“Eu fotografei praticamente a Madonna”, revela fotógrafo ao comentar sua experiência com Rayssa Leal

Repórter: Ana Gabriela Fonseca e Ana Maria Nascimento

Fotos: Ana Gabriela Fonseca e Gerson Militão (Arquivo pessoal)

O fotógrafo Gerson Militão afirma ter fotografado “praticamente a Madonna” ao relatar sua experiência no ensaio que fez com a imperatrizense Rayssa Leal. O responsável pela fotografia da skatista teve sua foto como capa da revista IstoÉ em dezembro de 2022 e agora é também um colaborador registrado da empresa. Com 32,4 mil seguidores no Instagram, o seu portfólio conta com mais de 5 mil ensaios e 513 casamentos realizados. Além da medalhista olímpica, Militão já fotografou figuras reconhecidas na cidade, como a dançarina e DJ Kleisla Queiroz, a humorista Bethy Maranhão, a cantora Josy Marques, o criador de conteúdo imperatrizense Leo dos Stories e a Miss Imperatriz 2022 Lívia Maryana.

Militão é um dos profissionais mais requisitados da indústria fotográfica de Imperatriz-MA. Em sua formação, possui o diploma de Técnico em Informática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Atuou na área de Design e Edição para empresas gráficas e trabalhou como diagramador para a Revista das Estrelas, da colunista Maria Leônia.

Seu interesse pela fotografia começou em 2012. O fotógrafo comprou uma câmera semiprofissional por R$ 400 através de um anúncio do Instagram. Um dos primeiros ensaios fotográficos que realizou foi de uma ex-namorada na Praça da Cultura e esta experiência fez com Militão pensasse que “se ela gostou, pode ter mais pessoas que gostem. E se há gente que goste, há quem pague”. O fotógrafo buscou cursos para aperfeiçoar suas técnicas de fotografia e edição, tirando fotos também de amigos e conhecidos gratuitamente.

Um ano depois, Militão criou o projeto “50 ruivas em tons de liberdade”, que tinha como objetivo fotografar jovens ruivas para mostrar que as mulheres eram mais do que “acessórios sexuais”. Quando os ensaios foram finalizados, ele foi convidado pelo Imperial Shopping para fazer uma exposição das fotografias. A exibição consistia em simples cavaletes de madeira, placas de isopor envoltas de um tecido preto e tachas para prender as fotos. Como uma surpresa, as ruivas que participaram do projeto presentearam Militão com um valor de R$ 1.000, que ele usou para comprar uma Nikon D60.

Apesar de toda expectativa e animação do começo na fotografia, Militão percebeu que tudo estava muito igual, já que sempre eram as “mesmas fotos, com as mesmas poses, nos mesmos lugares”. Em 2017, trabalhando há 5 anos no ramo, ele decidiu mudar o que estava fazendo de errado por meio de um curso on-line. Assim, encontrou o curso do fotógrafoRobison Kunz,que tinha como slogan: “Compre o meu curso e seja um dos fotógrafos mais desejados da região”. Mesmo estranhando o marketing, Militão decidiu arriscar. Com os ensinamentos de Kunz, ele entendeu que se preocupava mais com a beleza dos lugares e das coisas do que com as próprias pessoas. Pondo em prática a visibilidade das histórias e dos clientes, ele se tornou um dos fotógrafos mais procurados de Imperatriz e da Região Tocantina.

Hoje, Militão trabalha com casamentos, fotografia comercial ou social, newborn, pré-wedding, sensual, formaturas, festas de aniversários e fotografias de gestantes. O fotógrafo até brinca ao falar que só não fotografou um velório, porque ainda não o haviam convidado. “Se eu fotografo desde o início da vida, com os bebês, não vejo motivos para não registrar o fim dela também”, esclarece. Gerson Militão ministra cursos para aspirantes da fotografia que desejam se profissionalizar na área. Como muitos alunos querem aprender técnicas específicas, os pacotes de aulas e práticas são fechados de acordo com a necessidade e interesse de cada pessoa, variando os preços.

Em entrevista ao Imperatriz Notícias, o fotógrafo compartilha sua percepção sobre as dificuldades do mercado fotográfico em Imperatriz. Conta também como foi receber o convite para fotografar a Rayssa Leal e ainda comenta sobre os polêmicos ensaios sensuais, como é fotografá-los e quem pode fazê-los. Confira:

“Eu não sou o melhor fotógrafo de Imperatriz, não sou o que mais ganha, mas o que eu faço é novo”.

