Feita para jogar: Entrevista com Alice Jacinto, 12 anos, campeã mundial de tênis de mesa

Repórter: Miqueias Razias

Fotos: Miqueias Razias

Aos 12 anos, a maranhense Alice Jacinto já tem um currículo que muitos atletas adultos sonham alcançar. Desde que começou a jogar tênis de mesa profissionalmente, aos 9 anos, Alice competiu em campeonatos nacionais e internacionais e conquistou cerca de 20 troféus, entre eles 2 troféus Mirante Esporte, e mais de 100 medalhas.

Natural de São Luís, Alice Barros Santos Jacinto nasceu em 7 de dezembro de 2012. Seu interesse pelo tênis de mesa começou muito cedo, aos 6 anos de idade, quando seu pai, Diogo Santos Jacinto, que é técnico e professor de tênis de mesa, comprou uma mesa de pingue-pongue para jogar com os amigos. Alice achou muito legal assistir aos jogos comandados por seu pai e pediu uma chance para jogar. Então, o que primeiramente era apenas uma brincadeira, acabou se tornando uma profissão e um estilo de vida.

Cheguei ao local combinado para nossa entrevista às 16 horas da tarde do dia 24 de junho, uma terça-feira. O ambiente escolhido já é típico para Alice e seu pai: o Clube de Tênis de Mesa Mege TT, na Rua Amazonas, onde passam a maior parte das horas do dia. A trilha sonora da entrevista foi o som repetitivo das pequenas bolas de plástico indo e voltando entre as raquetes dos atletas. Quando cheguei, Alice estava acompanhada de duas amigas e companheiras de tênis de mesa, as irmãs Rihana e Lohane Ramos. Fui recebido pelo seu pai e treinador, Diogo Jacinto, que estava acompanhando os jogos e logo me cumprimentou.

De acordo com Diogo, Alice sempre foi estimulada a praticar esportes e chegou a fazer balé e natação antes do tênis de mesa. Em 2020, com 8 anos, acompanhada por seu pai, Alice começou a treinar mais seriamente em meio à pandemia. Nesse mesmo ano, participou de competições e foi vice-campeã brasileira, destacando-se rapidamente no cenário nacional de tênis de mesa.

Com apenas 9 anos, Alice passou a integrar a Seleção Brasileira, se tornando a única maranhense da equipe. Em 2022, Alice foi chamada para a sua primeira seletiva para representar a Seleção Brasileira de Tênis de Mesa em campeonatos, porém, no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, a família descobriu que tinha sido acometida pela COVID-19 e precisou retornar para São Luís.

No ano seguinte, o convite se repetiu, porém, a atleta acabou se machucando e não conseguiu realizar os testes para a seletiva. Até que, em 2024, a convocação foi feita novamente e Alice conquistou a única vaga disponível para representar o Brasil. Este ano, Alice foi campeã mundial sub-15, em Cuenca, no Equador. A família Jacinto mudou-se para a cidade de Imperatriz em dezembro de 2023, a convite do Clube Mege, em busca de melhores condições para os treinamentos de Alice e desempenho em competições. Hoje, a atleta conta com o apoio do Governo do Estado do Maranhão e de empresas privadas para conseguir competir.

Mas, por trás das raquetes, das viagens internacionais e das vitórias, existem também a disciplina, as renúncias e a rotina de treinos intensos, conciliada com a escola e a vida de uma adolescente. Apoiada de perto pela família, Alice mostra que talento é importante, mas dedicação diária faz a diferença. Apesar da pouca idade, Alice já tem conquistas e sonhos de gente grande. É uma moça de poucas palavras, possui um jeito tímido e é dona de um sorriso encantador que exala a jovialidade de uma moça que está vivendo sua melhor vida e realizando seus sonhos.

Uma semana antes de embarcarem para a cidade de São Paulo, onde passarão um mês em treinamento intenso, Alice e seu pai cederam uma entrevista ao Imperatriz Notícias para contarem sobre conquistas, infância, desafios financeiros e sonhos que vão muito além da mesa de jogo.

Imperatriz Notícias: Seu interesse pelo tênis de mesa começou aos 6 anos. Em que momento você percebeu que era boa nesse esporte?
Alice Jacinto: Acho que na primeira vez que eu fui pro Brasileiro, em 2020, eu me saí muito bem. Aí eu pensei: “sou feita pra jogar isso.”

