Sonho imperatrizense: desejos dos estrangeiros que moram em Imperatriz

Texto e foto: Maria Eduarda

O Sonho Americano (American Dream) é um ethos nacional dos Estados Unidos enraizado em sua declaração de independência, com ideais de liberdade que incluem a chance para o sucesso e prosperidade para as famílias, que seriam alcançados a partir do trabalho duro em uma sociedade livre. O Brasil sempre foi visto pelos imigrantes como um país acolhedor e cheio de oportunidades. Apesar do antigo Estatuto do Estrangeiro vigente desde 1980, formulado durante a ditadura militar, que foi substituído em maio de 2017 pela nova Lei de Migração, ter enxergado o estrangeiro como uma “possível ameaça”.

Como no Sonho Americano, grande parte dos imigrantes que vem para Imperatriz está à procura de trabalho e uma qualidade de vida melhor. Ali Yanin, libanês, 43 anos, mais conhecido na cidade como “Tio Ali” nome de sua famosa esfirraria, conta como sua família chegou à cidade: “Meu pai chegou à cidade de Imperatriz em 1963. Ele veio atrás de trabalho porque lá no Líbano, por causa da guerra, não tinha muito”.

Os motivos que fazem os imigrantes saírem de seus países de origem em busca de uma vida melhor são diversos. Algumas pessoas vêm à procura de emprego, outras fogem da fome, de um regime totalitário ou da guerra. Como é o caso da Síria, onde o conflito civil já dura mais de quatro anos. Segundo os cálculos da ONU, mais de 7,5 milhões de sírios abandonaram o país e quase 60% de sua população vive na pobreza.

Erland Parada, boliviano, 45 anos, mora há 10 anos na cidade e relata como foram os seus primeiros anos residindo em Imperatriz. “Meus planos eram trabalhar na minha profissão ou montar um negócio, mas eles sofreram muitas mudanças. Não tínhamos com quem deixar meu filho, ele não falava português e era muito apegado à vó paterna. Na época, uma funcionária [contratada para cuidar da casa] roubou muitas coisas, só percebemos depois de um tempo. Foi muito difícil, porque nasceu meu segundo filho e o problema: em quem confiar? Minha profissão então ficou de lado”, desabafa Erland.

Assim que chegam ao município, os estrangeiros se deparam com uma cultura totalmente diferente da sua e, apesar de Imperatriz ser a segunda maior cidade do Maranhão, seu ritmo é considerado “calmo” por eles. Luiz Mei, 15 anos, estudante e filho de chineses, mora na cidade há quatro anos, e antes de vir para Imperatriz morou por um tempo no Rio de Janeiro. “Acho Imperatriz bem legal, aqui tem pouca violência. Antigamente eu morava no Rio e lá tinha muita”. Em 2017, o número de homicídios em Imperatriz caiu quase 40% segundo o relatório da Polícia Civil. No entanto, o número de mortes registrados nos primeiros três meses de 2018 é quase o dobro dos que foram calculados no ano anterior. Nos primeiro trimestre de 2017, foram 24 mortes violentas na cidade. Já em 2018, foram 41 homicídios. No Rio de Janeiro, com uma população imensamente maior, foram assassinadas 15 pessoas por dia somente nos dois primeiros meses do ano.

Um dos fatores que fazem Imperatriz ser um destino cada vez mais procurado por imigrantes é a sua localização privilegiada, “Imperatriz é muito bem localizada, ela fica num raio de 650 km de quatro capitais, Belém, Palmas, São Luís e Teresina.”, explica Tio Ali. Ele revela que pretende expandir seu negócio para essas capitais. Esse também é um dos atrativos para grandes empresas que enxergam o potencial logístico que essa localização oferece.

O clima da cidade, popularmente chamada de “infernatriz” por conta do calor típico da região Nordeste, também atrai os estrangeiros. “Gosto do rio Tocantins, e das praias”, confessa Tio Ali. Já para Luiz Mei, a escola é um dos lugares que ele mais aprecia frequentar na cidade. “Eu gosto de frequentar a escola, eu tenho muitos amigos lá”, disse Luiz, com um sorriso. As opções de lazer na cidade são muitas, shoppings, restaurantes, bares, clube aquático, praias, a Beira-Rio inaugurada há pouco tempo, entre outras. A diversão é garantida para todas as idades e para todos os gostos.

Quando foi pedido para que a filha de três anos do Tio Ali desenhasse um lugar de Imperatriz que ela mais gostava, ela sentiu um pouco dificuldade. Mas, com a ajuda de duas repórteres, ela registrou algumas figuras. A que mais chamou a atenção foi a do sol. Toda cidade tem problemas e obstáculos a serem superados para garantir a sua população um futuro melhor, e o desejo de todos que escolheram Imperatriz como seu lar é que o caminho do município permaneça sempre igual ao sol desenhado pelas mãos de uma criança: iluminado.