Imperatriz Notícias: Como é ser fotógrafo em Imperatriz?

Gerson Militão: Quando você começa com a fotografia em Imperatriz não tem ninguém para te apoiar. Se um fotógrafo olhar para alguém que está começando na área agora, fala assim: “Tu é louco, é?”. Porque aqui a concorrência é muito grande. A gente é amigo, todo mundo se conhece, mas a maioria, não são todos, óbvio, não dão assistência quando um iniciante os procura. Pensam que estão criando um concorrente. Eu não penso nos meus concorrentes como se fosse uma competição. Se eu tenho meu diferencial, não tenho concorrência. Eu não sou o melhor fotógrafo de Imperatriz, não sou o que mais ganha, mas o que eu faço é novo. Os clientes buscam justamente essa visão nova para suas fotos e quando os fotógrafos não inovam ficam estagnados e perdem possíveis clientes.

IN: Segundo a pesquisa feita pela Opinion Box (2023), o Instagram é uma rede social que possui mais de 2 bilhões de usuários. Por isso, muitos fotógrafos aderem a esta plataforma para poderem divulgar os seus trabalhos. O seu Instagram profissional possui cerca de 32 mil seguidores. Qual estratégia de marketing e divulgação ajudam você a alcançar este público?

GM: No início, minha maior estratégia era dar ensaio de graça (risos), mas comecei a ver que quanto mais dava, mais o pessoal queria fazer sem pagar. Então, precisei parar. Hoje, o que eu faço para tentar alcançar mais meus clientes é simplesmente entregar um trabalho bem-feito. O ideal é postar pelo menos duas fotos por dia pelo Instagram. Eu posto uma foto por dia, o que não é suficiente, mas tento postar pelo menos uma. Eu geralmente não sigo essa coisa de postar em horário de pico. Eu posto de noite, porque para mim é quando a minha cliente chegou em casa, acabou de jantar, sentou e pegou no celular. Faço dessa maneira, porque se eu postar uma foto de manhã e a pessoa abrir Instagram só meio-dia, raramente ela verá a imagem instantaneamente, já que passou muito tempo do horário que postei. Por isso prefiro postar a noite, que é o horário que todos já estão em casa e podem ver a publicação tranquilamente. Para saber disso e me manter atualizado, eu acabo fazendo alguns cursos de algoritmo do Instagram.

IN: Quais são os critérios que você utiliza para considerar se uma foto é postável ou não?

GM: Muita gente pensa que eu tenho que postar fotos de todos os meus trabalhos. Hoje eu me cobro muito sobre isso. Porque quando uma pessoa vem tirar foto comigo, ou ela me conheceu pelo Instagram ou alguém me indicou. Então, tenho que postar algo que pensem assim: “Nossa, eu quero uma foto dessas também”. Eu tenho que postar uma foto que crie desejo na pessoa em fotografar comigo. A única situação que eu não posto é quando eu explico para o cliente: “É o seguinte, eu faço a foto para você, só que esse não é o tipo de trabalho que quero vender”. Então, eu só posto na minha rede social o que eu quero vender para os outros e que chame a atenção do público.

“Tudo na vida é questão de se enxergar de um modo diferente. Porque quando você se olha, está sempre de frente, mas quando eu olho, consigo ver de todos ângulos possíveis”.

IN: O trabalho de fotografia é a junção do serviço e da entrega do produto. Desse modo, como você precifica um ensaio fotográfico e qual a média de valor do seu trabalho?

GM: Atualmente, quando você fala de preço aqui em Imperatriz, se é muito barato vão dizer que você é barateiro, se cobrar muito caro vão te chamar de careiro. Então, para mim tanto faz, eu não acho que sou um fotógrafo careiro. Costumo cobrar por foto, só que tenho um pacote mínimo de fotografias. Para estúdio são dez fotos, para a externa são 15. Em estúdio, eu cobro dez fotos por  R$ 300, fica R$ 30 cada foto. Se a pessoa quiser mais, a extra é R$ 20 pela foto. Para externa, são 15 fotos por R$ 400, eu aumento a quantidade de fotos para não aumentar só o preço. No caso dos pacotes de casamento é diferente, porque depende de quantos fotógrafos vou precisar contratar e outros fatores sobre equipamentos e serviços extras. Mas o diferencial dos casamentos é que em qualquer um, o casal ganha o ensaio fotográfico de graça, porque é importante que eu conheça os clientes para que no casamento não seja nada forçado. Assim, eles podem também entender um pouco de como trabalho. E como não estou lá apenas para fazer fotos, se as fotografias não mostrarem a personalidade dos clientes, para mim não funcionou.  

