Uso de aplicativo diminui solidão entre idosos

Trocas de mensagens e chamadas de vídeo encurtam a distância. (Foto: Camila Vitória Santos)

Distanciamento social muda as rotinas e afeta as pessoas do grupo de risco

Bruna Carvalho

Um dos maiores desafios dessa pandemia tem sido o sentimento de solidão que afeta as pessoas idosas. A aposentada Josefa Ribeiro, 70 anos, procurou alternativas para amenizar os impactos causados pelo isolamento social e, para isso, contou com a ajuda da tecnologia.

Josefa comenta que participa de um grupo no WhatsApp com algumas amigas, no qual compartilham dores e alegrias. Faz parte, também, de um grupo com filhos e netos, e outro com os sobrinhos. Para ela, ficar sem companhia não é uma opção, mesmo que seja de forma virtual. “Nesse período de pandemia, o que vale ouro é a companhia de alguém”.

Os idosos são mais vulneráveis à contaminação do Sars-Cov-2, como é chamado oficialmente o vírus que transmite a Covid-19. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), pessoas com mais de 60 anos fazem parte do grupo de risco e estão mais suscetíveis às complicações causadas pelo vírus e, a partir das recomendações, tiveram que seguir o isolamento com maior cuidado. Eles evitam sair às ruas e receber visitas.

“Quando passo pela casa dela, a gente se fala de longe, sem chegar perto, sem se tocar. Só mesmo pra olhar e ver se tá tudo bem”, afirma o filho de Josefa, José Emanuel, de 43 anos. Mesmo com a saudade da companhia da mãe, com quem costumava tomar café da manhã todos os dias, entende que esses cuidados são necessários.

Segundo a cuidadora Vanessa Ferro, os idosos colocam a velhice como um ponto de solidão. Quando ficam mais velhos, se sentem mais sozinhos. Isso evidencia que é um sentimento que já existia antes da pandemia. Para a aposentada, “a vida de um idoso, por si só, já é cheia de cansaço, dores, sentimento de desprezo”.

Embora saiba que o isolamento é necessário, Josefa tem dificuldade para entender esse período. “Depois de um tempo comecei a sentir a dor do isolamento, quase entro em depressão. Cheguei a chorar escondida me sentindo isolada, não amada, distante do meu aconchego”, relata.

A idosa sente a ausência dos familiares e amigos, e recorda os momentos em que costumava receber visitas. “A gente não sente o calor de um aperto de mão, o calor de um abraço, o beijinho dos netos. Isso, pra mim, é uma das maiores dificuldades que eu tô enfrentando e que ainda não superei.”

Apesar desses impactos emocionais provocados pelo distanciamento, José Emanuel explica à mãe que esse período é passageiro e tenta manter a esperança de que em breve estarão todos juntos novamente. E, enquanto isso não acontece, vão mantendo contato diário pelo WhatsApp, o que ajuda a diminuir a saudade.

*Matéria produzida para a disciplina de Redação Jornalística, semestre 2020.1, com a orientação da profa. Yara Medeiros.