“Eu prefiro perder o lucro a perder o cliente”: a rotina do ambulante Geraldo de Souza

Texto e fotos: Lyandra Gomes

Simples, de bermuda jeans, camisa polo e boné surrado, usando uma sandália que lembra a cultura nordestina, o comerciante chama atenção em sua banquinha. Ele está envolvido em uma conversa com um cliente, buscando vender seus produtos. A persuasão parece ser sua melhor amiga no momento. Gesticulando, e com um papo convincente, o ambulante consegue fazer sua venda. “Eu prefiro perder o lucro a perder o cliente, meu filho”, comenta.

Ambulante Geraldo de Souza atua há 47 anos no ramo

 

Geraldo de Souza Melo, 66 anos, trabalha como vendedor ambulante desde 1975. O camelô está neste ramo há 47 anos, 45 deles em São Luís e três em Imperatriz. Nascido no interior do Ceará, casado e pai de quatro filhos, o cearense conta que esse trabalho sempre foi responsável pela renda de sua família e nunca foi difícil mantê-los, apesar das dificuldades.

Geraldo acorda às 5h, sai às 6h de casa, pega seu carrinho e o trabalho começa às 7h da manhã. Sua banca fica em uma rua tranquila, próxima à Praça de Fátima no centro da cidade, o ambiente é claro e arejado. Uma senhora passa por ali observando alguns anéis que chamaram sua atenção. “O que você vai querer hoje moça?”, indaga o ambulante. “Hoje nada, só olhando mesmo”, responde a mulher, com um sorriso tímido no rosto. “Poxa, moça,  me ajuda a te ajudar”, suplica o vendedor.

No horário do almoço, compra marmita no restaurante ao lado e come por ali mesmo. Uma senhora que passa por ali vendendo sorvetes e picolés,  encosta, o camelô compra um e se delicia com a prazerosa sobremesa. A vendedora aproveita para descansar um pouco e colocar os papos em dia.

Quando perguntado sobre as dificuldades, o vendedor relata sobre a rotina difícil que enfrenta, pois sofre muito com o calor das ruas e precisa estar sempre alerta em relação aos assaltos e furtos frequentes no bairro em que mora. Ressalta também sobre a licença para vender na rua, pois sem ela, Geraldo pode perder sua mercadoria a qualquer momento, aprendida por fiscalizações de responsáveis por essa área.

A rotina é dura, mas Geraldo diz ter orgulho do que faz

 

O comerciante reforça, ainda, que a prefeitura disponibilizou um lugar para que ele pudesse vender de forma legal, mas Geraldo pareceu não gostar muito da ideia. “A maioria dos cara que é vendedor de camelô, ele gosta de tá é na rua. Se não puder botar no carro, ele vende na mão, se não puder botar na mão, ele bota na tela, isso que é camelô. Então ele não quer ficar trancado dentro de um lugar apertado, esperando”, explica.

Geraldo comenta do orgulho que tem da sua profissão, afirma ser um empreendimento de respeito e promete que não vai sair desse ramo tão cedo. “Eu vou me aposentar, minha filha, mas quero continuar vendendo minhas coisinhas na praça”. Em meio a conversas, discussões e vendas, Geraldo diz que o tempo passa rápido. Às 18h ele encerra a sua jornada do dia.

Esta matéria faz parte do Projeto Vivências, que estimula os estudantes de jornalismo a abrirem todos os seus sentidos e narrarem ambientes, ações e personagens.