IN: Você fotografou a imperatrizense Rayssa Leal para a revista IstoÉ no final de 2022, quando ela tinha recém vencido o SLS Super Crown World Championship. Como foi receber o convite para fotografar esta personalidade tão importante para o mundo?

GM: Para ser bem sincero não tinha caído a ficha, como para muita gente não cai a ficha até hoje, de que a Rayssa é tão importante para o mundo. Mas tudo aconteceu uns dois meses antes do dia da foto. Me ligaram e era um número de São Paulo. Eu atendi como sempre atendo, pensando que era esses trotes desgraçados. Falaram assim: “Oi, tudo bom? Aqui é da Revista IstoÉ. Sou fulano de tal, gerente corporativo da revista”. A primeira coisa que pensei foi que era um trote mesmo. A pessoa disse: “A gente está precisando de um fotógrafo da região para fotografar uma das personalidades do Brasil. Queremos montar uma matéria”. Eu levei com profissionalismo, mas continuei pensando que era uma brincadeira. Nem perguntei quem era. O gerente só falou: “Eu vou confirmar com a assessoria dela para poder marcar direitinho”. Tá bom, aí desligou e ficou por isso. Eu já até tinha esquecido, véi. Então, cinco dias antes das fotos, me ligaram novamente pelo mesmo número que eu tinha salvo como: “Gerente fake da IstoÉ”. Pensei que ou iam me iludir de novo ou realmente era sério. O gerente disse: “Então, eu consegui uma vaga com a assessoria dela para sexta-feira. Só que o seguinte, tem que ser às 11h e você tem que fazer no máximo em meia hora, porque ela tem que se arrumar para a escola”. Foi então que eu perguntei: “Peraí, mas quem é?”. “Você deve conhecer. É uma tal de Rayssa Leal”. Minhas mãos tremeram com o celular na mão. Na minha cabeça pequena, eu estava fotografando uma pessoa no nível de Galvão Bueno, Reynaldo Gianecchini, essa galera lá do topo. Por isso, pensei: “Porra, vou ficar famoso. Vou bombar meu Instagram”. Eu fui e fiz a foto dela. Essa foi uma das experiências mais incríveis da minha vida, porque realmente ela é muito simpática e gente boa. Não tinha me tocado que a Rayssa não é uma atriz da Globo, ela é uma personalidade internacional. Depois que eu parei para perceber isso, entendi que fotografei praticamente a Madonna.

IN: Essa foto da Rayssa Leal teve mais repercussões?

GM: Quando eu postei a foto da Rayssa, eu já sabia que ia dar muita curtida. Imaginava que iria chegar até umas 5 mil. Publiquei e ela repostou nos stories dela. Comecei a ver os comentários da foto e vi pessoas da Arábia Saudita, Afeganistão, Rússia, Inglaterra, Israel, China, Japão. Cara, todo lugar do mundo estava comentando naquela foto. Eu tinha que traduzir os comentários, porque não sabia o significado. Ela teve mais de mil compartilhamentos e em menos de 12 horas fez quase 30 mil curtidas. Essa foto foi parar no Japão e um cara de lá me ligou tentando pedir o direito dela. Aí eu só falei assim: “I don’t understand you. Speak in Whatsapp” (Eu não entendo você. Fale no Whatsapp). Ele pegou meu número e mandou um monte de mensagem. Fui traduzindo para entender e ele queria o arquivo da foto da Rayssa para poder usar. Tipo, o direito da foto. Eu disse que o direito era meu, só que tinha feito para uma revista. Quando conversei com a Revista IstoÉ, eles falaram que o arquivo era meu, mas me disseram: “Só não delete o arquivo original”. Eu tenho os arquivos originais das fotografias da Rayssa em quatro armazenados diferentes. E no final, ainda consegui vender a foto.

IN: Você conta no “Caju Podcast” que quando começou a fazer ensaios sensuais as pessoas da igreja que congregava julgou suas escolhas. Como você lida com isso ainda hoje?

