ELES PRECISAM CHORAR: repressão emocional pode provocar suicídios entre os homens

A POPULAÇÃO MASCULINA É A QUE MAIS COMETE SUICÍDIO, SÃO 9 MIL CASOS TODOS OS ANOS NO BRASIL

POR DANIELE SILVA LIMA, DANIELLE CAROLINA DOS SANTOS COSTA E LORENA LACERDA LIMA

Na maioria das vezes, eles escondem suas frustrações, não pedem ajuda, negam a dor e não querem aceitar fracassos. Esse é o cenário que pode levar os homens à depressão e ao suicídio. O cenário no Brasil é alarmante, pois o país ocupa o 8° lugar no ranking de países com mais casos de suicídios no mundo, chegando a ultrapassar 12 mil por ano. Desse total, 9 mil são do sexo masculino, de acordo com  Ministério da Saúde. Eles também são os que mais se matam numa faixa etária entre 15 e 29 anos.

O procedimento incorreto, quando há depressão e desejos suicidas, é mais frequente nos homens, visto que são os que menos procuram ajuda.  Esse resultado tem relação com a “honra masculina”, como frisa a psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Dayse da Silva Chaves.

“O homem morreu das palavras que não disse”, frisa a assistente social do Caps III, Ana Cristina de Assunção Oliveira ao comentar que o estereótipo de que o homem não chora é resultado da sociedade patriarcal. Nesse contexto, os homens  não podem expor sentimentos, como analisa a líder da Articulação Feminista de Imperatriz (AFIM), Conceição Amorim. “Há uma pressão muito grande dentro dessa sociedade, a qual diz que é responsabilidade do homem cuidar da família. Essas pressões acabam sendo mais violentas, eles terminam não suportando”, reflete.

Por conta dessa cultura machista que ainda persiste, por vezes, eles não são educados para pedir ajuda e sim para resolver todos os problemas sozinhos. Para desestruturar essa ideologia machista, que também atinge diretamente os homens, entra em cena o feminismo, que visa desconstruir esses estereótipos que foram naturalizados e que prejudicaram os homens,  segundo Conceição Amorim.

Para buscar uma melhor qualidade de vida, Gil* (nome fictício) evitou o pior, mas não foi fácil. Se tornou paciente do Caps, após ser diagnosticado com transtorno de ansiedade, quadro que, se não tratado, pode levar ao suicídio. Ele reconhece que teve vergonha de contar para família que tinha um problema de saúde mental e que estava se tratando. “Antes, eu via como lugar para doidos, mas agora eu entendi que não é doido que precisa de psicólogo. Todos nós precisamos ter esse atendimento. Conversar é algo que ajuda muito a pessoa”, ressalta.

O apoio familiar é importante para evitar o suicídio

 

LAÇOS SOCIAIS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que, no ano de 2016, um suicídio acontecia a cada 40 segundos.  Nesse mesmo ano, 290 casos foram registrados no Maranhão, conforme o Centro Operacional dos Direitos Humanos (Caops/DH). Em Imperatriz, segundo a enfermeira coordenadora das Doenças de Agravo Não Transmissíveis (DANT’S – DVS), Hélcia Gonçalves, há uma média de 28 suicídios por mês, ou seja, quase um por dia.

Para a cientista social Emilene Leite de Sousa, a sociedade tem um papel fundamental na prevenção do suicídio. “Nós estamos em sociedade, organizados a partir de teias de relações sociais recíprocas. Essas teias invisíveis estão por toda parte, são laços sociais. A razão do suicídio é se há um exagero ao apertar ou afrouxar esses laços, deve existir um equilíbrio”, afirma. Além disso, também aponta as instituições sociais, como a igreja, escola e a família, como as responsáveis em acolher os indivíduos em situações de desespero, tristeza e principalmente de exclusão, uma vez que tudo que fazemos é tentar nos integrar socialmente.

VÍDEO – SUICÍDIO HOMENS

DECEPÇÕES E TRAUMAS

Tristeza, perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas e sensação de incapacidade são alguns dos sinais de uma pessoa inserida em um quadro depressivo. A assistente social do Serviço Ambulatorial  do CAPS, Ana Cristina de Assunção Oliveira, analisa que a depressão é o resultado de decepções pessoais, questões de problemas financeiras, traumas ou transtornos mentais tratados indevidamente.

 

ONDE PEDIR AJUDA?

Em Imperatriz, o atendimento de saúde mental é realizado no Caps, este dividido em três unidades. Para ser atendido em algum desses centros é necessário um encaminhamento de qualquer profissional de saúde ou educação. Conheça as unidades em Imperatriz:

Os Centros de Atenção Psicossocial oferecem serviços de saúde de forma aberta e comunitária, de acordo com informações do Ministério da Saúde. Possuem equipe multidisciplinar, que priorizam atendimento a pessoas com sofrimento ou transtornos mentais. Essas unidades integram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), distribuída em todo o país.

*Nome fictício para preservar a identidade do entrevistado

** Reportagem realizada na disciplina Técnicas de Reportagem (2017.1). Vídeo e infográfico: Daniele Silva Lima.  Quadro:  Lorena Lacerda Lima e Danielle Carolina dos Santos Costa