Festejo de Sant’Ana celebra fé e gera reencontros

Filemom Duarte

Evento católico anual reúne milhares de devotos no centro de Independência–CE

Uma festividade pode não se destacar pelo seu tamanho ou fama, mas pelo poder de movimentar um povo pela fé e pela comunhão. A festa de Sant’Ana, realizada todos os anos, no mês de julho, atrai muitas pessoas para o centro de Independência–CE, cidade de cerca de 27 mil habitantes, fundada em 1857. Os dados do Livro de Tombo, que registra os fatos relacionados à paróquia,  apontam 214 anos de devoção, já que o culto à santa teve início em uma capela, em 1810, na vila Pelo Sinal. O marco inicial da festa remonta 1948, início de um “período de modernização”, quando a igreja local passava por mudanças, voltando-se mais para os aspectos sociais e para festividades que fortificassem a comunhão.

Foto da Igreja Matriz Senhora Sant’Ana, registrada em agosto de 1983 (foto: acervo/IBGE)

A festa provoca desde mudanças visuais, como os enfeites da paróquia, até a montagem de parques com inúmeras atrações e feiras de produtos diversos, compostas tanto por comerciantes locais quanto de outros municípios e estados. Para o comércio local, a mudança também é marcante, já que o número de consumidores aumenta bastante.

A relação da festividade com a comunidade local também resulta em maior diversidade nos meios de entretenimento, como danças, bingos, leilões, sorteios, feiras de artesanato e comidas típicas, e a cada ano o número de atrações cresce.

Multidão acompanha a seresta na Praça da Matriz, em 2024 (acervo/paróquia Sant’Ana)

Outra atração é a seresta, que é organizada atrás da igreja e começa após a novena. Músicos de fora da cidade se apresentam sem custos adicionais para o público. Isso gera grande interesse e movimenta muito o consumo, parte do qual é destinado a cobrir os custos da paróquia durante o restante do ano.

“Muita gente se reúne atrás da igreja, reencontrando conhecidos que há muito tempo não viam, pessoas novas e mais velhas. Todos vêm visitar a cidade”, afirma Ana Camelo, moradora da cidade e devota, que festeja Sant’Ana há mais de seis décadas.

Comunhão

Multidão acompanha a missa na praça da Matriz, em 2024 (foto: acervo/Paróquia Sant’Ana)

“Nesta época, a cidade fica lotada, pois a maioria dos filhos de Independência retorna para participar e celebrar”, pontua Maria Hionar, devota fiel de Sant’Ana, que participa da festa desde os 13 anos. Em 2024, aos 74 anos, ela saiu de São Paulo para festejar e professar sua fé no município de origem.

A relação quase familiar daqueles que retornam à cidade anualmente para a festa é forte, como um encontro marcado com amigos de infância e colegas antigos. “Eu encontro meus amigos e amigas de infância, meus colegas de ginásio da turma de 1969”, aponta Maria Hionar.

Toda essa união do povo na Festa de Sant’Ana tem um elo principal: a fé. Por meio de um festejo com tanto significado, ela é renovada, em um ambiente onde indivíduos de diferentes locais veem a possibilidade de contribuir para uma jornada de devoção. Independentemente de classe social ou condição financeira, todos têm espaço para participar e receber mais da festividade.

“Esse gesto de partilhar é um dos pontos favoritos da festa. Desde o mais simples até as pessoas com mais condições, todos colaboram. Então, a festa realmente se torna de todos”, afirma Roginaldo Feitosa, animador de Comunidade e responsável por parte da organização do evento.

Nesse período, muitas pessoas buscam os sacramentos do batismo e do matrimônio, reforçando o orgulho que o povo tem por este momento. Para que a maioria das demandas seja atendida, é necessário um trabalho contínuo de acolhimento e organização técnica do evento. Roginaldo destaca como esse trabalho o ajuda a crescer como pessoa e como a festa se torna cada vez mais exigente. “Quem vem quer ser bem acolhido, quer rezar bem.”

Mudanças

Ao longo dos anos, a Festa de Sant’Ana passou por inúmeras mudanças que refletem transformações sociais e tecnológicas. Mesmo que a palavra “mudança” impacte à primeira vista, Roginaldo esclarece que qualquer alteração segue as normas litúrgicas.

Até meados de 1960, as missas eram em latim e passaram a ser realizadas, desde então, em português. Hoje, busca-se aproximar mais os leigos das cerimônias litúrgicas, fortalecendo a relação entre a paróquia e a comunidade. Mesmo com mudanças de gerações, os fundamentos permanecem os mesmos.

Devoto presta suas preces à Senhora Sant’Ana (foto: acervo/paróquia Senhora Sant’Ana)

“Mudanças acontecem em todas as igrejas. A festa também passa por alterações fundamentais para o crescimento, tanto litúrgico quanto espiritual”, observa Roginaldo. Elas não ocorrem apenas internamente, mas também se estendem às novas possibilidades que a tecnologia oferece. “Com a internet, até no exterior o povo assiste às novenas, missas e muito mais”, comenta Ana Camelo.

Esta matéria faz parte do projeto da disciplina de Redação Jornalística do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz, chamado “Meu canto também tem histórias”. Os alunos e alunas foram incentivados a procurar ideias para matérias jornalísticas em seus próprios bairros, em Imperatriz, ou cidades de origem. Essa é a primeira publicação oficial e individual de todas, todos e todes.