“Queríamos criar uma plataforma que valorizasse a cidade”, afirma Mario Alves, co-fundador do ExperimenteItz

Repórteres: João Gabriel Mendes e Marcelo Mattos

Fotos: Arquivo Pessoal

Mário Alves Clemilson da Silva de 33 anos e André Wallyson Ferreira de 30 anos são as duas mentes por trás de um dos maiores “instablogs” da cidade de Imperatriz. Ambos formados no curso de jornalismo decidiram usar sua experiência na área da comunicação para pôr em prática uma ideia inédita na cidade: criar um canal que levasse para quem está em casa a experiência de ir até um restaurante e vivenciar tudo que o estabelecimento tem para oferecer através da internet, sem sair de casa. Ou seja, uma rede social que indica pratos e espaços gastronômicos.

Apesar de inovadora, a ideia não surgiu do nada. De acordo com seus criadores, o Instagram “Experimenteitz” nasceu da necessidade de vivenciar experiências novas e levar essa vivência para os habitantes de Imperatriz. Para transformarem sua ideia em realidade, Mário e André se prepararam por seis meses antes de decidirem ir para o primeiro estabelecimento e fazer a primeira postagem do Instagram no dia 26 de novembro de 2016.

A preparação dos influenciadores digitais contou com um maior aprofundamento sobre o número de estabelecimentos de comida registrados em Imperatriz e com cursos online sobre gastronomia e fotografia. Atualmente a página com 1.085 postagens e quase 40 mil seguidores, sendo uma das maiores páginas de Instagram da cidade. A página oferece uma visão única da culinária rica e diversa de Imperatriz, com fotografias bem elaboradas e posts descontraídos e bem explicativos sobre cada prato provados por eles nos estabelecimentos que contratam seus serviços.

IMPERATRIZ NOTÍCIAS: Você se considera um crítico especializado?

MÁRIO ALVES: Algumas pessoas confundem isso. Eu e o André sempre deixamos claro desde o início que a plataforma se tratava mais de uma vivência jornalística, não somos formados na área de gastronomia e por isso não temos aquela propriedade intelectual necessária pra falarmos de comida de maneira crítica especializada. No entanto, é uma crítica baseada em nossos próprios fundamentos, baseado na nossa vivência.

 

IN: Como funciona o processo de pagamento e de divulgação e quanto isso interfere no seu trabalho?

MA: Nós temos o chamado “mídia kit” que seria uma espécie de apresentação do nosso projeto que contém informações, números e relatórios que o próprio Instagram oferece e, além disso, informações detalhadas do nosso trabalho e nossos valores. Por exemplo, determinado estabelecimento tem interesse em ter a sua marca ou o seu produto divulgado por nós, eles entram em contato conosco pelo direct do Instagram ou pelo número do Whatsapp e nós conversamos com eles. Caso eles estejam de acordo com nossa proposta é fechado um contrato, assinado por todo estabelecimento que tem interesse nos nossos serviços, no qual são estabelecidas de forma clara as cláusulas de tempo e de não exclusividade para que haja segurança pra ambas as partes. Após a assinatura do contrato, estabelecemos uma periodicidade na qual vamos ao local e então começamos a fazer o trabalho. Apesar do contrato, de nenhuma maneira o fato deles estarem nos pagando vai influenciar no resultado da nossa vivência e no produto final que passamos ao público.

 

IN: E já aconteceu de terem um contrato e não gostarem da comida?

” quando há algo que não está bom nós damos o feedback para o estabelecimento “

MA: Não, sempre conversamos direitinho, a gente sempre deixa tudo de uma maneira que fique bom para as duas partes, então nunca ninguém se negou a assinar. Hoje em dia é necessário que tudo seja formalizado por uma questão de segurança para os dois lados.

 

IN: Já aconteceu de vocês se negarem a divulgar determinado local por não terem gostado da comida?

MA: Nunca aconteceu, já aconteceu de chegarmos em um local que não chegou a nos pagar, estávamos experimentando a comida e a pessoa tinha interesse de apresentar a marca dela com a gente. E então, depois que comemos, demos um “toque” para o dono do estabelecimento, dissemos que naquele momento o prato não estava bom e também não estava de uma maneira apresentável, explicamos que estaríamos sendo antiéticos ao divulgar aquele prato e isso poderia acabar causando um marketing negativo pro estabelecimento, pois as pessoas iam perceber que o prato não estava legal. A partir daquele momento, passamos a prestar uma espécie de consultoria para a pessoa: “Que tal você experimentar esse ingrediente?” ou “Que tal você pensar em apresentar o prato desta maneira?”. Então, quando não há algo bom, damos sugestões para que o estabelecimento melhore o prato ou o atendimento.

 

IN: Em relação a essa consultoria, o estabelecimento seguiu os conselhos de vocês?

MA: Em muitos casos sim. É incrível porque desde o início quando tínhamos poucos seguidores sempre conversávamos no sentido de auxiliar, e o estabelecimento acatava tudo. Por exemplo, tiveram locais que por meio do nosso trabalho tiveram sucesso em vários quesitos e esse é um ponto bastante positivo do nosso projeto, poder auxiliar e ajudar novos estabelecimentos.

 

IN: Por que apenas o que vocês gostam é mostrado na página?

MA: A proposta do projeto é dar boas dicas de gastronomia da cidade, quando há algo que não está bom nós damos o feedback para o estabelecimento para que o prato ou o atendimento melhore e nós possamos voltar em uma próxima ocasião.

