População lamenta péssimas condições de infraestrutura e saúde da região
Elenilson Silva
Imperatriz possui 127 bairros, conforme o serviço de consulta de CEPs dos Correios, com exceção dos setores da Rodoviária e do Parque de Exposições, que são reconhecidos apenas por suas respectivas comunidades. E, dentre eles, está a Vila Ipiranga, que, assim como os demais, sofrem com a péssima infraestrutura. Das 36 ruas que o bairro possui, praticamente todas são mal-conservadas e quase que intrafegáveis.

Soriano Carneiro, conhecido popularmente como “Seu Flor”, é o morador mais antigo do bairro. Chegou em 1981, em companhia de mais quatro pessoas. Nascido na cidade de Dom Pedro (MA), logo se mudou para Tuntum, no mesmo estado. Com o falecimento dos seus pais, migrou para Mucuíba, hoje nomeada Senador Laroque, depois para João Lisboa e, de lá, para Imperatriz. “Cheguei aqui no bairro já fui logo fazendo minha casinha de tábua”, ressaltou.
Seu Flor disse que as terras do bairro pertenciam a uma imobiliária e, segundo ele, algumas ruas já estavam cortadas, outras não, sendo todas vendidas. “Comprei o meu pedaço de terra. Só que os outros compraram e não pagaram”, comentou em referência à situação fundiária que originou o bairro.
Durante o tempo que mora na Vila Ipiranga, seu Flor disse que percebeu “pouco ou quase nada” em termos de benefícios públicos. “A não ser passar uma máquina na rua”, ponderou. O morador ressalta que só continuou no bairro até hoje pelo fato de ser barato mesmo. Também recordou alguns detalhes da localidade na transição dos anos 1980 para 1990. “Aqui pertinho da minha casa tinha um riacho que dava pra vê os peixes”.
Assim como a maioria dos bairros de Imperatriz, a Vila Ipiranga também sofre com a saúde precária, como nos conta seu Flor. “Não tem nada, saúde é zero aqui. Se adoecer, tem que pagar uma consulta. Os agentes de saúde vêm fazer visitas em quatro a quatro meses e olhe lá”. Mas, apesar de todas as mazelas do bairro, Soriano diz que se sente à vontade onde mora, por ser bastante tranquilo.

Vilma Maria mora na Vila Ipiranga há 26 anos. Chegou no bairro em setembro de 1999, vinda da cidade de Amarante do Maranhão, distante 111,5 km de Imperatriz. Em busca de uma vida melhor, alojou-se no local e fez o seu primeiro barraco. Na época, a rua tinha poucas casas. “Cheguei aqui, era só mato, era tudo Juquira. Aí teve uma grande invasão, sabe? E vinha gente de todo canto em busca de um pedaço de chão”.
Deslocamento
Dona Vilma afirma que o acesso ao bairro era muito complicado, até mesmo para os alunos se deslocarem para a escola. “Tinha que colocar sacola nos pés. A rua era só uma vereda e muita lama”. Na época, havia somente a escola Ipiranga, que segue única, sendo que, somente anos mais tarde houve a implantação de uma creche. “Só em 2004 pra 2005 que foi feita uma creche pra crianças, a Santa Terezinha”.
Na sua opinião, o bairro mudou um pouco, com a chegada de mais moradores na rua G, pois tinha muita grota em todo bairro. “Lembro que um dia minha neta quase ia sendo levada pela água”, acrescenta. Vilma recorda que na época “pegou” vários lotes na invasão do bairro. “A intenção era trazer meus filhos pra perto”, ressalta.

Já Ivanessa França chegou na Vila Ipiranga em 2001, vinda da cidade de Amarante do Maranhão. Mudou-se com o seu esposo e seus dois filhos pequenos, assim como muitos outros moradores, em busca de uma vida melhor. Ela é filha de dona Vilma e veio a pedido de sua mãe. “Ela já morava no bairro há dois anos. A gente sabia das dificuldades que viríamos encontrar, mas, mesmo assim, resolvemos vir morar aqui”.
A família alojou-se praticamente sem nada. Em um primeiro momento, não ficaram na rua G, local que sua mãe já residia. “Resolvemos alugar uma casinha pra gente morar mesmo, ter o nosso cantinho”. Determinado dia aconteceu uma invasão no bairro na rua G, só que era do outro lado da rua, então ela tentou conseguir o lote. “Nesse dia resolvi ir lá com meu ex-marido e a gente conseguiu pegar uns dois terrenos. Aí já construímos um pequeno casebre na época”, explicou Ivanessa.
Ela sempre foi uma pessoa ativa, daquelas que falam o que pensam. E esse seu jeito de ser, foi o que fez que conseguisse uma pequena benfeitoria. “A rua G, além de ser só uma vereda e ter uma grande dificuldade de acesso, era cortada por uma grota. Então um dia fiquei sabendo que o prefeito na época, Idon Marques, estava no bairro. De imediato fui até ele e pedi pra por umas manilhas, e já no outro dia o pessoal já estava colocando, melhorando mais o acesso”.
Apesar desse pequeno serviço feito na rua G, a sua rua, assim como as demais do bairro, continua em péssimas condições. O problema piora no período chuvoso, com lamas e buracos por toda parte. “Eu mesmo, pra ir até o meu trabalho, tenho que sair pelo bairro vizinho, que é o Jardim Tropical, pois é grande a dificuldade para o tráfego pela rua G, tanto a pé, de bicicleta ou de carro”.

Victor Gabriel tem apenas 13 anos e fala sobre as dificuldades de ir à escola Ipiranga em seu bairro, isso principalmente em tempos chuvosos. “É muito difícil, porque as ruas são cheias de buracos e, quando chove, fica tudo alagado e com lama. Às vezes, nem dá para sair de casa direito, e minha mãe fica com medo de eu cair ou me machucar”.
O jovem estudante disse que quando está muito ruim, sua mãe tenta levá-lo. “A gente tem que procurar outros caminhos mais longos ou até mesmo sair pelo outro bairro”. Com tamanha dificuldade de os alunos se deslocarem para estudar, muitas vezes as aulas são até canceladas. Devido aos alagamentos, algumas ruas ficam muito ruins, até mesmo as da própria escola.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.