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Repórteres: Brenda Caroline, Luidianny Carvalho e Willas Ilarindo

Ter consciência e orgulho da própria identidade é o ponto de partida para a transformação social. Reafirmar que a história do negro se resume apenas a escravidão é privar a sociedade de compreender suas origens e torna-la cada vez mais ignorante.

As relações culturais no contexto escolar são determinantes na construção identitária das crianças. Umas das mediadas atualmente exigidas pelo governo e que favorece essa consciência é a Lei 10.639, sancionada em 2003 e que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro – Brasileira em escolas de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. A secretária da Coordenação de Educação da Igualdade Racial de Imperatriz (Ceiri), Erô Cunha, afirma a mudança nas escolas após a implementação da lei e conta com otimismo as conquistas “Houve mudanças na relação professor e aluno, na postura de alguns gestores de escolas. Sem contar que a secretaria recebe muitos convites de escolas da rede municipal para realizar palestras. Nas universidades e academias a gente percebe um alargamento em projetos de pesquisa e extensão”

O Brasil é o país que fora da África, concentra a maior população negra no mundo.  É também onde a maior parte dessas pessoas ocupam espaços à margem da sociedade: constituindo a maioria dos pobres no campo e na cidade, maioria nos presídios, trabalhando em empregos subalternos e morando em favelas. O preconceito ainda é a maior herança que os negros recebem até hoje como recompensa pelos trabalhos prestados ao país há séculos. E essa discriminação causada há anos, parte principalmente da desinformação e ocultação dos fatos históricos que reafirmam as influências afro em um país miscigenado e negro.

Para que realidades como essas se transformem e se trabalhe a desigualdade social e racial de forma efetiva, é preciso mais do que compreender a necessidade de uma reeducação moral e social, é necessário que a história negra seja contada e vista por todos como parte da história real do país. Os movimentos sociais em prol dos direitos humanos se fazem necessário nesse contexto e contribuem para que pessoas, colocadas às margens, conquistem o direito de plena participação social e se enxerguem ativas.

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Entrevistada Eronilde Cunha

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“A educação que é ensinada é a mesma educação onde a gente já percebe claramente q alguns tem muito mais privilégios que os outros. Quando falamos  assim “poxa, o negro é o primeiro a ser preconceituoso”, claro, porque isso ele aprende desde cedo (institucional) que ser preto é feio, que a menina preta nunca pode ser princesa, quanto a sua religião, ela nunca pode cultuar seus deuses, seus orixás. E isso é visto na formação da nossa identidade, por isso muitos negros rejeitam, mas eles não rejeitam diretamente a sua cor, mas o que isso simbolicamente representa.”

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Esse protagonismo negro ainda é um fato distante no país, mas graças a políticas cada vez mais inclusiva, percebe-se um aumento significativo na própria aceitação de uma classe que até então se sentia inferior e que percebeu um potencial para conquistar espaços que lhes é de direito. A exemplo, o crescimento de 14% de pessoas que se auto declararam negra, segundo o IBGE, não reflete apenas um crescimento demográfico, o que essa geração demonstra é um crescimento na identificação com a raça, um orgulho da cor da pele que parte principalmente da influências de lideranças negras ativas no mundo.

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Aceitação

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O mapa da violência (elaborado pela faculdade latino-americana) mostra que em dez anos cresceu 54% o número de mulheres negras mortas em relação as mulheres brancas. Se mulheres consideradas públicas como Thaís Araújo escutam todo o tipo de coisa sobre sua pele, imagina como é para as meninas e mulheres normais no seu dia a dia.

A questão é que todo esse racismo, fez com que crianças, adolescentes e mulheres negras crescessem sem entender direito quem eram, e aceitassem sua cor. Por anos não tiveram nenhuma representação na mídia, não conseguiam enxergar seu perfil de beleza, pois o padrão europeu e branco sempre foi dominante, e até hoje não encontram representação.

A administradora Wilmara Silva de Oliveira, 34 anos, teve conforto e representação familiar desde que nasceu. Sua família entendia que a sociedade em torno era racista e não aceitava as diferenças sociais. No entanto, fora do seio familiar sofreu bastante, principalmente na escola onde foi apelidada  de ‘negra do pitó’.

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Para Wilmara, o processo de aceitação foi recente, partiu de um amadurecimento e auto aceitação.:

“Há 3 anos fui amadurecendo e descobrindo que não precisava ficar me escondendo, tentando ser uma pessoa a qual não era. Parei de alisar meu cabelo e me assumi do jeito que eu sou, estou feliz, porque de fato não vamos mudar e a gente tem que se amar e quando você passa a se amar você aceita qualquer tipo de raça ou religião e se aceita”, explica.

