Esquina Bar: um lugar para se sentir livre para ser quem é

Textos e fotos: Bárbara Gomes 

Sexta-feira chegou e a galera já sabe onde vai curtir o final de semana: o Esquina Bar, é claro, o bar LGBTQIA+ de Imperatriz, onde a proposta é que todos se sintam à vontade e livres. Agora em novo local, em meio às opções de entretenimento da Beira-Rio, o espaço está mais amplo, com vários tipos de iluminação, frases e desenhos espalhados pelas paredes. Para integrar a decoração, plantinhas que deixam o ambiente aconchegante.

Nesse dia da semana, o melhor de tudo é que a entrada é grátis e quem comanda a trilha sonora é o DJ Thomas. As músicas variam: Felipe Ret, Poesia Acústica, Calcinha Preta e não podem faltar o funk e o famoso tecnobrega. “Gosto muito de ver a galera vibrando e curtindo um bom funk. Pop também, mas o mais recente. Porque antigamente nós éramos restritos só à música hétero. A música que nós consumíamos não tinha uma identidade própria. Mas agora a gente tem esse nosso conceito diferente de ouvir música”, comenta o DJ. Thomas. Ele acrescenta que hoje o Esquina está forte e que é o “maior bar LGBTQIA+ da cidade”.

Thomas espera que sejam abertos outros locais que tragam conforto para o público, porque é assim que ele se sente no Esquina. Lá ele também se considera incluído e sem medo de receber algum ataque homofóbico. “Aqui ninguém vai me recriminar, o máximo que pode acontecer é uma ‘bicha’ falar mal da outra. Mas isso não passa de um deboche besta, não tem nada de agressivo”, afirma o DJ, com um sorriso no rosto. Logo depois, coloca um funk “proibidão” para tocar. A galera vibra e alguns descem até o chão.

Em outros tempos, o Esquina Bar não era voltado para o público LGBTQIA+, mas depois de uma troca de gestão encarou uma nova “roupagem”, com sua própria identidade. “Aqui é ótimo, a aparência do bar é igual aos dos outros. Mas percebemos que o que se destaca mesmo é o público, há uma enorme diversidade de pessoas”, definiu o estudante de psicologia, Sannyel Mota, animado, ao som de “Grelinho de Diamante”, na versão de Heavy Baile e participação de Baby Perigosa.

Ao longo da noite, muitas pessoas vão chegando, cada qual com seu grupo de amigos. O bar está lotado, assim, vários preferem sentar na calçada e aproveitar a festa ao ar livre. “Me sinto mais confortável, quando a gente entra no bar, vários gays ficam olhando para a gente. Mas é só os gays feios que fazem isso, os bonitos nem ligam”, disse Alexandre Santos sobre o público.

Clima geral é de alegria, liberdade e respeito

 

Na calçada do bar, sentados ao redor de duas mesas, um grupo de sete amigos aproveita a noite, quando de repente chega uma moça com delineado e blusa laranja neon. Para completar o visual chamativo, uma “piranha” da mesma cor agarrada em sua bolsa. “Boa noite, vamos comprar brizadeiro? Tem de R$ 5, R$ 10 e R$ 15”, anuncia a vendedora. “Brizadeiro?! Mas o que tem tanto aí moça?”, pergunta alguém. “Ah, contém cacau, rum pra dar a liga e um pouquinho de maconha”, responde. Às 1h30 da madrugada, para a tristeza de todos, o bar para de vender bebidas alcoólicas. E não muito tempo depois a música ambiente é interrompida. O Esquina ainda está cheio, mas, aos poucos, a galera vai se esvaindo.

Transfree

Agora é sábado, 21h30. Um casal de mulheres está sentado na calçada do Esquina Bar, conversando e bebendo uma cerveja. De repente, mais outras duas moças chegam: “Prazer, meu nome é Vitória”. “Prazer, o meu é Laís”. Logo percebe-se que as outras duas que não se apresentaram já se conhecem. O grupo conversa algo relacionado a estudos, quando chega um rapaz de cabelos cacheados compridos, sombra azul brilhante nas pálpebras dos olhos e diz: “Meninas, a boate Red Box já está aberta”. É o garçom do bar avisando de mesa em mesa que a atração principal da noite está disponível.

Nesse dia da semana, a entrada na boate custa R$ 20. Como o bar é transfree, todas as pessoas trans (homens e mulheres trans, travestis e pessoas não binárias) podem entrar gratuitamente. O ingresso da boate é pago, porém a área do bar continua liberada, e os dois locais permanecem lotados. Casais de mulheres, de homens, de héteros e solteiros estão por ali com o mesmo intuito: se divertir na noite.

 

Nos sábados a boate interna do Esquina ferve

 

Música alta, calor, boate lotada, open bar de Shot Galaxy, drags, DJ’s dançando, é o que resume a balada de sábado. Ao entrar no local percebe-se uma super decoração com o tema “Zodiac” (astrologia dos signos).  Muitas pessoas animadas dançam e cantam “Bad Romance”, de Lady Gaga, em coro: “Gaga, ooh-la-la, want your bad romance”. Logo depois, entra um som de Rihanna em ritmo de reggae. Alguns casais se formam para dançar juntos, no canto da boate. Dois homens, em clima de romance, dançam colados, enquanto um deles canta no ouvido do outro.

Como já é de costume, às 1h30 da madrugada as músicas param e a DJ anuncia: “Por hoje acabou, pessoal”. Todes gritam em conjunto: “Ahhhhh”. O Esquina vai se esvaziando aos poucos, e quando o último cliente sai do bar, fecham-se as portas. Muitos ainda ficam na calçada, conversando e esperando uma carona para ir embora. Outros simplesmente ficam procuram um after para terminar a balada.

* Esta matéria faz parte do Projeto Vivências, que estimula os estudantes de jornalismo a abrirem todos os seus sentidos e narrarem ambientes, ações e personagens.