Henry Araújo e Melissa Sophie
Organizadores e participantes relatam histórias e momentos marcantes da festa
Fogos de artifício são disparados, a caixa de som toca “Cheia de Manias”, do Raça Negra enquanto uma modelo desfila pela passarela usando um traje de banho. Na plateia, o público grita, bate palmas, bebe e dança entre amigos. Atrás do palco, crianças brincam no pula-pula. Tudo faz parte da festa em comemoração ao aniversário de 36 anos do bairro Parque Alvorada II, que ocorreu no mês de agosto. “O evento teve uma proporção tão grande, que ficamos assustados”, afirma Kele Soares, 40 anos, uma das organizadoras. Apesar da idade do bairro, a comemoração anual da data, que teve início em 2017, está apenas na 7° edição.

Joelma de Oliveira, 40, é presidente da associação de moradores há quatro anos e faz parte da organização do evento desde a primeira edição. Ela conta que a comunidade sempre realizou muitas ações solidárias para ajudar os residentes. Dessa experiência, surgiu a ideia de celebrar o aniversário do bairro. “A proposta era comemorar o nosso tempo de existência para justamente despertar nos nossos moradores o orgulho de pertencer a esse bairro”, explica.
A festa foi planejada de maneira mais estruturada este ano. Uma equipe de 20 pessoas se dividiu e calculou os custos, que chegaram a quase R$ 40 mil. Antes, o evento durava apenas um sábado e domingo, mas nesta edição, a celebração foi prolongada para quatro dias. Então, afinal, quando é o aniversário? Não existe uma data específica, os organizadores sempre planejam para que seja no primeiro final de semana de agosto.
Kele detalha que a programação teve início no dia 27 de julho, um sábado, com a Noite Católica e prosseguiu no dia 5 de agosto, um domingo, com atividades esportivas. “O pessoal gostou muito do torneio de baladeira”. No dia 10 do mesmo mês, ocorreu a festa principal, com cantores, barracas de comida e o concurso Garoto e Garota Parque Alvorada II. O cronograma foi encerrado com a Noite Evangélica, dia 11.
Importância
Uma das patrocinadoras e moradora antiga, Nágila Aklenes Reis Silva, 39, que é dona da loja “Closet da Ná”, expressa sua opinião sobre a relevância da festa para a comunidade. Para ela, não se trata de uma simples celebração, é uma forma de unir os habitantes locais e fortalecer os laços. “É muito grande, eu sinto que é incentivador já que outros bairros não têm esse costume de comemorar seus aniversários”, compara. Nágila também relembra o seu passado, quando chegou à região, carregada nas costas de seu pai com 3 anos, e só via água e lama. Essa foi a sua motivação para patrocinar o evento. “Eu não posso só residir aqui e sugar o bairro, tenho que investir nele.”
Embora viva uma rotina muito corrida e tenha um bebê, Nágila se esforça para apoiar a comunidade: “Eu procuro sempre ver o que estão precisando, todas as formas de patrocínio”. A dona da loja também revela que nessa edição dobrou os brindes oferecidos, e pretende fazer de novo no próximo ano.
A presidente da associação dos moradores vê a comemoração como uma oportunidade de mudar a percepção externa da região. A festa pode mostrar o bairro como um lugar unido e pacífico, acabando com a fama de área perigosa. “A importância é atrair um novo olhar das pessoas da cidade para o Parque Alvorada II”, destaca. Joelma acredita ainda que a visibilidade do evento pode promover melhorias e benfeitorias para a comunidade.
Experiências
O secretário de Agricultura de Imperatriz e conhecido repórter, Raimundo Roma, 49, também esteve presente no aniversário e, sempre que pode, participa das edições. “É uma oportunidade de interagir com amigos e conhecidos da comunidade”, comenta. Ele menciona também que, o aniversário deste ano foi mais organizado e contou com mais atividades interativas entre o público.
Gleyce dos Santos, 29, moradora e proprietária de uma das barraquinhas da festa, pensa diferente. Relata que a organização das barracas não estava muito satisfatória, pois deveria ter um espaço específico para elas e precisavam ser diferenciadas uma das outras. Ainda assim, a experiência foi positiva e tudo ocorreu conforme o planejado. Gleyce adiciona que nas edições anteriores era apenas consumidora e só este ano decidiu se envolver diretamente nas vendas. “Eu estava vendendo panelada, cerveja, refrigerante, água, espeto, um monte de coisinha”.

A estudante do 3° ano do ensino médio, Anna Maria Braga, 17, venceu o concurso Garota Parque Alvorada II. No começo, a adolescente tinha receio de participar da competição devido à grande visibilidade do evento, que desta vez foi divulgado até no rádio. O apoio de sua mãe e amigos ajudou-a na tomada de decisão.
Durante a festa, estar no palco foi uma sensação inexplicável. “Pessoas que eu nem conhecia torciam por mim. Isso sempre vai ficar na minha memória”. Além de ganhar o concurso, conquistou um prêmio de R$ 500 e um ano de internet grátis. O segundo foi significativo para Anna, pois antes, a sua família dependia da conexão de parentes e vizinhos. “Agora tem internet aqui em casa”, celebra.
Desafios
Trabalhar em equipe nunca é fácil, mas lidar com diferentes visões não foi o maior obstáculo. Kele diz que os organizadores tiveram dificuldade de levantar fundos para a estrutura do evento. Com patrocinadores contribuindo R$ 100 cada, não tinha como cobrir as despesas, como palco, iluminação, segurança e premiações.
“Não tínhamos nada, mas dissemos que iríamos organizar tudo nem que fosse em cima do trio da Paraíba”, recorda. Até que, duas semanas antes da festa, grandes empresas, como a Júpiter, se interessaram pelo evento, influenciadas pela visibilidade e divulgação. O número de patrocinadores, que era 70, aumentou para 120, e assim foi possível superar as dificuldades financeiras e garantir uma estrutura adequada.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.