Escola da Vila Vitória tenta superar déficit educacional após auge da pandemia

Texto e fotos: Beatriz Ribeiro

Em meio a passos apressados e sons de risadas, as crianças terminam mais uma manhã de estudos na Escola Municipal Professor José Queiroz. Durante momentos animados como estes, os problemas deixados pela pandemia da Covid-19 ficam de lado por breves intervalos de tempo. Entretanto, mesmo que o cronograma escolar tenha voltado ao normal, os professores testemunham diariamente o déficit educacional deixado pelas aulas remotas.

Professores organizam estudantes para realizar o último momento cívico antes das férias

A escola fica localizada no bairro Vila Vitória, em Imperatriz, no Maranhão, uma comunidade afastada do centro, carente de infraestrutura e de saneamento básico.  Mesmo com todas as dificuldades do entorno, a instituição segue lutando para ajudar seus alunos. “Dificuldade de leitura, de escrita, de tudo. Parece que foram passados arrastados”, relata a professora Kátia Cilene Rodrigues Silva, de 52 anos, referindo-se à mudança dos ciclos.

Dificuldades da Pandemia  

No dia 26 de fevereiro de 2020 foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Logo em seguida, a fim de manter seus alunos e funcionários seguros, a escola aderiu ao lockdown, e prosseguiu com as aulas de forma remota. Os educadores fizeram o possível para que os estudantes não perdessem o ano letivo. “A gente colocou nos grupos de WhatsApp, usou carros de som chamando os pais, visitamos algumas famílias e começamos a organizar blocos de atividades, para os que não tinham acesso à internet”, explicou a diretora Aurecelia Silva dos Santos, 54 anos, em um tom apreensivo relembrando os momentos de dificuldade.

Além do esforço escolar, a comunidade teve que ajudar as crianças por conta própria. “Muitas famílias fizeram da sua sala, da sua casa, uma escola, uma sala de aula”, detalhou a gestora. Apesar da colaboração dos pais ser essencial, alguns responsáveis também não se envolveram nos estudos dos filhos. “Várias delas até chegaram a se mudar para lugares afastados por causa da Covid-19”, lamenta Auricelia Silva.

Dentre as inúmeras dificuldades, a escola também teve que se adaptar às novas tecnologias. “Houve um impacto muito grande. Os professores mais idosos não tinham essa facilidade, esse manejo com a internet e com o computador”, ressaltou Auricelia. Para contornar o problema, foi criada uma rede de apoio entre os funcionários e seus familiares, como expôs a educadora. “Eu tive ajuda do meu filho, do secretário da escola e dos professores”. Além disso, os docentes que trabalharam em casa tiveram que tirar do próprio bolso o dinheiro para a internet. Contudo, tomando todos os cuidados contra a Covid-19, a escola também disponibilizou rede Wi-fi e computadores nas dependências da instituição.

Ao mesmo tempo que as aulas remotas se mostravam um desafio, a escola também recebia um enorme presente: foi completamente reformada. “A nossa reforma foi toda na pandemia, então não mexeu com o aluno. Ele ficou vendo a movimentação, vendo a escola ficar linda”, exclamou a gestora com entusiasmo.

“Por que hoje nós temos uma escola perfeita. Salas climatizadas, sala de robótica, laboratório de ciências, tudo”, destaca Auricelia.

Quando a epidemia da Covid-19 diminuiu, no final de 2021, e a esperança foi voltando aos poucos, as aulas retornaram de forma híbrida. “O aluno que tinha conhecimento permanecia na plataforma e os demais vinham pra escola. Mas não funcionou muito bem não, por que todo mundo queria vir pra escola”. O estado do Maranhão só permitiu a volta às aulas 100% presencias, em 2022.

Em 2022, a instituição completa 26 anos de história

Retorno presencial

Ao retornar, os professores presenciaram o déficit educacional deixado pela pandemia. Eles relatam dificuldade de leitura, de escrita e de interpretação por parte dos estudantes. “Eu tenho aluno no oitavo ano que não era para estar no oitavo ano”, relata a professora Kátia Cilene, em tom de preocupação.

Os alunos também voltaram desanimados, o que dificulta o trabalho dos professores. “Parece que eles entraram 2022 com essa mesma perspectiva: não vou fazer nada, não vou fazer atividade, não vou fazer isso, não vou fazer aquilo, porque no final do ano vão me passar. Só que eu acho que o índice de reprovação seja até maior dessa vez”, explica a professora.

A Escola Municipal Professor José Queiroz passa hoje por uma transição cívico-militar. Esse projeto é uma proposta do governo federal que visa atender bairros carentes, com mais vulnerabilidade social, nos quais o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), é mais baixo. “Vai ter mais disciplina lá dentro. Porque, querendo ou não, a Vila Vitória é um bairro marginalizado. Então acredito que vai ajudar muito a comunidade”, comenta a moradora e ex-estudante Ramires Carvalho de Sousa Lima, de 19 anos, que agora observa as dificuldades da escola de longe.

Esta matéria faz parte do projeto “Meu canto também é notícia”, desenvolvido com os estudantes do 1º semestre do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz (MA). Eles e elas foram estimulados a procurar histórias no entorno onde vivem.