Antigas moradoras compartilham vivências com um olhar histórico além da feira
Sofia Alves
Quando se fala no bairro Mercadinho, a primeira coisa que vem em mente é de uma das maiores feiras da região Tocantina, e que está no território há mais de 60 anos. Mas que tal um olhar mais aprofundado e histórico do comércio local? Nesta reportagem, três vozes compartilham suas experiências e vivências com o bairro.
“O Mercadinho é nossa vida, não me imagino em outro lugar. É aqui mesmo”, afirma Iêda Martins, 59 anos e autônoma. A moradora menciona suas primeiras impressões de quando chegou no bairro, onde, segundo ela, havia poucos comércios, e tudo era feito de uma forma mais caseira e orgânica. “Aqui em casa tinha uma quitanda com tudo de pouquinho. Mamãe vendia cachaça, açúcar, leite pasteurizado, tudo muito simples”.
A autônoma está no bairro desde que tinha 8 anos, e conta que viu todo o processo de transformação no âmbito comercial, inclusive fazendo parte dele. Quando jovem e mãe de três filhos, montou uma barraquinha em frente à sua casa, onde começou a fazer guaraná da Amazônia e mistos para vender aos moradores da região.
Já Zeneide Melo, 84 anos e dona de uma pequena mercearia, faz uma análise de seu próprio negócio com as evoluções territoriais. Ela comenta que quando chegou ao local, o cenário comercial era disperso. “Cheguei aqui em 1972, vim de Floriano – PI. O Mercadinho era coberto de pati e a rua Paraíba era uma lagoa”. Diferente de Iêda, que teve contato com o comércio e o empreendedorismo desde pequena, Zeneide apresenta uma narrativa divergente, mas carregada de bom humor: “Tinha um carro que meu marido vendeu e o comprador não pagou, mas sugeriu trocar por mercadorias. Até briguei no momento, mas foi daí que começamos”, diz ela, aos risos.
O processo de mudança ocorreu não só em um dos maiores bairros da cidade, mas também em seu primeiro negócio, um bar, que segundo Zeneide, depois de alguns anos já não fazia mais parte de sua realidade. “Minhas meninas estavam crescendo, as netas, fui olhando para as meninas mocinhas e quis mudar”. Acabou transformando o estabelecimento em uma pequena mercearia, que hoje ocupa uma grande parte de sua sala de estar.
“Aqui é tudo arrumadinho e com os preços nas coisas. Tenho muito gosto por isso”, enfatiza Zeneide.
Salto Econômico
“Meus pais sempre mexeram com comércio. Somos três irmãos e somente eu segui nesse ramo de comerciante”, relata a professora Sônia Alencar, 62 anos, que atua no âmbito do comércio no bairro há mais de 30 anos. “Me identifico muito com essa área. Já fui professora, diretora, mas me identifiquei porque é algo que gosto.” A comerciante frisa que é a segunda vez que coloca seu negócio em funcionamento, pois devido a alguns problemas, precisou passar seu comércio para frente, mas voltou para a área que tanto gosta.
Ela afirma gostar muito do bairro, pois é onde cresceu e acompanhou toda sua evolução. “Aqui na rua era parado, quem colocou o primeiro comércio fui eu. E com o movimento, foi abrindo uma coisinha do lado, um barzinho, um lanche”, comenta. A professora descreve que somente ela e Iêda possuíam negócios na região, e que o cenário do comércio tinha um grande fluxo somente na feira. Mas depois de sua instalação no território, o bairro começou a se expandir na área.
Hoje o bairro é referência comercial em toda a região Tocantina, abrigando não só sua grande feira, com os incríveis aromas e diversidade gastronômica, mas também trazendo consigo raízes e histórias de como o comércio se tornou sinônimo de revolução, sustento, conforto e acolhimento.
Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, ou “Meu canto também tem história”, desenvolvido por estudantes do primeiro ano de Jornalismo da UFMA de Imperatriz. A intenção foi desenvolver as técnicas de pauta, apuração, entrevista, redação e edição com temas locais. Esta também é a primeira publicação individual desses estudantes.