Texto e foto: Nylla Dias
“Nós da praça de Fátima, do lanche de rua, somos uma tradição que eu espero que se mantenha por mais muitos anos”. Conhecido como “Pescoço”, Israel Vieira de Paula, 56 anos, é dono de uma das lanchonetes mais tradicionais de Imperatriz, o Pescoço Lanches. Ele abriu o local há 39 anos e, desde janeiro de 2000, passou a funcionar 24 horas. Quem nunca foi matar a fome com um belo X-Tudo na praça, famosa pelos sanduíches?
“Tem gente que fala que não gosta do lanche gourmet e prefere o simples bem feito. Come o X-Maranhão do Sul com maionese temperada e uma Coca-Cola gelada enche a barriga com R$ 20 e vai embora pra casa feliz”, conta Ana Firmina, 51 anos, que trabalha atendendo os clientes há 16. Com o crescimento da cidade, o comércio de lanches se expandiu bastante e trouxe novidades, como hambúrguer gourmet e produtos um pouco mais caros, porém acabou se tornando mais elitizado. Mesmo assim, Dona Ana, como é respeitosamente chamada, garantiu que tem clientes fiéis, que não largam a praça e que mantém a tradição e a história.
Ana Flávia, 31 anos, trabalha como vendedora em uma loja próxima da praça e contou que gosta muito do ambiente ao ar livre e o cheirinho que se espalha dos lanches sendo preparados. Para os imperatrizenses, esse espaço tem muita história e tradição. “Quando se trata de comida boa e barata, aqui e na panelada a galera sabe que vai encontrar”, comentou Wanny Taline, 24 anos, responsável pelo H e B Restaurante e Lanchonete. Seu espaço ainda é recente, tem apenas um ano e quatro meses. Mesmo assim, tem muita história pra contar.
Para os consumidores, o esquema de funcionamento é vantajoso. Cada uma das lanchonetes escolhe qual horário vai ficar aberta. A maioria delas começa a funcionar às 17h e se mantém até as 6h da manhã do outro dia. O Pescoço Lanches é o único que não fecha nunca, faz turnos entre os funcionários para manter o local sempre funcionando.
Manter em um valor acessível o preço dos lanches tem sido um desafio para os comerciantes. “Trabalhar de graça a gente também não pode. Então eu calculo quanto custa para montar um sanduíche, qual é o valor do pão, ovo, salsicha, frango e da carne e coloco minha margem de lucro. Consigo tirar o valor justo para o meu sanduíche, nele atualmente eu cobro R$ 8”, explica Wanny. Os valores entre um estabelecimento e outro não variam muito, ficando nessa média, de R$ 8 a R$ 16, no Pescoço. Para ele, um sanduíche muito abaixo desse valor não preza pela qualidade.
Vivências
Quando questionados em relação à vigilância sanitária, todos disseram que o órgão responsável faz vistorias com frequência e que deixa explicações do que precisa ser melhorado e o que deve ser mantido para higiene e para segurança de todos.
A palavra mais significativa usada foi tradição, ela define com clareza o porquê daquelas pessoas ainda trabalharem ali, mesmo com a pandemia da Covid-19, que diminuiu drasticamente a venda desses comerciantes. Acima de tudo o local se mantém imponente, como diz dona Ana. “A praça de Fátima é central, ao lado do Calçadão, maior comércio da cidade. É a praça da igreja, um local de muito respeito”.
O lugar que tem muitas histórias boas pra contar. Nos anos 1990, por exemplo, os jovens saíram da balada da Fly Back, a única boate que havia na cidade e era costume fechar a noite comendo um sanduíche na praça. Os artistas que passavam pela cidade também paravam lá, porque a praça fica próximo ao melhor hotel que existia na época. “Eu, quando era jovem, comecei a sair para as festas e automaticamente quando terminava a galera vinha todo mundo pra praça, conversar e comer”, lembrou Antônio Francisco, 43 anos, enquanto apreciava seu lanche.
Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, desenvolvido com os estudantes do 1º semestre do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA). Eles e elas foram estimulados a procurar histórias no entorno onde vivem.