Modernizar um objeto de fé: entenda como funciona a reforma de bíblias em Imperatriz

Repórteres: Camyle Macatrão e Thayná Castro

Foto: Camyle Macatrão.

Em Imperatriz, uma tendência crescente entre cristãos de todas as idades está transformando a forma como se relacionam com o livro sagrado: ao invés de descartar suas Bíblias antigas, muitos optam por reformá-las. Esse movimento, além de estar ligado ao  emocional, busca preservar o valor espiritual e pessoal das escrituras, marcadas por anotações pessoais ou de familiares, e por memórias importantes, vistas por muitos como o primeiro passo na caminhada de fé . A restauração da Bíblia surge, assim, como uma forma de valorizar e preservar a fé, em vez de descartá-la.

São poucos os restauradores de Bíblias em Imperatriz, e os que existem não trabalham exclusivamente com isso. A restauradora Gizelda Castro, dona da Editora Estampa, explica que, apesar de atualmente focar mais na produção de livros, ainda realiza reformas do livro sagrado. “A Bíblia é uma coisa muito pessoal, né? A pessoa quer guardar. Às vezes são relíquias que foram do pai, da mãe, do avô, e cada um tem um jeito de querer preservar.”

Bíblias recém reformadas. Foto: Camyle Macatrão.

A procura pela restauração é alta, mas a divulgação desse trabalho, na maioria das vezes, é feita pelo “boca a boca”, muitos conhecem o serviço por indicação de membros da igreja. No entanto, algumas empresas restauradoras, como a Livraria Teológica, optam por divulgar seus serviços nas redes sociais e nas rádios locais.

Homens e mulheres de diversas idades, credos e locais da cidade procuram os restauradores para modernizar e revitalizar o objeto sagrado. O valor da restauração em Imperatriz varia conforme o restaurador e os elementos utilizados durante a reforma, sendo necessário realizar um orçamento de acordo com as necessidades específicas do cliente. Na Livraria Teológica, os valores começam em R$ 65, enquanto na Editora Estampa variam de R$ 40 a R$ 200. O valor cobrado pela restauração é considerado justo, já que o preço de uma Bíblia nova pode variar de R$ 30 a R$ 300, dependendo do modelo e tamanho.

O processo de reforma dura, em média, um dia inteiro, embora possa variar de Bíblia para Bíblia devido ao estado de conservação, tamanho ou formato. Inicialmente, retira-se a capa antiga, remove-se a cola e corrige-se as imperfeições, como páginas dobradas, amassadas ou molhadas. Em seguida, confecciona-se uma nova capa personalizada de acordo com a preferência do cliente. Nas capas, o cliente pode optar pela aplicação de zíper, fotos de família estampadas, escrita em serigrafia, aplicação de micromantas, pérolas e lonitas. A adição de alguns processos pode aumentar o tempo de produção, como a aplicação de tintura na parte lateral das folhas. “Uma vez restauramos uma Bíblia católica de tamanho grande, que media 30 por 30. A dona queria algo personalizado, com muito brilho. Foi desafiador, pois era um dos nossos primeiros trabalhos na área. Pensamos que não iríamos dar conta, mas foi um sucesso,” relata a equipe da Livraria Teológica.

Processo onde é passada uma tinta sobre a forma e copiada na capa da bíblia. Foto: Thayná Castro.

Apesar dos desafios enfrentados durante o cotidiano corrido das restaurações, ainda há espaço para gestos solidários. A Editora Estampa recebe diversas Bíblias enviadas para doação. “Muitas vezes, a Bíblia chega aqui só com o miolo e nós fazemos uma nova capa,” narra Gizelda. Ela ealiza esse projeto de doação de Bíblias reformadas há alguns anos, conseguindo doar até 400 Bíblias por mês. 

Uma dessas doadoras é Felicidade Guimarães, uma fiel adventista que, há mais de 20 anos, envia Bíblias para reforma todos os meses. Essas Bíblias, na maioria das vezes, não são destinadas ao uso pessoal, mas sim para doações. Elas são recolhidas da comunidade, família e amigos, e enviadas para a Editora Estampa, onde são reformadas gratuitamente e redistribuídas. “Cada Bíblia que você doa é como plantar uma semente. Aquela semente só gera se a pessoa se interessar; aí ela cresce e prospera. Mas se a pessoa não se interessa, já não é coisa minha, é de quem a ganhou,” explica Guimarães.