A XVI Semana de Africanidades reforçou a luta por uma educação antirracista e combate ao racismo religioso
Por Sebastião Rocha
O Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, é um marco importante da luta contra o racismo e a discriminação racial no Brasil. A data foi instituída em 2011, mas apenas em 2023 foi declarada como feriado nacional, por meio da Lei Nº 14.759, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Imperatriz, a data foi celebrada dentro das atividades da Semana da Consciência Negra, marcada por uma série de eventos culturais e educativos que celebraram a cultura afro-brasileira e promoveram a reflexão sobre a ancestralidade e a memória. Entre os eventos realizados, destaca-se a XVI Semana de Africanidades.
Realizado no Instituto Federal do Maranhão (IFMA – campus Imperatriz), a XVI Semana de Africanidades é promovida na instituição desde 2010 pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi). O evento nasceu com o objetivo de ser um espaço de reflexão sobre questões relacionadas aos aspectos étnico-raciais e questões específicas regionais e locais da cidade de Imperatriz, ainda marcada por uma série de contradições e pelo racismo estrutural.
O evento desdobrou-se sobre o tema “Memória, ancestralidade e narrativas afro-brasileiras” e contou com palestras, mesa redonda e apresentação cênica e de seminários com os estudantes do ensino médio do IFMA. O professor de história e coordenador do Neabi, Emãnuel Luiz Souza, destacou que, enquanto educador, é fundamental trazer esses temas à reflexão para desconstruir questões marcantes negativamente da formação da sociedade e propor uma educação antirracista e emancipadora. “Isso vai decolonizando a imagem de que a escola é um ambiente para pessoas que estão em um nível mais elevado ou que tem certos tipos de tom de pele. A nossa proposta é uma formação mais ampla, cidadã, para o trabalho, para a sociedade e uma formação que desconstrua essas questões que interferem na própria condição de pensar em uma sociedade mais diversa, decolonial, antirracista”, enfatizou.
A doutoranda em Antropologia, Polyana Almeida Frota, foi uma das palestrantes do segundo dia do evento e discorreu sobre as conquistas do povo de terreiro em Imperatriz., por meio da Associação de Terreiros de Cultura e Religião de Matriz Africana da Região Tocantina do Maranhão (Astercma). Para Polyana, a presença dos povos de terreiro em espaços públicos é um processo histórico de luta e de busca por direitos para um povo que foi historicamente injustiçado: “Esse evento que está acontecendo hoje é necessário e importante para poder falar sobre isso e, também, sobre os vários tipos de preconceito que as religiões afro-brasileiras e os adeptos sofrem”.
Apesar dos avanços, o preconceito continua enraizado e tem se mostrado de forma mais acentuada nas redes sociais. Polyana ressaltou que os povos de terreiro têm saído dos fundos dos quintais e ido para as redes sociais e para os lugares públicos mostrar que há religião de matriz africana em Imperatriz e que elas têm direitos e têm que ser respeitadas assim como as outras religiões. “Não dá para dizer assim: ‘Ah, o preconceito está aumentando ou está diminuindo’. Eu acredito que um preconceito velado tem se manifestado um pouco mais nesse processo de redes sociais, e que, também, o povo de terreiro não tem ficado mais escondido. Diante disso, quando você vai para uma rede social, é um lugar onde tem um tiroteio tremendo. Muitas vezes, a pessoa fica ali por trás de um perfil, um lugar cômodo, se achando no direito de julgar qualquer um. A gente nem fala de preconceito. Pode até ser preconceito quando você não tem conhecimento e começa a falar, mas o que a gente tem pautado é o racismo religioso, e isso é crime”.
A Semana de Africanidades foi realizada entre os dias 17 e 19 de novembro e reuniu estudantes, professores e pesquisadores do IFMA, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul). O evento foi um espaço de diálogo, de valorização das identidades e histórias negras e de combate ao racismo em todas as suas formas.