 

IN: Como funciona o processo de avaliação para saber se uma comida é boa ou não?

MA: A questão da comida boa é relativa. No entanto, a gente sabe que alguns pontos são importantes na alimentação. A higiene, a forma como o prato é apresentado, todos esses elementos acabam elevando o patamar da comida, por mais que ela tenha sido feita de maneira boa, de qualidade. A gente acredita que a culinária da cidade é muito rica.Imperatriz se destaca por oferecer muita diversidade, de sair dos pratos tradicionais. Então, hoje é possível encontrar culinária de diversos países aqui. Mas claro, pode haver falta de uma coisa ou outra. Então, com tanta diversidade  buscamos guiar nossa avaliação através desses pontos que destacamos e, que para outras pessoas acaba sendo um diferencial. Isso quer dizer que há aquilo que não gosto, mas que experimento, às vezes o André come algo que gosta e faz a avaliação, sempre uma avaliação conjunta, mas, por exemplo, pode haver pequi, algo que não gosto muito, mas vamos lá para saber a qualidade do produto e divulgá-lo, talvez não vá ser uma comida boa para mim por ser uma comida que eu não gosto de comer. Gostamos de ver a apresentação do prato, a higiene, a qualidade dos produtos, se os produtos são frescos (se é um fruto do mar), se está com boa qualidade. Então, tudo isso levamos em consideração em nossa avaliação.

 

IN: Vocês pensam contratar mais alguém para fazer parte do projeto?

MA: Uma das coisas que estabelecemos como regra era a produção de conteúdo, porque é isso que um influenciador digital faz, produzir conteúdo para as pessoas. Mas ao mesmo tempo, nós também queríamos levar entretenimento para o nosso público e usar isso como uma forma de que eles se tornassem fiéis a nossa marca e ao nosso projeto. Então, ao longo do tempo, criamos vários quadros, dentre eles há um em especial no qual damos a oportunidade aos seguidores para que eles tenham uma experiência igual a nossa. Surgiu há pouco tempo em Imperatriz uma praça de alimentação e teríamos de atender a vários estabelecimentos dentro deste mesmo local, pensamos então em chamar alguns dos nossos seguidores para nos ajudar. Os donos dos estabelecimentos toparam, então lançamos um desafio aos nossos seguidores, onde tivessem de dizer por que mereciam ser um de nossos estagiários. Com isso, recebemos vários comentários e motivos de pessoas que queriam participar do quadro. Elegemos três seguidores para nos acompanhar, onde viam de perto a rotina do nosso trabalho. Anotaram as informações dos estabelecimentos, dos pratos, nos acompanharam fazendo as fotos e viram o trabalho que dá para deixar a foto irresistível para o pessoal que segue nossa página. Foi uma experiência legal ter a ajuda dessas pessoas que acompanham nosso trabalho. Temos planos de chamar outros seguidores. O sucesso de nosso trabalho se deve muito ao que fazemos, mas muito mais as pessoas que compraram essa ideia, que acompanham, que curtem e comentam em nossos posts. Por termos nascido e crescido aqui, também estudado em uma instituição como a UFMA – onde aprendemos bastante -, e é o mínimo que devemos fazer, oferecendo esse serviço a cidade.

 

IN: Como você acredita que o ExperimenteItz contribui para a cidade?

MA:É uma plataforma muito especial para as pessoas, já são dois anos. Queríamos criar uma plataforma que valorizasse a cidade e que as pessoas tivessem prazer em acompanhar. Então se o projeto tem essa quantidade enorme de seguidores significa que a página é de alguma maneira positiva para a cidade. É um trabalho que exige muito da gente, mas que buscamos fazê-lo com imparcialidade. Ele promove a cidade de várias maneiras, com os pratos, mas também temos um espaço onde selecionamos as fotos dos seguidores da cidade de Imperatriz e compartilhamos elas em nossa página, mostrando o lado positivo da cidade. E para muitos, a página se tornou essencial. Já ouvimos muitas pessoas agradecendo pelo nosso trabalho. Houveram pessoas que antes de saírem para lanchar, verificavam nosso Instagram para saber onde comer. Há seguidores que vão em todos os locais que já fomos. É uma alegria muito grande. Há aqueles que moram em outros estados e até mesmo em outros países, que nos mandam mensagens agradecendo pelo nosso trabalho.

 

IN:Vocês acreditam que daria para viver só com o lucro gerado pela página?

MA: Sim. Mas hoje não concentramos nossa vida em torno da plataforma. Temos nossas famílias e nossos empregos. Eu por exemplo, tenho uma filha pequena. Porém, não pensamos em fazer da página o centro de nossa vida. E claro, vamos ter cuidado sempre para que não tome todo nosso tempo. Inclusive tem um dia na semana no qual não postamos, onde nos dedicamos as nossas famílias.

 

IN: Então vocês não planejam ampliar mais o trabalho?

MA: Temos planos de transformar, de agregar mais coisas ao projeto esse ano. Ano passado criamos um site para facilitar o acompanhamento e a forma de buscas dos alimentos. Mas sempre tendo como regra não tomar todo tempo de nossa vida. Temos uma relação de pai e filho com nosso projeto, tendo um espaço importante em nossa vida. Temos apenas dois anos, então há muita coisa para acontecer. Alguns planos já foram concretizados, outros a serem realizados. Há coisas em stand-by. Há coisas novas por vir.