“Fiz um livro para pessoas que leem Jorge Amado, mas também para as que não leram”, diz a jornalista Josélia Aguiar

Texto: Deborah Costa
Foto: Divulgação (Editora Todavia)

Autora do livro “Jorge Amado-uma biografia”, Josélia Bastos de Aguiar, 43 anos, teve acesso exclusivo a documentos guardados pela família do escritor, como cartas de parentes e amigos, e também à correspondência trocada com outros escritores. Fez pesquisas não só no Brasil, mas na Europa e nos Estados Unidos, retratando a história de um dos mais populares escritores do século XX. Nesta matéria, Josélia conta, em entrevista aos integrantes do Grupo Jornalismo de Fôlego, da UFMA de Imperatriz, quais foram as suas influencias para escrever o livro. trata do seu estilo, além de relatar as suas expectativas enquanto desenvolvia o trabalho, que durou sete anos.

Como forma de influência para a realização do livro, Josélia afirma que o chamado jornalismo literário, que empresta da literatura alguns elementos, como a descrição dos personagens e ambientes, sempre esteve em sua formação e que na universidade já era “muito ligada” às leituras de obras desse gênero. Ela relata que na escrita da biografia de Jorge Amado procurou não fazer nada acadêmico e nem com tom de crítica literária, apesar de haver momentos que a obra aborde esses aspectos. Mas Josélia Aguiar deixa claro que o livro não é uma crítica literária à obra do escritor. “É um livro mais narrativo, com alguns momentos que eu não sou narrativa, que são aqueles que eu falo mais de contexto, de histórico. Momentos que eu faço balanços de carreira ou políticos, que eu falo coisas da obra dele, que eu conto, não narro, como se tivesse acontecendo ali naquele momento”, expõe. A jornalista diz que pensou em escrever o livro com verbos no tempo presente, mas que ao tirar dúvidas sobre essa decisão, sempre a alertavam para não fazer desta forma. Durante a elaboração da biografia ela acabou constatando que, de fato, ao escrever no passado. o escritor conta com mais opções de temporalidade e que no presente, acaba ficando preso.

Técnicas e leitores

Josélia também afirma que a abertura do livro foi mudada várias vezes e que a cada vez que escolhia um trecho impactante, sentia que não estava dando certo. “Eu não senti que estava dando certo até o momento que eu tive a ideia de começar de forma cronológica”, explica. A jornalista conta que no primeiro capítulo do livro fez uma leve brincadeira sobre a ideia de recriar o nascimento de Jorge Amado, pois no final ela afirma que aquela história é contada pelos familiares, afinal não estava lá para saber como foi. “O cronológico para mim era importante, porque eu queria inserir meu personagem dentro de uma história literária e política. Outras biografias não têm às vezes essa necessidade, essa intenção. O cronológico, pra mim, justificava muito”.

 

Escritora Josélia Aguiar levou sete anos para concluir a biografia de Jorge Amado

Outra questão levantada na entrevista foi sobre os leitores do livro. Questionada se chegou a imaginar o tipo de leitor e quais foram aqueles que ela encontrou após a publicação, a escritora argumentou: “Eu imaginava assim: eu vou ter que fazer um livro para pessoas que leem Jorge Amado, mas também os que não leram”. Josélia diz que em vários momentos, ela pensava que estava forçando as palavras com muitas técnicas de literatura, ou também as do mundo da política. Confessa que escreveu muito, mas cortou certos detalhes que não lhe agradavam durante o período de execução do livro, pois sua preocupação era de atender principalmente ao leitor de Jorge Amado.

A escritora conta que após a publicação do livro, alguns leitores que leram a biografia e são fãs de Jorge Amado passaram a segui-la no Twitter e no Instagram. Já outras, nem se importam com quem escreveu. “Então acho isso interessante. Foi reconfortante, assim, encontrar pessoas interessadas no livro sem saber quem eu sou. Não é que alguém que me conhece resolveu ler, é alguém que está interessado nele, no livro que está lendo. Nesse caso eu acho que deu certo.”, acredita a jornalista.

Josélia buscou escrever para o grande público e teve a preocupação em fazer algo que não fosse apenas de interesse da figura do Jorge Amado, mas, segundo ela define, abordasse a história do Brasil, literária e política. “Eu tinha essa vontade de fazer algo que fosse para o grande público e que servisse como um material de porta de entrada pra quem quer se aprofundar depois em outros assuntos”. A escritora diz que ao escrever o livro, se dedicou tanto para um estudante de segundo grau, quanto para um universitário e que desejava que, a partir da leitura, ambos tivessem aspectos sobre a vida do país, do mundo e da literatura. Ela conta que tudo isso tem a ver com sua história de trabalho, a sua trajetória como jornalista. “São coisas que são um pouco da minha formação, mas que eu acho que tem muito o fato de eu ser jornalista, que isso tem a ver com o compromisso, né? A responsabilidade do jornalista de informar o público. É um serviço público”.

Esta é a segunda parte da entrevista com a jornalista e escritora Josélia Aguiar, feita por integrantes do grupo Jornalismo de Fôlego. Em breve, será publicada a terceira.