Escola de Educação Bilíngue para surdos em Imperatriz incentiva inclusão na comunidade

Texto e foto: Sabrina Moraes

Apesar de a Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Prof. Telasco Pereira Filho, de Imperatriz, ensinar a linguagem das Libras, muitos profissionais consideram que a instituição é limitada para o público em geral e até mesmo para os chamados coda, que são os filhos de pais surdos. Mesmo com a disponibilização de cursos gratuitos, poucas pessoas participam, demonstrando a falta de interesse até mesmo pelos seus parentes que ali estudam. Esta é uma das principais questões destacadas pela professora do 2º período, Williet Ferreira de Melo Oliveira. Na cidade, apenas outras duas escolas estaduais, os centros de Ensino Governador Archer e Urbano Rocha, oferecem matérias específicas para surdos.

Professora adapta materiais e interage com um dos seus alunos, surdo e autista

A docente reforça que é dificultoso, de início, fazer com que a criança entenda que o mundo dela é um pouquinho diferente. A Escola Bilíngue, que funciona no bairro São José do Egito, oferece opções de música, judô, dança e teatro, informática e recreação no contraturno. Pela manhã, ocorrem as aulas normais e no período da tarde, atividades mais divertidas para os alunos.

Na própria instituição os estudantes merendam, banham, almoçam, voltando apenas no final da tarde para suas casas. Os materiais oferecidos nas salas de aula são em sua maioria adaptados pela orientadora para que se adequem aos seus alunos.

Métodos de ensino

Williet Ferreira conta que muitos de seus alunos são de municípios distantes, o que gera limitações. Ela explica que boa parte não são como as da cidade, que têm “um parque top”, entre outras coisas, por questão da pobreza. Ressalta que não é o caso de uma interferência, mas, como professora, diz  buscar sempre levar os estudantes para a experiências de vivência. Com isso, ela consegue trabalhar com o meio ambiente. Levar os estudantes até a ponte Felipe Gregory foi um dos trabalhos extra-sala. Williet diz  que ficou maravilhada com o resultado. Outro método de ensino são as brincadeiras como “Hora da história”. “Eu conto uma história, depois deixo eles finalizarem”, relata.

A escola também  promove um dia de lazer e aprendizado para estudantes e pais. A coordenadora propõe desafios entre as turmas, e cada uma ganha brindes, sendo estimulados a aprender os sinais. “Usamos uma ficha com ilustrações de objetos, frutas, lugar e vai aquela ficha com todos os desafios para os pais colarem lá no espaço onde eles acham que são os sinais corretos”, ressaltou a professora.

A professora Williet despertou o seu interesse aos 15 anos pela área da pedagogia. Ela relata que, por ter a necessidade de comprar suas próprias coisas, pediu para a escola onde estudava para trabalhar como auxiliar, que ela pudesse ajudar em algo. Com esses auxílios, a professora passou a gostar da área. A pedagoga relata que quando fez o vestibular, passou e concluiu que desejava trabalhar na área da inclusão.

Seu foco mudou quando ela foi observar a sala de inclusão e percebeu que, dentre os alunos, havia muitas pessoas com deficiência, cerca de oito estudantes e, dentre eles, cinco surdos. Foi então que ela se apaixonou pela Libras e mudou seu foco para as práticas pedagógicas para surdos.   Existem surdos que se orgulham de si, segundo a professora, mas também há outros que não têm tanta autoestima.

Há casos de a própria família não aceitar, o que faz com que o surdo se sinta na obrigação de satisfazer as suas vontades. Assim, se nega muitas vezes a aprender a Libras. “Diante da língua de sinais, é a própria família que muitas vezes não aceita, que tem vergonha dele sinalizar. E aí eles se fecham para a Libras”, reforça.

A professora também explica que alguns pais já jogaram essa responsabilidade sobre ela. “Meu filho está aqui, ele é surdo, mas eu não quero que você fique ensinando esse negócio aí de mímica, pra ele não. Eu quero que ele aprenda a falar”, exemplifica. Williet destaca que nessas horas precisa ter bastante sabedoria para responder, pois não é a função dela fazer a criança falar, mas, sim, de um fonoaudiólogo.

Dificuldades

Outro fato importante é que muitas pessoas não têm conhecimento sobre a escola e até chegaram a estabelecer contato com um surdo, porém não conseguiram se comunicar. É o caso de Guilherme Sousa, 19 anos, que trabalhava no comércio de Imperatriz. Ele explica que foi frustrante se deparar com essa situação, pois não sabia como ajudar aquele rapaz. Salienta ainda, que já teve vontade de aprender a língua, mas que na época não tinha conhecimento se havia na cidade algum curso ou escola que o ensinasse. “Eu trabalhava numa vendinha e aí chegou um rapaz que era surdo perguntando algo e eu, como não sabia a Libras, acabei que não consegui me comunicar com ele e suprir as necessidades dele”, relatou.

Caso semelhante também ocorreu com Euzilene Ferreira, 44 anos. Como é surda, conta que sempre teve dificuldades em se comunicar com as pessoas e até mesmo com a comunidade. O fato de ser a única com essa deficiência na sua família, dificultava ainda mais o seu cotidiano. Já na fase adulta, ela buscou aprender a ler e escrever e desenvolver uma Libras mais estruturada.

Houve várias situações que ela dependia de outras pessoas para resolver seus problemas do cotidiano, já que não havia intérpretes em determinados lugares. “Muitos da comunidade surda não possuem a alfabetização, não sabem o básico como ler e escrever. O que às vezes é bem importante pois quando não conseguimos nos comunicar com a Libras, utilizamos a escrita, que ajuda bastante ali no momento”, destacou Euzilene.

Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, desenvolvido com os estudantes do 1º semestre do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA). Eles e elas foram estimulados a procurar histórias no entorno onde vivem.