Não entender  em que lugar da sociedade se encaixar é se ver obrigado a renunciar sua cultura. Uma descoberta acompanhada pelo desconforto de não ter representação. O processo de auto aceitação é complexo, mas a luta se faz necessária para poder conseguir apreciar os laços culturais que sempre estiveram ali.

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Administradora Wilmara Silva de Oliveira

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Representatividade

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O caminho que leva ao amor próprio e a aceitação de quem de fato somos pode ser solitário. Para Letícia Hellen a descoberta si mesma começou quando ela decidiu entrar em transição capilar e remover as químicas do cabelo. Isso fez com que recebesse críticas inclusive de um professor no ensino médio que a mandava prender o cabelo ou penteá-lo. Letícia conta que naquela época não encontrava nenhuma referência de cabelo cacheado na cidade e decidiu ser ela própria a referência. “Acabou que eu criei o meu Instagram para postar o que fazia no meu cabelo e cabelos que eu achava bonito e o pessoal começou a seguir”, relembra. Hoje seu perfil Viva Cacheada possui mais de 250 mil seguidores, ela montou recentemente seu próprio salão de beleza dedicado ao cabelo afro e produz eventos dedicados ao empoderamento feminino e beleza negra.

Letícia encontrou nessas atividades uma forma de dar a outras meninas o apoio que lhe faltou. Para ela, por meio de depoimentos e palestras quem frequenta esses eventos percebe que não está sozinho, consegue compartilhar suas próprias experiências e fazer amizade com outras meninas com experiência de vida. Tudo isso contribui para a autoestima de quem costuma estar à margem do padrão de beleza vigente. “O padrão de beleza é cabelo liso, pele clara. 

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Chegar num lugar com o cabelo black ou cacheado e mostrar que o teu cabelo te agrada é uma forma de lutar contra o racismo”, enfatiza.Mesmo com mais visibilidade e aceitação social, cabelos crespos e cacheados não são completamente aceitos. É comum para pessoas que assumem os cachos ouvir que são “exóticos” ou que se trata apenas de uma moda passageira. “Já teve gente que veio ao meu salão só para me criticar”, diz Letícia que garante não se incomodar com isso. “Uma mulher que se aceita, que entende que como ela nasceu é uma forma não tão aceita na sociedade, vai receber críticas simplesmente por se achar bonita e gostar do cabelo do jeito que ele é sem química”, conclui.

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Caricatura feito por @pipaazul

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Galeria de fotos do instagram do projeto Viva cacheada

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A história do fotógrafo e estudante de Jornalismo Rodrigo Freitas Coelho começou a mudar quando teve seu primeiro contato com movimentos sociais, aos 13 anos. Depois disso começou a estudar sobre a história do povo negro, a vinda dos africanos para Brasil e de que forma isso resultou na cultura afro-brasileira que temos hoje. “Foi um processo lento, mas de muita leitura”, revela.

Para ele a falta de representatividade enfraquece a autoestima da criança negra e faz com ela não se reconheça como tal, pois não se identifica. “Eu assistia os desenhos e não encontrava personagens negros e, caso eles aparecessem, era sempre em papeis secundários. E isso foi causando no meu imaginário a ideia de que ser negro era não ser principal, não ser a estrela”, afirma. Rodrigo considera que a lei que garante o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas ainda possui falhas, uma vez que não há fiscalização para saber se ela está sendo de fato cumprida em todas as escolas. Um ensino voltado para as raízes poderia ajudar na construção de identidade dos alunos. Ele salienta ser fundamental conhecer sua própria história desde a época dos reinos africanos e a trajetória de lutas que vem desde a colonização brasileira. “É preciso conhecer nossa história e a partir daí se identificar dentro dela”.

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Fotógrafo e acadêmico de Jornalismo da UFMA de São Luis, Rodrigo Freitas.

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Atualmente participa de um coletivo negro dentro da Universidade Federal do Maranhão em São Luís voltado para o estudo de questões raciais e atua na mobilização de estratégias de defesa da população negra. Por meio de projetos de extensão o movimento busca trazer pessoas de fora para o meio acadêmico.

Em sua trajetória Rodrigo diz já ter sofrido todos os tipos de racismo “Desde o racismo cara a cara em que as pessoas riem de você, zombam apenas pela cor da sua pele e também desde os estruturais. Racismo é ser revistado pela polícia apenas por ser negro. Ser seguido pelos seguranças na loja, ter mais dificuldade para acessar o ensino superior e oportunidades de emprego”. Ele considera que as punições contra o racismo ainda são brandas por conta do racismo estrutural que domina o país. “O nosso judiciário ainda é muito racista e precisa perceber isso, mas só vai acontecer quando negros ocuparem esses locais”, conclui.

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Reportagem produzida na disciplina de Direito e Legislação (2018.2), do Curso de Jornalismo (UFMA Imperatriz).

 

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