Projeto social “Judô com Amor” transforma a realidade de crianças em Imperatriz

A iniciativa comemora dois anos formando campeões no esporte e na vida

Repórter: Hérika de Almeida

Fotos: Divulgação.

Desenvolvido desde maio de 2017, o Projeto Social “Judô com Amor” é uma atividade esportiva de caráter socioeducativo, que tem o objetivo de contribuir com a formação integral dos participantes. Há dois anos a iniciativa vem transformando a realidade de crianças que moram em áreas de vulnerabilidade social em Imperatriz. Um dos principais objetivos do projeto é formar campeões no esporte e na vida.

A escolha do nome deve-se à junção de dois princípios que podem fazer a diferença na vida de quem pratica judô: filosofia e disciplina. Especialmente, por referir-se ao amor que transcende os limites de relacionamento do homem com a sociedade.

O estilo de luta que hoje em dia denominamos como judô, foi idealizado no ano de 1882, por Jigoro Kano. A prática do esporte tem despertado interesse, não só por seu aspecto competitivo, mas, sobretudo, pelos benefícios recreativo, físico, mental, entre outros. Possui como filosofia integrar corpo e mente. Sua técnica utiliza os músculos e a velocidade de raciocínio para dominar o oponente. De origem japonesa, judô significa “caminho suave” e atualmente, é uma arte marcial difundida pelo mundo inteiro.

Coordenador do projeto, Ranieri Mazzili destaca que o critério de seleção dos alunos aconteceu por meio de visitas realizadas por uma assistente social, que avaliava as condições socioeconômicas das famílias dos bairros Caema, Vila Leandra, Porto da Balsa e Beira Rio, direcionando para o projeto crianças de baixa renda, matriculadas em escola pública e com idades entre 8 e 14 anos. A princípio, 118 participantes foram cadastrados no projeto, porém, atualmente 100 estão frequentando ativamente.

Em relação aos objetivos, o coordenador e sensei Mazzili explica que se trata de uma ação social, pois a ideia é afastar as crianças do crime, das drogas e da violência, considerando que estão inseridas em um ambiente em que há inversão de valores e poucas oportunidades. “O judô social justifica-se pela intenção de levar o aluno à prática do esporte, com base de iniciação desportiva e treinamento, além do aspecto de educação física e moral”, comentou o professor.

Os alunos participam do projeto no contratuno escolar, e as aulas acontecem nas dependências de uma academia de judô às segundas, quartas e sextas, sendo 50 em cada turno. Cada criança recebeu um kit, contendo kimono, mochila e camiseta. Além disso, um ônibus é disponibilizado para o deslocamento dos participantes, que antes das aulas, recebem um lanche e vivenciam um momento espiritual.

Entre os deveres primordiais dos pequenos judocas, estão frequentar assiduamente a escola, possuir boas notas e apresentar um comportamento adequado tanto em casa quanto na instituição de ensino. A execução do projeto aconteceu graças a uma parceria com a iniciativa privada e a colaboração de uma igreja evangélica.

RELEVÂNCIA SOCIAL

O aluno Eduardo Cardoso, 12 anos, comenta que estava brincando na rua quando recebeu o convite do pastor para participar do projeto. Ele afirma que está gostando bastante, e até o momento, não conhecia nenhum tipo de luta, mas pretende continuar praticando judô mesmo quando deixar o programa. “Aqui eu gosto de tudo. Do lanche, do sensei Rômulo, gosto também de treinar, mas prefiro lutar. Já aprendi os golpes e troquei de faixa”, detalhou o participante.

Zidane Alves, 14 anos, outro integrante, relata que anteriormente, já havia participado de outra atividade social, o Bombeiro Mirim, e conheceu o “Judô com Amor” por meio de uma funcionária do posto de saúde do bairro (Beira-Rio). Ela informou que existia um projeto que estava aceitando crianças da comunidade.

Matriculado no judô em outubro de 2017, Alves descreve suas preferências. “Gostei de aprender os golpes, mas principalmente sobre imobilizar o adversário. O meu interesse, é que quando eu crescer, eu possa trabalhar na academia, assim como os outros professores que também são frutos do projeto”, assegurou o aprendiz.

