Jaimerson Fernandes
Festejo proporciona a participação de diferentes públicos e mantém cultura
Fortaleza dos Nogueiras, no Maranhão, possui 12.640 habitantes, de acordo com o último censo do IBGE. Um município considerado pequeno, mas em suas limitações sedia uma grande manifestação cultural, apreciada por visitantes de cidades circunvizinhas. O tradicional Festejo do Menino Jesus, que ocorre todos os anos entre os dias 28 de julho e 6 de agosto, no pátio da Igreja Matriz, é uma cultural que reúne religiosidade, empreendedorismo, diversão e exaltação do Nordeste.
Não se sabe ao certo quando a manifestação iniciou, mas desde seus primórdios é coordenada pela igreja católica, que cuida de toda a preparação da missa, leilões e devoção. Com o avanço do Festejo do Menino Jesus, percebeu-se que, devido à grande movimentação de pessoas, seria viável colocar barracas de lanches, brinquedos e outras atrações, para garantir uma renda extra. Outra festividade, que acontece nas imediações da igreja, também é chamada de “festejo”, assim denominado popularmente. No entanto é mais voltada ao empreendedorismo e mecanismos de diversão do público, e não segue um mesmo padrão, sendo idealizada por outras parcelas da população, em conjunto com o poder público do município.

“Aqui em Fortaleza, desde o princípio escolheram o menino Jesus”, relembra o padre João Pedro sobre a história do festejo. O evento era celebrado antes no Natal, mas devido ao período chuvoso, teve de ser antecipado para o meio de ano, embora seja planejado desde os primeiros meses. A nova data também é propícia, porque no calendário cristão católico, se celebra a transfiguração do Senhor e em sua finalização, o vaqueiro. A associação acontece pela forte presença da pecuária no município.
“É algo assim um pouco extraordinário, é diferente dos outros lugares, de outras paróquias”, explica o sacerdote. A preparação fica ao cargo do Conselho Paroquial, que conta com lideranças das comunidades da zona urbana e rural. O primeiro passo é escolher uma temática que reflita a estrutura da festividade. As comunidades, situadas nos bairros Recreio, Trizidela, Área Avançada e Vila Sá, são todas ligadas à igreja central, tendo o padroeiro Menino Jesus como referência.

Para Marineide Lima, popularmente conhecida como Neide, que é líder da comunidade Vila Sá e participante da organização, o período também é de encontrar amigos e conhecidos, por ser época de férias, o que incentiva a interatividade e os reencontros. “Eu não consigo me ver mais sem o festejo”, diz Marineide. Ela participa há muitos anos e conta que é muito trabalhoso, mas ao mesmo tempo gratificante, por ajudar na evangelização e contribuir para a cultura.
O pátio da igreja Matriz, que sedia o evento, ainda conta com a presença de diversas pessoas que passeiam pela praça e visitam as barracas dos ambulantes que são instaladas em volta. Ao final de cada missa, acontece um leilão com produtos doados pelos membros, comandado por um locutor animado, que vende todos os produtos. Por outro lado, o festejo não está voltado somente aos aspectos religiosos.

Em outro espaço, é possível notar ainda, cerca de 25 barranqueiros e um público participativo. De acordo os últimos dados da prefeitura, esses comerciantes aproveitam o movimento para obter renda extra para seu sustento. Geralmente são barracas de bebidas, comidas, acessórios e brinquedos infláveis para as crianças. É um momento propício para o empreendedorismo, no qual a cidade recebe vendedores que vem também de outros municípios. Ao caminhar pelo local, é possível notar a felicidade das pessoas. Alguém que está reencontrando um amigo depois de muito tempo, um vendedor ambulante que conseguiu efetivar mais uma venda ou apenas alguém bebendo e se divertindo.
“Dá muito trabalho, mas vale a pena”, diz a vendedora ambulante Eliane Souza, mais conhecida como Lili. Ela considera o festejo muito bom, principalmente para pessoas mais carentes, que precisam de uma renda extra. Para os barranqueiros é bastante trabalhoso, mas é algo significativo para dona Lili, principalmente por não possuir um emprego fixo.
Ela vê o Festejo como um trabalho que dá para conseguir um bom lucro, mas para alguém que já possui emprego fixo, largar e virar barraqueiro, não compensa. Lili comenta com entusiasmo a sua experiência com a celebração, onde pode se divertir, participar da festa e ainda ganhar um dinheiro extra. Na sua opinião, se a festa continuasse da forma que estava, seria melhor, pois com a mudança perderia um pouco do que já é uma tradição. Ela complementa dizendo que gosta de tudo, da cultura do Maranhão e inclusive do Festejo, que é de onde vem o seu ganha pão.

No último dia de realização, é celebrado o vaqueiro. Pela manhã bem cedo, os fortanogueirenses são acordados com entoadas de cantos por esses profissionais, que fazem um percurso pela cidade e finalizam com a celebração de uma missa. Eles recebem camisetas e um café da manhã. Além disso, os vaqueiros aproveitam o momento para exibir bois de grande porte, que acabam virando atração e rendendo muitas fotos.
O período da manhã seria o momento mais propício para quem apenas quer dar um passeio com a família e curtir o local. Mas, a tarde também é reservada aos shows de artistas locais e de maior popularidade. O dia 6 de agosto reúne praticamente toda a cidade e pessoas dos municípios vizinhos. É uma data voltada ao entretenimento, boas relações e até quem não é simpatizante de comemorações, tende a dar uma passadinha pelo local, ao menos para observar. A finalização do evento, que dura dez dias, é bastante esperada, sendo o dia que recebe mais pessoas. Fortaleza dos Nogueiras tem preservado a cada ano essa manifestação cultural, sendo um dos principais eventos anuais do município.
Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.