A saudade dos que não vieram: como estrangeiros administram a falta dos familiares

Texto: Yanna Duarte

Ao passar pelo centro comercial de Imperatriz, é comum ver pastelarias chinesas, esfirrarias libanesas e senegaleses vendendo tênis e roupas em barraquinhas montadas nas calçadas. Esses estrangeiros se instalam na cidade em busca de melhorias de vida – como oportunidades de emprego, moradia, refúgio de guerras e crises financeiras que rondam seus países. Outro ponto considerado é pela cultura e receptividade dos imperatrizenses. No entanto, em meio a muitas dificuldades enfrentadas, como a de uma nova língua e cultura, a saudade dos que eles deixaram para trás é constante, ou seja, a distância da família se torna difícil de administrar.

A saudade que ninguém conta

É o caso do senegalês Billie Boiam, de 23 anos, que depois de passar por estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, se instalou em Imperatriz na tentativa de trabalho e aumento da renda. No Senegal, ele trabalhava como motorista. Além da profissão, deixou esposa e filho em Dacar, sua cidade natal, e, hoje, mora no Brasil há três anos, um deles em Imperatriz.

Sentado em um banquinho de frente para a sua barraca, que tem opções de tênis e camisetas para a venda, ele conversa por meio de áudios no idioma Wolof (língua materna do país), sempre conectado com a família e amigos que deixou. Reginaldo Dantas, um senhor que também mantém uma barraca de lençóis e toalhas vizinha à de Billie, conta que o rapaz se sente sozinho e com muitas saudades de casa. “Deixei minha mulher e filhos lá. Mas eles não querem vir e eu também não tenho planos de trazer eles”, afirma Boiam, que entende pouco português e, por isso, não é de falar muito. Sempre simpático e com um brilho no olhar quando mencionava a respeito do Senegal, Billie reitera que pretende ir embora no final do ano, retornando ao seu país de origem e à sua família.

De acordo com um levantamento de pesquisadores do Observatório das Migrações em São Paulo, realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre os anos de 2000 a 2015 foi registrada a presença de 879.550 imigrantes internacionais no Brasil. Segundo dados da Polícia Federal, o número ativo de estrangeiros no Maranhão é de 28 mil, entre eles, portugueses, colombianos e chineses. No entanto, muitos ainda não estão com seus documentos regularizados para viver no estado, o que só aumenta esse dado.

Para o sírio Nidal Boutros, de 30 anos, a saudade envolve tudo. Começa pelo lugar em que nasceu e se criou, até a nostalgia da família e amigos, da cultura, da cama que dormia, do travesseiro, da comida, enfim, de tudo. “Mantenho contato com todos eles. Falo com minha mãe quase todos os dias por meio de ligação, uso vídeo chamada e mesmo assim não dá pra matar a saudade, não”, desabafa Nidal.

A distância que apaga a memória

 Na contramão desses sentimentos, o iraniano Kurosh Darakhshan, de 45 anos, admite que não sente muitas saudades de seu país, por ter saído de lá há muito tempo. “Não posso te ajudar muito como iraniano, porque saí de lá há 25 anos”, afirma.  Para ele, é mais fácil falar a partir da perspectiva de alguém que morou em São Paulo e no Rio Grande do Sul, por esse distanciamento de tantos anos. Mas, quando questionado a respeito da infância no Irã, suas memórias são vívidas e saudosas, descrevendo momentos que para ele foram marcantes.

Se aventurar em um novo país, em busca de melhorias de vida e oportunidades é uma luta que só quem é imigrante pode entender profundamente. Viver em lugares com guerras civis, economias desestabilizadas e a falta de emprego leva estrangeiros de todas as partes do mundo a tentar um recomeço no Brasil e em Imperatriz, pois veem nesses lugares o apoio de que precisam para se reerguer. Por isso, é sempre importante olhar para essas pessoas corajosas e entender suas dificuldade e saudades, diante do obstáculo de rever os que foram deixados para trás.