“Eu descobri o quanto era gratificante, o quanto era bom e prazeroso estar em sala de aula”, afirma o africano Julio Rodrigues

“Eu descobri o quanto era gratificante estar em sala de aula”

Texto: Igor Aguiar

Foto: Acervo pessoal Julio Rodrigues

 As oportunidades e a vantagem de estudar em uma universidade federal sem custo algum foram as portas de entrada que o professor Julio Rodrigues enxergou como motivação para sair do seu país, Guiné-Bissau, e vir morar no Brasil. “Eu vi o Brasil como uma alternativa mais viável”, comenta Rodrigues. “Muitos brasileiros não valorizam o que têm. O Brasil é um dos poucos países onde você vai encontrar uma instituição de ensino superior de qualidade com cem por cento do estudo financiado pelo governo”, destaca o professor. Depois de analisar outros países onde poderia estudar, ele concluiu que o Brasil seria a melhor opção e começou seu curso de economia na Paraíba em 2004.

Julio Rodrigues confessa que não sabia da existência de Imperatriz e que fez a inscrição para o concurso da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (Uemasul), no ano de 2016, pensando que seria em São Luís. “Imperatriz nunca ouvi falar e comecei a pesquisar a distância e era 36 horas de viagem”, relembra o professor, contando de quando ainda morava em Recife. Depois de todo o processo demorado do concurso, mudou-se definitivamente para a cidade em 2018, trazendo os dois filhos e a esposa, Dilena Baldé Rodrigues, nossa personagem de outro perfil publicado neste site.

Ao mudar para o Brasil, afirma que não teve tanta dificuldade para se adaptar aos costumes. “Foi super tranquilo, ambos os países falam português e a cultura parecida, não foi difícil não”. Apesar da boa adaptação, ele destaca que o racismo é muito forte em qualquer parte do Brasil e lembra de um caso especifico que passou em Imperatriz: “Teve uma vez que saí da academia e vi uma roupa numa loja. Quando a dona da loja me viu pela porta de vidro, ela ficou assustada e não abriu. Ficou com medo, achando que era assaltante”.

Sobre a parte burocrática de instalação e permanência no país, ele reclama do processo de recebimento do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE) e diz que não é fácil conseguir a identidade por conta da demora da emissão. Afirma também que até mesmo nesse aspecto os africanos sofrem preconceito. “Quando você paga (o visto), eles te dão um protocolo pra você ficar aguardando a carteirinha, mas a carteirinha não chega. Mas se for, por exemplo, um norte-americano ou um europeu, chega em menos de dois meses. O próprio agente de polícia federal confidenciou isso pra gente. Não tem explicação”, relata.

Sua trajetória acadêmica inclui, além da graduação em economia feita na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), um mestrado em administração e desenvolvimento rural, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e um doutorado em estudo estratégico internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Acerca da profissão, Julio Rodrigues conta que descobriu a vocação no percurso acadêmico. Ele afirma que ama dar aulas e confessa que não tem preço a gratificação do ofício. “Eu descobri o quanto era gratificante, o quanto era bom e prazeroso estar em sala de aula”, declara.