GM: Hoje, eu estou muito de boas, graças a Deus. Eu sou músico desde os 12 anos de idade, sempre cantei e toquei na igreja. Quando vieram falar que eu não iria poder tocar por causa do meu trabalho sensual, eu falei: “Tá, beleza. Eu vou procurar quem me aceite”. E hoje, estou em uma igreja que me aceita. A questão, na verdade, é que a religião não prende ninguém. A religiosidade, sim. Existem muitas pessoas que usam a fé para dizer que alguma coisa é errada, quando muitas vezes ela mesmo pratica a coisa errada. Então, o ideal seria ensinar as pessoas que não é necessário julgar, ao invés de só excluir.

IN: Qual seria limite entre o sensual e o erótico?

GM: Para mim, o erótico é quando ele ultrapassa o limite do sensual. Porque o sensual é o seguinte: finge que mostra, mas não mostra. Quando o sensual ultrapassa o limite do mostra, mas não mostra, aí já vira o erótico. Existem três limites básicos: o fingimento, o nu artístico e o pornô. Eu já fiz um ensaio em um motel, para uma acompanhante de luxo que queria colocar em um site as suas fotos, já que no tempo não existia OnlyFans. Ela falou: “Gerson, as fotos que eu quero são as que realmente mostrem tudo”. Então, as poses que ela queria fazer eram muito pornográficas e eu tive que dizer que esse tipo de ensaio eu não faço. Mas a gente foi e fez algumas fotos, tentando evitar o erótico. Depois decidi nunca mais fazer fotos nesse tipo de local.

IN: Você acha que ser sensual é um estilo ou uma personalidade? E por que as pessoas fazem esse tipo de ensaio?

GM: Eu já fotografei uma mulher praticamente de burca que só com o olhar demonstrava sensualidade. As pessoas pensam que ser sensual é mostrar muita coisa. É mostrar as pernas, a bunda, o peito e o decote. Ser sensual não é se insinuar. Ser sensual é, da sua forma, despertar algo adormecido, que talvez você nem conheça. Eu fiz um ensaio de uma menina que ela me disse: “Eu preciso fazer um ensaio, porque não me sinto mais bonita, não me sinto mais um mulherão depois que eu tive minha filha. O meu corpo está esquisito. Eu não gosto”. Tudo na vida é questão de se enxergar de um modo diferente. Porque quando você se olha, está sempre de frente, mas quando eu olho, consigo ver de todos ângulos possíveis. De cima, de baixo, de costas, de frente. Então, a ideia do sensual é mostrar para pessoa quem ela é, porque às vezes ela não se reconhece. Quando eu mostrei a primeira foto do ensaio na câmera, que não tinha photoshop nenhum, ela desabou. Eu tive que esperar quase meia hora para ela poder voltar ao ensaio. Ela não conseguia continuar, porque estava se vendo como mulher de novo. A questão da sensualidade é que às vezes a mulher passa tanto tempo vivendo só para as outras pessoas que esquece dela. Então, eu vejo o ensaio sensual como quem a pessoa realmente é. Vejo como a personalidade dela.

IN: Existe alguma história interessante sobre os ensaios sensuais?

GM: São dez anos de fotografia, tem tantas histórias, mas eu tenho uma história engraçada sobre o ensaio no motel. Eu e minha cunhada, irmã da minha esposa, a gente tem uma relação muito boa. Eu chamo ela de amor e ela me chama de amor também. Bem zoeira mesmo. Minha cunhada estava lá em casa no dia do ensaio no motel e minha esposa estava maquiando. A cliente levou uma prima dela para acompanhar o ensaio, já eu sempre peço para levar alguém e eu sempre levo também. Quando minha esposa terminou a maquiagem, a moça disse: “Tô pedindo o Uber”. Eu perguntei: “Nós não vamos de Uber não, né?”. Ela me falou: “Vamos, porque eu não estou com meu carro aqui”. Tá bom. Tem que ir, vamos. Lá vai eu entrar no carro sentado na frente e as duas meninas atrás. O motorista virou, olhou para as meninas, depois perguntou: “Para o motel, irmão?”. Eu só concordei, sem graça. Então, minha esposa saiu de casa e disse: “Boas fotos, amor”. E depois veio minha cunhada: “Tchau, amor”. O cara: “Hã!”. Tipo, duas mulheres em casa e duas mulheres indo para o motel comigo. Eu já estava todo sem jeito com a situação e piorou. Tive que explicar que era fotógrafo e que estava indo fazer um ensaio.

Serviço:

Instagram: @gersonmilitao

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