Mulheres no ramo da eletricidade: machismo ainda existe na área

Texto: Andréia Liarte Barbosa

Mesmo em uma área dominada em sua maioria, por homens, as mulheres estão ganhando espaço no ramo da eletricidade.O serviço que os meninos fazem ali, eu também faço. Eu subo em cima de poste, eu subo em cima de casa, eu troco ramal, eu troco medidor, faço de tudo”, garante Raquel Silva, 35 anos, eletricista há um ano e quatro meses. Raquel conta que já recebeu viários comentários machistas. “O pessoal acha que por a gente ser menina tem menos capacidade do que os menino”. De acordo com a profissional, em seu tempo eram poucas as meninas que faziam o curso de eletricista e, além disso, muitas desistiram do ramo, tendo restado apenas ela.

Raquel relata as dificuldades que teve de enfrentar ao entrar na profissão. “De início, assim, não foi fácil, não. Porque eles não levavam fé em mim, não achavam que eu ia conta. Teve uns que me deram no máximo três meses. Teve muitos que tava até torcendo pra eu não conseguir. Mas teve outros que me apoiaram, que me incentivaram”, diferencia. Raquel não abaixou a cabeça, como alguns recomendaram, e continuou insistindo. “Hoje eu posso te dizer que eu tou ali por causa de incentivo, de apoio, além da minha força de vontade, entendeu? Mas teve muita gente que me apoiou também, apesar de ter sempre aquela minoria que te joga pra baixo”.

A eletricista comenta toda alegre sobre o apoio que recebe dos filhos e o orgulho que eles têm por ela. “Eu levei eles pra uma apresentação que teve lá do Dia das Mães. Levei eles pra conhecer a empresa, tiramo foto lá. Eles acharam muito importante, ‘esse é o emprego da minha mãe’, contaram para todo mundo na escola. Eles acham, assim, que a mãe deles é uma super heroína”. Por trabalhar em um setor que detecta desvio de energia nas casas de clientes que praticam esse crime, ela relata que já recebeu ameaças de morte de um deles. “Um delegado saiu atrás de mim com arma, me procurando”. Raquel conta que seus amigos a acham muito corajosa e a admiram muito, considerando que são poucas pessoas que têm essa coragem. “Eu vejo assim, que tem muitos homens que não bota fé. Tem parente meu que diz assim: é uma eletricista muita fraca, não sabe nem trocar uma tomada”. A profissional explica melhor a sua função, dizendo que é, na verdade, eletricista da rua. “A gente trabalha é nos poste. A gente só puxa ramal do poste pro medidor do cliente, aliás, medidor da empresa, e troca. Não tem acesso dentro da casa. Pra mexer com a parte da casa a gente fazer um curso de predial, e a gente não tem”.

Formação

A supervisora de equipes operacionais, Nathália Ribeiro Gomes de Carvalho, relata que na época em que fez o seletivo do antigo Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET), hoje Instituto Federal do Maranhão (IFMA), o curso de eletrotécnica era um dos que prometia uma das maiores chances de entrar no mercado de trabalho, até então muito aquecido nesse ramo. Das seis meninas da turma, uma acabou desistindo.

“Na verdade, é um curso que já era muito masculinizado na minha época. Por que é um curso que teoricamente você vai mexer com a área elétrica, que não tem muitas mulheres no mercado de trabalho. Na minha época só conseguiram concluir cinco meninas e a única que trabalha diretamente na área sou eu. As outras quatro, todas seguiram caminhos diferentes”. Nathália conta que as suas professoras eram de área de humanas e que só os professores eram engenheiros. “Então, desde o curso, todas as vezes que a gente participava de uma palestra que tinha uma engenheira eletricista para a gente era motivo de admiração, de orgulho, por saber que tem outras mulheres no mercado de trabalho”.

Nathália comanda vária equipes de eletricistas, a maioria homens. Acredita que por estar trabalhando na empresa em que trabalha há oito anos o relacionamento se tornou mais fácil, pois nesse tempo todo já conquistou o espaço.Mas eu acho que é importante, sim, mulheres estarem em cargos de liderança e principalmente mulheres negras. Pra mim tem um peso muito grande o fato de eu ser uma mulher de 27 anos e ainda ser negra. Eu sofri preconceito não só por ser mulher, mas também por ser negra em relação à essa minha postura no mercado de trabalho”, confessa Nathália.