trazer problemas à saúde.

Tradição

Mas alguns moradores se surpreendem ao perceber que, apesar das mudanças de uma geração pra outra, muitos costumes continuam. Os principais são as brincadeiras, como pau- na-lata, pega-pega, bandeirinha, polícia e ladrão ou até mesmo sentar para conversar . “Aqui nessa rua as crianças ainda brincam muito, porque depois dos celulares não vejo quase ninguém brincando mais nos outros lugares”, pondera Maria Rosa, referindo-se às brincadeiras presenciais que elas ainda inventam.

Sentada em uma escadinha, localizada em uma rua sem saída cercada por mato, Evelin Silva, de 12 anos, conta que sente vontade de que os adultos façam de novo as festas comemorativas. Ela diz que queria poder  brincar, dançar e comer as comidas típicas de uma festividade junina. “Eu queria que tivesse de novo, eu acho que devia ser tão bom”, relatou.  Apesar de “mexer muito no celular” ela jura que não abandona os contatos presenciais. “ Eu gosto de brincar na rua, acho mais legal ficar com minhas amigas”.

Outra característica bastante interessante do bairro Vila Nova é a escadinha localizada na rua São João. O que antes eram degraus comuns, que serviam para entrar em uma casa  na esquina do quarteirão, hoje é um ponto de encontro cultural. Ao contrário das festas comemorativas que não acontecem mais,  permanece ali mesmo, após três gerações, e traz muitas histórias consigo. “A escadinha sempre esteve presente, hoje só as crianças que usam para brincar e conversar. Antes os jovens se escondiam dos pais e iam lá para namorar”.

Uma das curiosidades da famosa escadinha é a história de um casal que se escondia dos pais para namorar, já que a família do menino não aceitava o relacionamento. Após algum tempo a moça engravidou, eles se casaram e tiveram mais dois filhos, a escada marcou a história deles. Porém o fato mais  interessante é que os filhos mais novos também usufruíram da escadinha, fizeram amizades, brincaram e até mesmo namoraram no local, como os pais. Hoje, os netos desse casal brincam lá também. Várias crianças mantém a tradição do encontro no local, provando a importância desse patrimônio do bairro.

Escadinha na rua São João tem marcado as gerações

Para Evelin, a escadinha é uma muito importante, pois é o principal ponto de encontro dela e das suas amigas. Ela já brigou, fez as pazes, amizades novas e até mesmo chorou ali, muitos momentos que nunca serão esquecidos. Além de usar a escadinha como um refúgio. “Eu e minha amigas gostamos de ficar aqui, porque tem a sombra das árvores e podemos conversar sem ninguém para atrapalhar”, explicou.

É fato que a Vila Nova passou por muitas mudanças,  principalmente nos costumes. As celebrações, que antes eram organizadas todos os anos e comemoradas com entusiasmo, hoje são apenas feriados para os moradores. A união, cooperação e toda a euforia foram deixadas no passado.

Porém, a escadinha permanece presente na vida da comunidade. Apesar das mudanças dos pensamentos e hábitos dos mais novos, o local ainda abriga histórias. Genilson diz que se sente feliz vendo as crianças mantendo o hábito de sentar na escada, criando as suas próprias festas e brincadeiras. “Mesmo não tendo mais as festas é legal ver as crianças indo na escadinha, porque isso pelo menos nós ainda temos.”

Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, desenvolvido com os estudantes do 1º semestre do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA). Eles e elas foram estimulados a procurar histórias no entorno onde vivem.