IN: Diogo, como é a rotina de treinos da Alice?
Diogo Jacinto: A gente treina os sete dias da semana, por dois períodos a cada dia. A gente divide esses treinos em treinos técnicos, treinos mentais, treinos físicos e treinos de jogo. São bem diversificados. Tentamos sempre dividir o tempo de forma igual para cada um. A parte do treino físico, por exemplo, é acompanhada por um personal trainer na academia e acompanhada por outro profissional de educação física, por atendimento online. Também faz fisioterapia. A gente faz também alguns treinos lúdicos em casa, umas brincadeiras que acabam ajudando na coordenação motora, na velocidade, no equilíbrio.

“Acho que na primeira vez que eu fui pro Brasileiro, em 2020, eu me saí muito bem. Aí eu pensei: “sou feita pra jogar isso”

IN: Qual é a parte mais divertida do teu treino?
AJ: O treino inteiro.
DJ: Jogar, na verdade. Ela não gosta muito de treinar, gosta mais de jogar.

IN: Como assim? Qual a diferença?
DJ: Porque no treino é mais aquele movimento repetitivo, maçante, é só tu ali com o professor. No jogo, não. Tu joga com vários parceiros, aí é valendo ponto, tem aquela competitividade.

IN: O senhor acha que o esporte atrapalha a Alice de ser criança?
DJ: De alguma forma, quando você entra para o esporte de alto rendimento, você vai ter que abdicar de várias coisas, como alimentação, sono. Você vai ter que comer melhor, dormir melhor. Vai ter que abdicar de alguns momentos de lazer para poder estar treinando. Mas você tem que, de alguma forma, saber aproveitar o processo. Se você souber aproveitar o processo, você o torna não doloroso, torna leve, nesses momentos de lazer. Ela gosta muito de jogar, então em algum momento do treino dela, vai ter esse lazer. Então, isso, de alguma forma, traz o lazer para dentro do processo. 

IN: Diogo, durante todos esses anos que a Alice joga profissionalmente, quais foram as principais dificuldades que vocês enfrentaram?
DJ: Acho que apoio pra poder viajar, poder participar de mais competições. Porque é um custo muito alto ter que ficar viajando, pagando hospedagem, passagem aérea. Teve um tempo que foi difícil e a gente não tinha como participar das competições. Eu tive que largar minha família, meus amigos, minha cidade, meu trabalho. Ela teve que abdicar da cidade também, nossa família veio toda morar aqui, né? E a gente teve que abdicar de alguns lazeres e até da família, né? Porque a nossa família é quase toda de São Luís. A gente tem quase nenhum parente aqui. A gente fez amigos depois que chegamos aqui. 

IN: Alice, em abril, você foi campeã mundial no sub-15, no Equador. O que passou pela tua cabeça quando tu descobriu que era campeã mundial?
AJ: Passaram várias coisas. Primeiro eu fiquei normal. Aí depois eu fiquei emocionada, muito feliz por ter ganhado.
DJ: Acho que no primeiro momento foi meio sem acreditar, né? Não estava acreditando. “Meu Deus, é campeã mundial.” Aí é algo muito novo, né? Depois que caiu a ficha foi um momento de muita alegria. A realização de um sonho, por ter investido tanto tempo nesse trabalho, nesse sonho. A gente tem uns momentos de férias que normalmente a gente tira. São as nossas únicas férias. Não existe Natal, Carnaval, Ano Novo. A gente tá sempre buscando evolução, um pouquinho a cada dia. Também é estimulante saber que todas as tuas concorrentes vão estar de férias, descansando, e tu tá treinando.

IN: Alice, tem algum atleta do tênis de mesa que te inspire?
AJ: Sim. A Mima Ito, uma japonesa, e uma brasileira, a Júlia Takashi.

IN: Seu pai sempre foi seu treinador. Ele é uma inspiração para você?
AJ: Sim, porque ele foi a pessoa que sempre me inspirou a continuar.

IN: O senhor se inspira na sua filha?
DJ: Sim, eu sou muito inspirado por ela. Espero para o futuro dela o mesmo que eu já comecei. Desejo saúde mental, saúde física.

IN: E você, Alice, o que você sonha para a Alice do futuro?
AJ: Que eu consiga realizar os meus sonhos. Competir uma Olimpíada e ganhar várias Olimpíadas.

Serviço:

Instagram: @alicejacintotm