A autônoma Milane Falcão, mãe do aluno Paulo Ricardo, conta que soube do projeto quando viu algumas crianças usando o uniforme e se interessou para matricular o filho também. Ela se informou com a agente de saúde do bairro, que o engajou no projeto. “Eu matriculei o Paulo porque ele tinha muita vontade de participar de um esporte. Além disso, é uma modalidade que trabalha a concentração e a disciplina”, destacou.

Em relação ao “Judô com Amor”, a mãe de Paulo descreve que após ingressar no projeto, o filho obteve benefícios relacionados à saúde e principalmente, ao comportamento. “O Paulo Ricardo apresentou taxas de colesterol e triglicerídeos alteradas, pois não estava realizando atividades físicas. Após iniciar as aulas, ele passou a se exercitar com maior frequência, o que ajudou a reduzir as taxas de gordura e açúcar no sangue. Além disso, ele se tornou um menino mais calmo, menos agitado e menos estressado, pois ele aprendeu transferir tudo isso para o esporte. Ele também teve melhoras de interatividade, porque tinha muita dificuldade de se relacionar com as pessoas. Então eu notei que após ingressar no projeto, ele aprendeu a lidar com as críticas e aceitar a opinião dos outros, sem se zangar e sem brigar”, enfatizou.

Ideia principal do projeto é afastar as crianças do crime, das drogas e da violência

PARCERIAS

De acordo com o diretor comercial de uma das empresas mantenedoras, Rafael Lira, a iniciativa de desenvolver o projeto surgiu com o intuito de trabalhar com crianças que estejam associadas a zonas de risco, pois habitam em locais com alta incidência de tráfico de drogas e violência. “A expectativa é que os participantes vivenciem uma realidade diferente da perspectiva que o mundo oferece, promovendo saúde, interação social e o bem estar”, declarou.

A respeito dos aprendizados e valores que devem ser transmitidos aos participantes, Lira destaca aspectos como integridade, caráter, responsabilidade social, honestidade, respeito, amor ao próximo e cuidados com a saúde. “O nosso papel é colaborarmos como pessoas e também como empresa, pois sabemos que existem coisas que o Estado não consegue alcançar, por isso, acreditamos que fazendo a nossa parte já é um grande desafio. Não como forma de protesto, mas como um gesto de humanidade”, enfatizou o diretor.

Embora esteja em seu segundo ano de atuação, o diretor comercial acrescenta que o projeto será desenvolvido de forma contínua, pois não possui prazo para encerramento. O objetivo é futuramente direcionar os participantes para outras atividades, de modo a agregar valores e contribuir com a formação integral deles enquanto cidadãos. “Após atingirem a idade de 14 anos, temos a intenção de encaminhá-los para outras atividades que deem sequência ao aperfeiçoamento deles, não somente em relação ao esporte, mas que ofereçam outras oportunidades e acrescentem no aspecto profissional também”.

O pastor Neil Franco, representante da igreja colaboradora, descreveu que o papel da instituição evangélica é transmitir os valores cristãos aos participantes, a fim de promover a assistência espiritual dos alunos. “Antes do início das aulas, é realizado um momento de devocional durante 30 a 40 minutos para eles aprenderem princípios essenciais como respeito ao próximo, obediência e caráter”.

Acerca da aceitação do projeto pelos pais e/ou responsáveis dos alunos, o pastor enfatizou que eles consideraram uma oportunidade importante, pois as crianças residem em bairros periféricos e necessitam de atividades que auxiliem na educação, alimentação, desenvolvimento físico e espiritual. “Além do esporte, o projeto se estende às atividades da escola, com a preocupação de incentivá-los, pois o intuito não é formar campeões, mas verdadeiros cidadãos. Se surgir algum campeão, será uma conquista, mas o principal é formar pessoas com caráter e comprometimento”, afirmou.

Além disso, Franco acrescentou que a igreja desenvolve palestras para auxiliar no processo de formação e cidadania das crianças. São ministrados temas como bullying, drogas, violência, assédio sexual, entre outros. “Temos psicólogos e outros profissionais que contribuem com a abordagem desses assuntos, pois sabemos que os alunos estão expostos a todos esses problemas dentro da própria casa”, explicou o pastor.